Dizem que o artista completo é o que faz de tudo. Na era de ouro do cinema, isso certamente era muito verdade, já que atores e atrizes precisavam além de saber atuar, também dançar e cantar. Hoje, muitos ainda investem nestas capacidades, porém, elevando ainda mais o jogo ao expandir suas participações na frente das telas para trás delas. Assim, estrelas se tornam produtoras, roteiristas e até mesmo diretoras. Embora algumas tenham se enveredado pelo terreno em alguma experiência específica, outras fizeram da “segunda carreira” um exercício frequente ao ponto de serem igualmente reconhecidas por seus dotes no comando de uma produção.
Pensando nisso, resolvemos celebrar (já que toda homenagem é pouca) essas mulheres corajosas que elevaram ainda mais suas carreiras e o domínio de sua arte na frente das câmeras, ao passarem para trás delas – e vice versa. Vamos conhecer as atrizes que também são diretoras de cinema. Veja abaixo.
Angelina Jolie
Musa máxima do cinema e uma das estrelas mais bem pagas de Hollywood, Angelina Jolie começou sua carreira bem jovenzinha, em produções B do cinema – afinal é preciso começar de algum lugar. Querendo ser conhecida por seus próprios méritos ela sequer adotou o nome do pai famoso Jon Voight. A virada em sua carreira ocorreu em 2000, quando recebeu sua primeira indicação ao Oscar pela atuação em Garota, Interrompida e saiu vitoriosa na noite, levando a estatueta para casa. Daí Jolie foi construindo uma filmografia de prestígio, mesclando grandes produções com dramas celebrados, sendo nomeada inclusive para um segundo Oscar – por A Troca (2008), de Clint Eastwood.
O “pulo do gato” na troca de carreiras havia ocorrido no ano anterior quando dirigiu seu primeiro filme, o documentário pouquíssimo conhecido A Place in Time (2007). Alguns anos depois, ainda de forma tímida, viria a estreia no comando de um longa de ficção com o drama de guerra (um assunto pelo qual se interessa muito) Na Terra do Amor e Ódio, sobre um amor de “Romeu e Julieta” passado durante a Guerra da Bósnia, igualmente escrito por ela, e sem nomes conhecidos no elenco. A terceira incursão como diretora foi mais marcante e pode-se dizer, sua investida mais ambiciosa até o momento. Seguindo pelo tema da guerra, Jolie contou com roteiro dos irmãos Coen e um elenco de jovens talentos promissores encabeçados por Jack O’Connell e Domhnall Gleeson para narrar a incrível história de vida de Louis Zamperini, um medalhista olímpico, que sobreviveu no mar por 47 dias, e depois se tornou prisioneiro num campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra Mundial, no filme Invencível (2014). Resultado: três indicações ao Oscar – edição de som, mixagem de som e fotografia.
No mesmo ano de Invencível, ela dirigia seu primeiro vídeo clipe para a banda Coldplay, com Miracles. Mas a carreira da diretora Jolie não parou por aí. No ano seguinte, em 2015, colocava uma lupa sobre um casamento em crise, que muitos confundiram com o próprio casamento da atriz na vida real com o astro Brad Pitt – o qual andava mal das pernas. À Beira Mar (2015) é um drama sobre depressão e a tentativa de reconciliação, escrito e dirigido por Angelina Jolie, que marca também a primeira vez que a atriz se dirigiu nas telonas, com o então marido Brad Pitt como seu coprotagonista. O casal viria a se separar no ano seguinte. Isso que é catarse. Depois de exorcizar os fantasmas do relacionamento nas telas e fora dela, Jolie comandou seu último filme até o momento. Lançado dois anos depois, Primeiro Mataram Meu Pai (2017) novamente foca num conflito armado, no Camboja, e relata os horrores vividos pela ativista dos direitos humanos Loung Ung, baseado em seu próprio livro. Jolie adapta o roteiro ao lado da própria Ung. O filme foi exibido no Festival de Toronto e comprado pela Netflix.
Greta Gerwig
Ao contrário de Angelina Jolie, Greta Gerwig não é uma estrela do primeiro time de Hollywood, pelo contrário, é uma atriz saída do circuito de cinema alternativo / independente. Ela possui 40 créditos no currículo só como atriz, dentre os quais sobressaem as parcerias com o companheiro da vida real, o diretor indie Noah Baumbach, vide Frances Ha (2012), O Solteirão (2010) e Mistress America (2015). Nestes trabalhos, Gerwig atuou também como co-roteirista. Mesmo assim, a atriz já se aventurou por produções maiores e mais comerciais, como o remake de Arthur – O Milionário Sedutor (2011), da Warner.
A estreia como diretora não foi um voo solo, já que assinou o roteiro e dirigiu ao lado do colega Joe Swanberg no drama romântico Nights and Weekends, sobre um jovem casal enfrentando um relacionamento à distância. A dupla também estrelou o filme. Em seguida, porém, viria o divisor de águas na carreira de Greta Gerwig como diretora. Lady Bird – A Hora de Voar (2015), filme sobre as questões de uma jovem querendo sair de sua pequena cidade e ganhar o mundo, fez tanto sucesso nos festivais por onde passou, que chegou até a maior premiação do cinema, o Oscar – sendo indicado para nada menos que 5 prêmios, incluindo melhor filme, atrizes (Saoirse Ronan e Laurie Metcalf), roteiro e direção (ambos para Gerwig).
Com a bola cheia, era hora de ser ambiciosa – o próximo passo para todo realizador. Assim, no esquema de superprodução para a Sony/Columbia, a roupagem de Greta Gerwig para o clássico Adoráveis Mulheres (2019) contou com um orçamento de US$40 milhões e rendeu novas 6 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, atrizes (Ronan e Florence Pugh) e roteiro para Gerwig, além de sair vitorioso de melhor figurino. Continuando pelas obras comerciais, a diretora trabalha ao lado da Warner para o lançamento de Barbie, adaptação para o cinema da mais famosa boneca de todas, a ser protagonizado pela “Barbie” da vida real, Margot Robbie. O filme ainda não possui data de estreia definida.
Elizabeth Banks
Assim como a colega acima, Elizabeth Banks já trabalhou em diversas produções, mas nunca de fato rompeu a barreira do estrelato. São diversas participações em filmes conhecidos, num total de absurdas 92 atuações – muitas como coadjuvante -, mas como atriz, Banks ainda não se mostrou capaz de carregar um filme de sucesso apenas com seu nome acima do título. Dentre seus filmes mais famosos estão participações na trilogia Homem-Aranha, de Sam Raimi, no papel da secretária Betty Brant, e na franquia juvenil de sucesso Jogos Vorazes, no papel de Effie. Um de seus mais recentes trabalhos como atriz foi no terror Brightburn – O Filho das Trevas (2019).
Elizabeth Banks estreou como diretora ainda em 2010, no comando de alguns curtas-metragens. E assim seguiu para sua estreia oficial num longa, quando dividiu os créditos de direção na coletânea Para Maiores (2013), no qual comandou o segmento Middleschool Date. Infelizmente, Banks não estrearia com o pé direito, já que a comédia de humor negro Para Maiores se tornou um projeto maldito, e um dos maiores fracassos de crítica e público no cinema em anos recentes. No comando de um longa sozinha, a cineasta estreou com A Escolha Perfeita 2 (2015), continuação do sucesso de três anos antes, sobre um grupo de cantoras a capela, disputando torneiros em universidades. Sua investida mais ambiciosa, no entanto, viria com o reboot de As Panteras (2019), o qual participou também como atriz. O filme, porém, não fez o barulho almejado pela Sony. O próximo trabalho de Banks como diretora será The Greater Good, um filme feito para a TV, descrito como uma versão cômica do seriado Arquivo X.
Jodie Foster
Talvez a atriz mais prestigiada da lista, a veterana Jodie Foster é outra que começou sua carreira ainda bem novinha, durante a infância. Conhecida como atriz mirim que deu certo, Foster viu sua carreira mudar de ares, passando das comédias da Disney para projetos mais sérios, ao estrelar Taxi Driver (1976), de Martin Scorsese, aos 12 anos, e sair da experiência com uma indicação ao Oscar de melhor coadjuvante. Depois disso veio, não uma, mas duas vitórias como melhor atriz protagonista (uma das poucas artistas do mundo a possuir tal honraria) quase consecutivas. A primeira veio em 1989 por Os Acusados, no qual interpretou uma jovem estuprada que luta nos tribunais para punir seus violadores, num filme ainda muito atual. O segundo dispensa apresentações. Em O Silêncio dos Inocentes (1991), Foster deu vida à uma das maiores heroínas do cinema, a agente do FBI Clarice Starling. A atriz ainda possui mais uma indicação ao Oscar, por Nell (1994).
A primeira incursão de Foster como diretora ocorreu ainda na década de 1980, quando dirigiu o episódio Do Not Open this Box (1988), na série de Stephen King Galeria do Terror. Seu primeiro filme como cineasta viria no mesmo ano de seu segundo Oscar como atriz. Mentes que Brilham (1991) traz Foster como atriz e diretora na história de uma mãe descobrindo que seu pequeno filho é superdotado. Quatro anos depois, ela apresentaria uma família altamente disfuncional na comédia Feriados em Família (1995), com Holly Hunter e Robert Downey Jr. Com um hiato de quase 20 anos, Foster só voltaria à direção de um filme em 2011, comandando o colega problemático Mel Gibson (que já estava no olho do furacão) no drama Um Novo Despertar, no qual também atua. O filme fala sobre depressão e soa muito como a arte espelhando a vida real do astro.
Foster então migrou novamente para a TV, comandando episódios de séries de sucesso da Netflix como Orange is the New Black e House of Cards. Em 2016 entregaria seu último filme como diretora até então, o drama cômico Jogo do Dinheiro, reunindo no longa uma dupla de respeito: George Clooney e Julia Roberts. No ano seguinte, assumiria a direção de Arkangel, episódio da quarta temporada de Black Mirror, e este ano comandou o episódio Home, da série Contos do Loop.
Julie Delpy
Uma das atrizes francesas mais famosas do cinema, Julie Delpy encantou plateias com seu retrato da livre e questionadora Celine, na trilogia Antes do Amanhecer, de Richard Linklater, a qual protagonizou ao lado de Ethan Hawke através de mais de duas décadas. O segundo filme, Antes do Pôr do Sol, inclusive, contou com sua colaboração no roteiro, o que a rendeu sua primeira indicação ao Oscar. No encerramento da trilogia (até o momento), o raio caiu novamente, e a atriz, que igualmente colaborou no texto, recebeu uma segunda indicação ao Oscar pelo roteiro. Essas investidas sem dúvida a ajudaram a assumir a direção em projetos. A primeira foi logo no ano do primeiro filme da trilogia, em 1995, com um curta.
O primeiro longa como diretora veio em 2002, com Looking for Jimmy, sobre um francês vivendo em Los Angeles. Seu segundo longa, 2 Dias em Paris (2007), o qual igualmente roteirizou e estrelou, bebe diretamente na fonte de suas colaborações com Linklater e Hawke. Depois veio A Condessa (2009), novamente na trifeta (direção, roteiro e protagonismo), suspense de época sobre uma burguesa húngara que matava para se banhar no sangue de virgens. O Verão do Skylab (2011) é uma comédia passada em 1979 sobre uma grande família reunida numa casa de campo. 2 Dias em Nova York (2012), continuação de 2 Dias em Paris, troca o parceiro da protagonista, de Adam Goldberg para Chris Rock. Apesar do hiato entre Lolo: O Filho da Minha Namorada (2015) e My Zoe (2019), e da mudança de gênero (o primeiro sendo uma comédia e o segundo um drama), ambos apresentam Delpy como uma protagonista focada na maternidade. Em fase de pós-produção, a série On the Verge será a primeira incursão de Delpy como diretora nas telinhas.
Barbra Streisand
A maior veterana da lista, Barbra Streisand tem uma carreira no cinema que já dura mais de cinco décadas. Datando de seu primeiro filme como atriz, a biografia Funny Girl: A Garota Genial (1968), a atriz tem um total de 39 participações. Streisand tem um total de 5 indicações ao Oscar, incluindo as vitórias de melhor atriz por Funny Girl, e por melhor canção por Nasce uma Estrela (1976), sim a versão antiga (uma das) do filme da Lady Gaga. Sua última aparição nas telas de cinema foi como a mãe intrometida de Seth Rogen na comédia Minha Mãe é uma Viagem (2012).
Como diretora, Streisand tem no currículo curtas, especiais de TV, e três filmes: Yentl (1983), O Príncipe das Marés (1991) e O Espelho tem Duas Faces (1996), todos protagonizados por ela. Streisand já tem seu próximo projeto como diretora engatilhado, ainda sem título oficial, o longa é uma biografia romântica do relacionamento da fotógrafa e documentarista Margaret Bourke-White com o escritor Erskine Caldwell.
Olivia Wilde
O último item da lista é também uma das atrizes mais recentes a descobrirem sua vocação como diretora. Olivia Wilde é uma atriz que já trabalhou em grandes produções comerciais do cinema, como Tron – O Legado (2010) e Cowboys & Aliens (2011), porém, nenhuma que tenha se tornado um grande sucesso de crítica ou público. No mesmo ano de 2011, a atriz dirigia seu primeiro curta, e cinco anos depois comandava o vídeo clipe Dark Necessities da banda Red Hot Chilli Peppers.
Seu primeiro longa veio com o coming of age aclamado Fora de Série (2019). Os elogios à comédia chamada de “o Superbad feminino” já estão rendendo bons frutos para a diretora Olivia Wilde. Seu ativismo feminista é um fator presente em seu primeiro longa e que deve permear em seus projetos vindouros, como o terror passado na década de 1950 sobre donas de casa, Don’t Worry Darling, o qual ela igualmente protagoniza, ao lado de Florence Pugh. Seu prestígio seguiu para as superproduções de heróis, já que Wilde está em negociações para comandar um filme da Marvel/Sony, centrado… você acertou, numa personagem feminina. Apesar de ainda não ter sido confirmado oficialmente, provavelmente se trata da adaptação da heroína Mulher-Aranha para as telonas.