segunda-feira , 23 dezembro , 2024

Artigo | ‘O Diário da Princesa’ como emblema das rom-coms adolescentes

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O gênero da comédia romântica é, grosso modo, atemporal. Desde que o cinema ganhou vida, incursões narrativas desse tipo povoaram o imaginário realizadores ao redor do mundo, ganhando expressividade no cenário contemporâneo – mais precisamente nos anos 1990. Afinal, como não nos lembrarmos de Julia Roberts no clássico Uma Linda Mulher, papel que a colocou no centro dos holofotes depois de uma elogiada performance em Flores de Aço?

A verdade é que as rom-coms, sendo elas para um público adulto ou para um mais jovem, sempre foram canais de alavancamento de carreiras, como também aconteceu com Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills ou Chris Pratt em ‘Noivas em Guerra’. E o mesmo aconteceria com a vencedora do Oscar Anne Hathaway, uma das mais conhecidas e aclamadas atrizes da atualidade, que fez sua estreia nas telonas com o memorável e divertido O Diário da Princesa, ainda em 2001.



São poucas as pessoas que nunca ouviram falar desse filme. Ambientado em São Francisco, a produção é baseada na saga de romances homônimos de Meg Cabot e conta a história de Mia Thermopolis (Hathaway), uma jovem estudante atrapalhada que é alvo constante de zombarias em sua escola – até descobrir que é herdeira do trono de um pequeno país chamado Genovia. Ela, então, passa por um intenso processo de transformação e de etiqueta supervisionado pela avó, a Rainha Clarisse (Julie Andrews), obrigada a decidir se ascenderá ao comando do reino que lhe pertence por direito, ou se irá resignar para continua uma “vida normal” ao lado da mãe e dos amigos.

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As rom-coms não costumam ser bem-vistas aos olhos de críticos mais tradicionais, principalmente pelo fato de não trazerem nada de novo à estética fílmica. Entretanto, é notável o caráter dialógico de tais produções com o público mais jovem, que se vê representado em personagens humanizados e falhos que encontram um modo de dar a volta por cima e não se restringem ao estigma clássico do “herói”. Em 2004, Lindsay Lohan imortalizou Cady Heron em Meninas Malvadas, transformando-se em um ícone cultural que atravessou as décadas; seis anos mais tarde, seria a vez de Emma Stone estrelar uma das melhores comédias adolescentes dos últimos anos, A Mentira, interpretando uma garota invisibilizada que se torna alvo de boatos e o centro das atenções até de seus inimigos.

Mia, nesse quesito, é construída com o melhor dos dois mundos e é símbolo das “transformações” do cinema – ou seja, em que um personagem com baixíssima autoestima se transmuta em um ícone fashion e de apreço externo. Criticada tanto pela antagonista Lana Thomas (Mandy Moore), uma líder de torcida egocêntrica e impiedosa quanto pela avó, Mia percebe que precisa mudar – e é auxiliada por uma “fada-madrinha” à la Cinderela(nesse caso, Paolo Puttanesca, interpretado por Larry Miller) para ganhar respeito por seus colegas e se apresentar como uma digna mulher da família real.

É claro que esse conceito, caracterizado como a “síndrome do patinho feio”, não é exclusivo de O Diário da Princesa e já apareceu em diversos títulos predecessores – incluindo Minha Bela Dama, estrelado por Audrey Hepburn. Entretanto, foi o filme dirigido por Garry Marshall que lançou luz sobre o tema e popularizou tais incursões com um sucesso e um apelo mercadológicos gigantescos (aliás, os próprios analistas ficaram surpresos com a arrecadação das bilheterias). Em outro aspecto, a própria Andrews abordou a conexão dos espectadores com a obra, dizendo que sua longevidade é devido aos temas analisados: “é sobre responsabilidade e obrigação e decência e amadurecimento e descobrir quem você é”, ela comentou ao D23.

O icônico makeover não é forçado, e sim parte da comédia física, em que Mia passa por extenuantes aulas de etiqueta para mergulhar no mundo da nobreza – sem perder a cativante personalidade. Hathaway e Andrews desfrutam de uma química inigualável, motivo que explica a constante glória do longa. Mas além disso, as duas atrizes personificam gerações totalmente diferentes que convergem para um divisor de águas espetacular: Hathaway mostrou ter um potencial gigantesco, pelo carisma, pelo timing cômico e por sua completa metamorfose em cena; Andrews, eternizada por ovacionadas performances em Mary Poppins e em ‘A Noviça Rebelde’, foi reintroduzida para a Gen-Z e “recuperou” seu status de lenda (não que o tivesse perdido, muito pelo contrário).

Desconstruindo o caráter maniqueísta de membros da realeza a que estávamos acostumados até então, O Diário da Princesa não apenas marcou época, como recupera todos os elementos nostálgicos do início do século sem envelhecer mal. É claro que alguns aspectos podem não ter o mesmo teor cômico de antes, mas revisitar a jornada de Mia e de Clarisse é sempre uma ótima ideia – e uma que não vai deixar de existir por longos e longos anos.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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O gênero da comédia romântica é, grosso modo, atemporal. Desde que o cinema ganhou vida, incursões narrativas desse tipo povoaram o imaginário realizadores ao redor do mundo, ganhando expressividade no cenário contemporâneo – mais precisamente nos anos 1990. Afinal, como não nos lembrarmos de Julia Roberts no clássico Uma Linda Mulher, papel que a colocou no centro dos holofotes depois de uma elogiada performance em Flores de Aço?

A verdade é que as rom-coms, sendo elas para um público adulto ou para um mais jovem, sempre foram canais de alavancamento de carreiras, como também aconteceu com Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills ou Chris Pratt em ‘Noivas em Guerra’. E o mesmo aconteceria com a vencedora do Oscar Anne Hathaway, uma das mais conhecidas e aclamadas atrizes da atualidade, que fez sua estreia nas telonas com o memorável e divertido O Diário da Princesa, ainda em 2001.

São poucas as pessoas que nunca ouviram falar desse filme. Ambientado em São Francisco, a produção é baseada na saga de romances homônimos de Meg Cabot e conta a história de Mia Thermopolis (Hathaway), uma jovem estudante atrapalhada que é alvo constante de zombarias em sua escola – até descobrir que é herdeira do trono de um pequeno país chamado Genovia. Ela, então, passa por um intenso processo de transformação e de etiqueta supervisionado pela avó, a Rainha Clarisse (Julie Andrews), obrigada a decidir se ascenderá ao comando do reino que lhe pertence por direito, ou se irá resignar para continua uma “vida normal” ao lado da mãe e dos amigos.

As rom-coms não costumam ser bem-vistas aos olhos de críticos mais tradicionais, principalmente pelo fato de não trazerem nada de novo à estética fílmica. Entretanto, é notável o caráter dialógico de tais produções com o público mais jovem, que se vê representado em personagens humanizados e falhos que encontram um modo de dar a volta por cima e não se restringem ao estigma clássico do “herói”. Em 2004, Lindsay Lohan imortalizou Cady Heron em Meninas Malvadas, transformando-se em um ícone cultural que atravessou as décadas; seis anos mais tarde, seria a vez de Emma Stone estrelar uma das melhores comédias adolescentes dos últimos anos, A Mentira, interpretando uma garota invisibilizada que se torna alvo de boatos e o centro das atenções até de seus inimigos.

Mia, nesse quesito, é construída com o melhor dos dois mundos e é símbolo das “transformações” do cinema – ou seja, em que um personagem com baixíssima autoestima se transmuta em um ícone fashion e de apreço externo. Criticada tanto pela antagonista Lana Thomas (Mandy Moore), uma líder de torcida egocêntrica e impiedosa quanto pela avó, Mia percebe que precisa mudar – e é auxiliada por uma “fada-madrinha” à la Cinderela(nesse caso, Paolo Puttanesca, interpretado por Larry Miller) para ganhar respeito por seus colegas e se apresentar como uma digna mulher da família real.

É claro que esse conceito, caracterizado como a “síndrome do patinho feio”, não é exclusivo de O Diário da Princesa e já apareceu em diversos títulos predecessores – incluindo Minha Bela Dama, estrelado por Audrey Hepburn. Entretanto, foi o filme dirigido por Garry Marshall que lançou luz sobre o tema e popularizou tais incursões com um sucesso e um apelo mercadológicos gigantescos (aliás, os próprios analistas ficaram surpresos com a arrecadação das bilheterias). Em outro aspecto, a própria Andrews abordou a conexão dos espectadores com a obra, dizendo que sua longevidade é devido aos temas analisados: “é sobre responsabilidade e obrigação e decência e amadurecimento e descobrir quem você é”, ela comentou ao D23.

O icônico makeover não é forçado, e sim parte da comédia física, em que Mia passa por extenuantes aulas de etiqueta para mergulhar no mundo da nobreza – sem perder a cativante personalidade. Hathaway e Andrews desfrutam de uma química inigualável, motivo que explica a constante glória do longa. Mas além disso, as duas atrizes personificam gerações totalmente diferentes que convergem para um divisor de águas espetacular: Hathaway mostrou ter um potencial gigantesco, pelo carisma, pelo timing cômico e por sua completa metamorfose em cena; Andrews, eternizada por ovacionadas performances em Mary Poppins e em ‘A Noviça Rebelde’, foi reintroduzida para a Gen-Z e “recuperou” seu status de lenda (não que o tivesse perdido, muito pelo contrário).

Desconstruindo o caráter maniqueísta de membros da realeza a que estávamos acostumados até então, O Diário da Princesa não apenas marcou época, como recupera todos os elementos nostálgicos do início do século sem envelhecer mal. É claro que alguns aspectos podem não ter o mesmo teor cômico de antes, mas revisitar a jornada de Mia e de Clarisse é sempre uma ótima ideia – e uma que não vai deixar de existir por longos e longos anos.

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