A conexão entre o cinema e a TV é forte, e data de muito tempo. Podemos dizer, desde os primórdios do conteúdo televisivo. Essa ligação audiovisual ocorre pelo mundo, incluindo aqui no Brasil. Isso explica, por exemplo, o sucesso dos filmes dos Trapalhões na década de 1980 – quando os longas do quarteto batiam produções Hollywoodianas nas bilheterias de nosso país. Eles eram o verdadeiro fenômeno de público. Saídos, é claro, de seu próprio programa de TV, em especial o mais famoso deles na rede Globo. O mesmo se aplica à rainha dos baixinhos, Xuxa, outra personalidade que emplacou nas telonas, depois do sucesso nas telinhas.
Mas não foram apenas Os Trapalhões e a Xuxa que emplacaram nos cinemas após o sucesso na TV. Personalidades como Sérgio Mallandro, Faustão, Angélica, entre outros, também obtiveram a cereja do bolo de suas carreiras nas telonas. Aqui, nessa nova matéria, iremos listar algumas séries e programas de TV que migraram das telinhas para as telonas. Relembre as séries brasileiras que ganharam filmes para o cinema.
Os Normais (2003)
Um dos programas de maior sucesso da TV brasileira na década de 2000, ‘Os Normais’ foi criado e escrito pela saudosa Fernanda Young, uma das vozes mais originais de nossa dramaturgia. A proposta era falar de forma “nua e crua” sobre o relacionamento de um casal (Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães), abordando questões modernas para a época. A série durou três temporadas, de 2000 a 2003. No mesmo ano do término do programa, foi lançado o primeiro longa-metragem para o cinema. Seis anos depois, ganhávamos também uma sequência do filme, com ‘Os Normais 2 – A Noite Mais Maluca de Todas’.
A Grande Família (2007)
Aqui temos um caso curioso. Acontece que, embora a grande maioria conheça ‘A Grande Família’ em sua versão de 2001 – com Marco Nanini, Marieta Severo e Pedro Cardoso (imortalizado como Agostinho Carrara) -, o programa na verdade se trata de um remake de uma série brasileira da década de 1970, que trazia nomes como Jorge Dória, Eloísa Mafalda e Osmar Prado no elenco, e que marcou toda uma geração (seus pais ou avós certamente falam dela ainda hoje). É inegável também, por mais sucesso que a original tenha feito, a reimaginação a superou em todos os sentidos, ainda mais na popularidade. A prova disso foram as 14 temporadas que durou. Enquanto o programa ainda estava no ar, tivemos um filme para fazer companhia, que foi lançado nos cinemas em 2007.
A Taça do Mundo é Nossa (2003)
Com esse título enaltecendo a paixão nacional, o futebol, a trupe do Casseta & Planeta estreava seu primeiro filme nas telonas em 2003. O ‘Casseta & Planeta’ começou nas páginas de revistas e tabloides ainda em 1986. Em 1992, o grupo de humoristas ganhava seu primeiro programa na TV. Dono de um humor escrachado e incorreto, o programa casou bem com a época e foi um enorme sucesso. Formado por esquetes, ‘Casseta & Planeta Urgente’ durou até 2012. O primeiro filme, ao contrário, teve um enredo passado na década de 1970, no qual um grupo de delinquentes tenta roubar a taça Jules Rimet. O grupo ainda estrelaria ‘Seus Problemas Acabaram’ (2006) e ‘As Aventuras de Agamenon – O Repórter’ (2012).
Sai de Baixo (2019)
Não dá para entender como algumas coisas demoram tanto a acontecer. Esse foi o caso com a versão para o cinema de um dos programas mais populares da TV brasileira. ‘Sai de Baixo’ reinou nas noites de domingo, em meados dos anos 90. A família disfuncional do bairro do Arouche, em São Paulo, encabeçado pelo rouba cenas Miguel Falabella como Caco Antibes (ao lado de Agostinho Carrara, os dois mau-caráter mais carismáticos e engraçados do Brasil). ‘Sai de Baixo’ ficou no ar de 1996 a 2013, mas no cinema, o filme só rolou quanto o hype já havia passado há muito tempo, em 2019.
Vai que Cola (2015)
‘Casseta & Planeta’, ‘Sai de Baixo’, ‘Os Normais’ e ‘A Grande Família’ são séries icônicas da TV brasileira, e serão para sempre lembrados como algumas das melhores de nossa dramaturgia de todos os tempos. Mas isso não significa que nosso país não siga criando programas populares muito queridos. Um que segue se reinventando e ainda está no ar depois de 10 temporadas é ‘Vai que Cola’. A estreia da série foi em 2013, e dois anos depois, o programa ganhava um filme para chamar de seu, igualmente estrelado pelo saudoso Paulo Gustavo no papel de Valdomiro, um golpista que precisa se refugiar em uma pensão no Méier, no Rio de Janeiro. Apesar do sucesso, uma sequência do filme só seria lançada em 2019, na forma de ume prequel, uma história passada antes inclusive da série, que mostra como tudo começou.
Tô de Graça (2024)
Outro programa que fez e ainda faz muito sucesso na TV a cabo é ‘Tô de Graça’, estrelado por Rodrigo Sant’Anna no papel da humilde e desbocada Maria da Graça. A série estreou em 2017, e durou seis temporadas até 2022. É claro que o sucesso merecia uma adaptação cinematográfica, que estreou nas telonas este ano, em junho.
Os Caras de Pau (2014)
Um dos maiores humoristas do Brasil, o astro Leandro Hassum começou a fazer sucesso na comédia quase infantil ‘Os Caras de Pau’, que era exibido na TV Globo nos domingos pela tardinha. O programa estreou em 2010 e durou até 2013. Hassum fazia par com Marcius Melhem, como uma espécie de ‘Gordo e Magro’ modernos e tupiniquins. Hassum deslanchou no cinema em filmes próprios, mas fez questão de estrelar ao lado do amigo uma versão de ‘Os Caras de Pau’ para as telonas, que estreou em 2014.
Os Suburbanos (2022)
Rodrigo Sant’Anna é um dos novos reis do humor brasileiro. Além de ‘Tô de Graça’, o comediante emplacou também em outra série do canal Multishow da TV a cabo: ‘Os Suburbanos’, programa que estreou em 2015, e tem seis temporadas, com 150 episódios. A ideia, baseada em uma peça de autoria de Sant’Anna (de 2005), é retratar a vida dos subúrbios do Rio de Janeiro, tendo como protagonista Jefinho do Pagode, um aspirante a cantor da música popular brasileira. A versão para o cinema estreou em 2022. O curioso é que Sant’Anna já havia feito um filme de título e premissa similar, com ‘Um Suburbano Sortudo’, de 2016.
Novelas
Tieta do Agreste (1996)
‘Tieta’ é a segunda novela mais vista na história da rede Globo. Exibida originalmente em 1989, o folhetim irá ser reprisada novamente em breve (enquanto não ganha o tão esperado reboot). Baseada na obra de Jorge Amado, a ideia foi levada para o cinema, com o título original do livro ‘Tieta do Agreste’, em 1996, onde Tieta era vivida por Sônia Braga (substituindo Betty Faria).
O Bem-Amado (2010)
Novela clássica de 1973, sobre um político corrupto, mas carismático, de uma pequena cidade do interior, baseada na peça de Dias Gomes, que também escreveu o texto da novela. A versão para o cinema estreou em 2010, trazendo Marco Nanini como Odorico Paraguaçu, o saudoso José Wilker como Zeca Diabo, e Matheus Nachtergaele como Dirceu Borboleta. Dirigido por Guel Arraes, o longa tentou repetir o clima e o sucesso de ‘O Auto da Compadecida’ e ‘Lisbela e o Prisioneiro’.
Giovanni Improtta (2013)
Uma outra tendência na década passada no cinema nacional era spin-offs de personagens que se destacavam em novelas – ao invés de versão para o cinema das próprias novelas. Por exemplo, ao invés de uma adaptação para o cinema da popular ‘Senhora do Destino’ (já pensou ver a vilã Nazaré Tedesco nas telonas, chamando a protagonista Maria do Carmo de “anta nordestina”?), a opção foi levar apenas um de seus personagens mais divertidos e carismáticos, o ex-bicheiro Giovanni Improtta, vivido pelo saudoso José Wilker, sozinho para o cinema, em um filme próprio.
Crô (2013)
O mesmo ocorreu com ‘Crô – O Filme’. Assim como Giovanni Improtta, Crô (papel de Marcelo Serrado) era um personagem secundário da novela ‘Fina Estampa’ (outra novela do horário nobre da rede Globo, as 21horas). O curioso é que Crô era o aliado da vilã da novela, Tereza Cristina, papel de Christiane Torloni – uma espécie de secretário / mordomo. Logo no ano seguinte após o término da novela, Crô ganharia seu próprio filme. Mas não apenas isso. O sucesso foi tanto que cinco anos depois seria lançado a sequência ‘Crô em Família’.