Mesmo com inúmeras inovações tecnológicas e científicas nos últimos séculos, o mundo ainda é movido pela superstição. Ora, não podemos ir muito longe para lembrar de algumas tradições que carregamos conosco em ocasiões ou momentos específicos – seja o fato de pularmos sete ondas do mar na virada para o Ano Novo, seja ao tomar grande cuidado para não quebrar um espelho e ter sete anos de azar.
Entretanto, um dos pináculos da superstição ocidental é a data conhecida como Sexta-Feira 13 – e, para ser bem honesto, a história de como esse dia veio a dominar o imaginário popular foi se perdendo ao longo de tempo e mantida através de um movimento mnemônico e hereditário.
Mas por que essa data é tão mística e assustadora?
Para começarmos, é necessário falar que a Sexta-Feira 13 é considerada um dia de má sorte dentro da cultura ocidental (no Japão, por exemplo, os números quatro e nove são vistos como símbolo de azar). É notável como, dentro do calendário Gregoriano, a data acontece no mínimo uma vez por ano, com ocorrências triplas em 2015, por exemplo, em que o dia 13 caiu nas sextas-feiras de fevereiro, março e novembro. Mas o motivo de toda a mitologia em cima dela não tem uma origem certeira, e sim especulações que, normalmente, estão associadas à fé e à espiritualidade.
No livro ‘Extraordinary Origins of Everyday Things’, o autor Charles Panati arquiteta uma linha cronológica que nos leva de volta à cultura nórdica. Em seus escritos, ele delineia o momento em Loki, o deus da trapaça, invadiu um banquete na sagrada Valhalla e tornou-se a 13ª divindade a fazer parte das festividades. Loki, inclusive, conseguiu enganar o deus cego Hodr e fazê-lo atirar no irmão, Balder, o deus da luz, da felicidade e da bondade, matando-o instantaneamente e “acabando” com toda a bonança representada pelo falecido.
Uma história alternativa, mergulhada nas culturas pagãs, associa o número 13 ao sagrado feminino, enquanto Friday (sexta-feira em inglês) deriva do Dia de Frigga, a poderosa deusa nórdica dos céus que é associada ao amor, ao casamento e à maternidade. Frigga fornecia proteção às casas e às famílias, além de ser responsável pela ordem social e ter a habilidade de tecer o destino das pessoas com suas nuvens. Entretanto, teorias apontam que Frigga foi demonizada pela Igreja Católica, que desejava converter os pagãos em cristãos para reiterar sua hegemonia na Europa medieval. Para garantir a conversão, os representantes da Igreja haviam se valido da história que Frigga, unindo-se ao próprio Diabo e a outras 11 bruxas (totalizando treze personagens), saía de seu lar toda sexta-feira para rogar pragas contra os homens.
Migrando para a Escandinávia, a superstição acerca da Sexta-Feira 13 se estabeleceu nas regiões mediterrâneas com a ascensão do Cristianismo. Afinal, o décimo terceiro discípulo de Jesus Cristo era ninguém menos que Judas Iscariotes, que o traiu e o entregou ao exército romano – culminando em sua derradeira crucificação na Sexta-Feira Santa.
Para além da representação de Judas, inúmeras histórias bíblicas também estão associadas à data em questão: sexta-feira teria sido supostamente o dia da semana em que Adão e Eva comeram do fruto proibido no Jardim do Éden, enquanto 13 foi o dia em que Caim matou seu irmão, Abel, em que o Templo de Salomão foi derrubado e o dia em que a grande arca de Noé partiu depois do dilúvio que devastou o planeta.
Mas as incursões não se restringem à mitologia católica: o autor Steve Roud, em sua obra ‘The Penguin Guide to the Superstitions of Britain and Ireland’, conta que a combinação da sexta-feira com o número treze é uma invenção da Inglaterra vitoriana (ou seja, surgida no século XIX). No livro, Roud discorre acerca da publicação da novela ‘Friday, the Thirteenth’, de Thomas W. Lawson, cuja narrativa é centrada em um corretor de imóveis inescrupuloso tomou vantagem das superstições em relação à data para deliberadamente quebrar a bolsa de valores.
As múltiplas possibilidades de origem acerca da data também são refletidas na cultura pop mundial, cujas produções serviram como estrutura para manter a superstição viva no imaginário das pessoas. Nos anos 1980, tivemos o início de uma das sagas slasher mais conhecidas de todos os tempos, ‘Sexta-Feira 13’, em que o assassino mascarado Jason Voorhees se lançou em uma matança desenfreada para se vingar; no começo dos anos 2000, o romance ‘O Código da Vinci’, de Dan Brown, emplacou uma errônea concepção de que o misticismo da data proveio da decisão do Rei Felipe IV, da França, em destituir o poder da Igreja Católica e ordenar a prisão de centenas de membros dos Cavaleiros Templários na sexta-feira, 13 de outubro de 1307.
A força da superstição, inclusive, serviu como base para certas fobias estudadas por especialistas. Temos, por exemplo, a triscaidecafobia, que discorre sobre o medo irracional do número treze, e a parascavedecatriafobia ou frigatriscaidecafobia, que é o medo específico da sexta-feira 13 em si, pela representação simbólica que permanece viva na cultura ocidental.
E você? Acredita nas superstições da Sexta-Feira 13?