quarta-feira , 25 dezembro , 2024

As Previsões do Oscar 2021 – Nas Principais Categorias

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Falta um pouco menos de 10 dias para a cerimônia do Oscar 2021. Com parte dos filmes disponíveis nas plataformas de streaming mais famosas, vide Netflix e Amazon, e outros já disponíveis para serem assistidos em vídeo on demand (onde se paga individualmente pelo filme), os cinéfilos já possuem acesso a alguns dos indicados da premiação deste ano. Mesmo assim, quatro dos oito filmes indicados na categoria principal ainda não estão ao acesso de todos nesta época de pandemia – e cinemas meio fechados, meio abertos.

Judas e Messias Negro e Nomadland estão em cartaz nos poucos cinemas abertos pelo país, em horários restritos. Meu Pai também se encontra em situação similar, porém, pode ser encontrado em plataformas para ser assistido em casa em VOD. Minari é prometido para estrear antes da cerimônia, e esperamos que o mesmo ocorra com Bela Vingança. Seja como for, para os que não querem se aventurar fora de casa, a lista terá que permanecer incompleta.



O Oscar, como são conhecidos os prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nos EUA, é a maior festa do cinema mundial. Esse ano, no entanto, devido à pandemia do Coronavírus, o evento ocorrerá de forma inédita, e como afirmam os organizadores: tentará acontecer da forma mais presencial possível. Para tal, além do Teatro Dolby em Los Angeles onde é sediada a cerimônia, outras três localidades serão utilizadas: uma outra em Los Angeles mesmo e outras duas na Europa (Reino Unido e Paris) para facilitar os indicados que não puderam viajar em meio às restrições. É claro que desta forma teremos muita coisa virtual também.

Para ir aquecendo os motores, trazemos aqui nossa matéria anual tentando traçar um panorama dos indicados, além de dar nosso pitaco na previsão dos possíveis vencedores. Confira abaixo.

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Melhor Filme

Entre os oito indicados a melhor filme temos dois que são pura representatividade racial. Judas e o Messias Negro é puro fervor, e dá voz à comunidade negra. Já Minari, é calmo e poético, abordando a cultura asiática nos EUA (em meio à uma época delicada de muito preconceito). Ambos são mais que dignos em suas causas. Na frente, porém, todos os especialistas só falam do contemplativo Nomadland, que por si só resume muito do que estamos passando atualmente no mundo, e transcende sua própria obra com seus bastidores. A história sobre uma mulher que perdeu tudo durante a recessão decidindo percorrer as estradas americanas como nômade é quase documental, usa como personagens famílias nômades reais, elimina fronteiras e cria a sensação que muitos de nós estamos passando: a de estarmos perdidos em meio a tudo, tentando nos encontrar.

O filme traz uma mulher forte à frente de sua trama, a veterana Frances McDormand, que pode levar seu terceiro Oscar como protagonista – batendo assim a toda poderosa Meryl Streep (que possui duas como atriz protagonista e uma como coadjuvante). Além disso, McDormand conquista um recorde nessa edição: é a primeira atriz indicada também como produtora do filme no qual atua. Mas Nomadland não para por aí, traz a sexta mulher indicada ao Oscar na categoria de direção (ou seria a sétima, já que este ano entraram logo duas) e a primeira asiática na categoria. Com todos esses atrativos, fica difícil a Academia não prestigiar.

O obstáculo à frente de Nomadland é Os 7 de Chicago, produção da Netflix dirigida por Aaron Sorkin (Oscar de roteiro por A Rede Social). Acontece que um dos maiores termômetros para o Oscar, segundo muitos especialistas, são os prêmios dos Sindicatos. O SAG, sindicado dos atores, premiou Os 7 de Chicago como melhor elenco, o que no passado significaria reflexo nos prêmios da Academia. Porém, nos últimos 26 anos, as duas premiações só se espelharam 12 vezes – com os últimos sendo Parasita (2019), Spotlight (2015), Birdman (2014), Argo (2012) e O Discurso do Rei (2010). Fora isso, alguns filmes inclusive já receberam o Oscar principal sem sequer serem indicados ao SAG, como é o caso com Green Book (2018) e A Forma da Água (2017). E é aí que se encaixariam Nomadland e Bela Vingança (o filme girlpower da edição), já que ambos não receberam nomeações no SAG.

Esnobados: Dentre os esnobados para melhor filme (com duas vagas deixadas em branco) estão Uma Noite em Miami (estreia de Regina King na direção), A Voz Suprema do Blues (indicado para ator e atriz principais), The Mauritanian (sobre uma injustiça cometida contra um muçulmano, preso por anos nos EUA) e First Cow (drama meio faroeste elogiadíssimo pela imprensa).

Diretor(a)

Essa é batata! Pela primeira vez nos prêmios da Academia duas mulheres foram indicadas para melhor direção. Na história do Oscar, até esta edição, apenas cinco mulheres no total haviam sido lembradas para o prêmio nesta categoria. Um absurdo! E somente Kathryn Bigelow saiu vitoriosa por Guerra ao Terror (2009). Após a indicação de Greta Gerwig em 2018 por Lady Bird (a última até então), os membros decidiram se redimir e ouvir o clamor público dos novos tempos nomeando duas cineastas no mesmo ano. Assim, é muito provável que uma delas saia com a estatueta para casa. Afinal, eles não cometeriam tamanha patacoada de indicar duas mulheres e não dar o prêmio para uma delas.

A britânica Emerald Fennell também é atriz e fez seu debute atrás das câmeras como diretora em Bela Vingança, longa de humor ácido sobre uma jovem mulher traumatizada por eventos de abuso masculino em seu passado, que decide se vingar de todo e qualquer machismo e masculinidade tóxica em seu caminho. O filme dialoga muito com nossos tempos, e Fennell marca um golaço com seu trabalho.

David Fincher é um dos grandes da Hollywood atual, e um de meus cineastas preferidos, mas representa tradição neste Oscar, com um trabalho feito nos moldes da antiga Hollywood. Thomas Vinterberg conseguiu o raro feito de ser indicado para direção com um filme estrangeiro, e Lee Isaac Chung, descendente de coreanos, é o próprio estrangeiro da categoria. Chegando para reafirmar a aceitação asiática. Mas não é o único.

A grande favorita na categoria é mesmo Chloé Zhao, chinesa que vem dando o que falar em todas as rodas de críticos, especialistas e cinéfilos. Ela quebra o recorde de ser a primeira asiática indicada na categoria de direção no Oscar, e pode vir a se tornar a segunda mulher da história a receber o prêmio. Zhao tem outras três indicações no Oscar 2021: melhor roteiro, edição e produção, todas para Nomadland. Zhao já se tornou uma superstar e tem engatilhado ainda para este ano a superprodução da Marvel Os Eternos, estrelado por Angelina Jolie, a ser lançado em novembro.

Atriz e Ator Principais

Uma das categorias mais truncadas do Oscar 2021 é a de atriz. A britânica Vanessa Kirby chegou com favoritismo logo quando Pieces of a Woman foi exibido em Festivais como Veneza e Toronto. Mas hoje, sua vitória foi mesmo a indicação, já que é jovem e tem uma longa carreira pela frente. Mas tudo pode acontecer. Carey Mulligan é outra jovem britânica no páreo, enaltecida como uma das melhores intérpretes de sua geração, ela só havia sido indicada uma única outra vez, em 2010 por Educação. Em Bela Vingança ela tem a performance com trejeitos mais pop da edição, apesar de um teor bastante sério.

Dentre as novatas, destaca-se a cantora Andra Day, nome artístico de Cassandra Batie, em sua estreia como protagonista no cinema na biografia The United States vs Billie Holiday, produção original do streaming Hulu. A atriz gerou grande hype no início da temporada de prêmios e pode sair da noite do dia 25 com uma estatueta de melhor atriz debaixo do braço. No entanto, duas veteranas fazem frente à sua vitória.

Viola Davis já tem um Oscar, mas na categoria coadjuvante por Um Limite Entre Nós (2017). Em A Voz Suprema do Blues ela também vive uma cantora negra muito relevante para a cultura norte-americana, talvez uma das mais importantes. Ma Rainey é tida como a “mãe do blues”, a primeira cantora negra a fazer fama – porém, hoje seu nome não tem o valor que merece, apagado com o tempo. O filme trata de pôr luz nessa figura de extrema importância. Por fim, Frances McDormand já tem dois Oscar de melhor atriz e isso talvez pese em sua terceira vitória, mesmo sendo mais que merecida. Apesar disso, ela é a mais cotada pelos especialistas.

Já na categoria masculina as coisas estão mais simples e resumidas. As indicações de Riz Ahmed (O Som do Silêncio), descendente de paquistaneses, e Steven Yeun (Minari), ator sul coreano, ambos jovens em suas primeiras nomeações, são mais que bem-vindas. E são seus maiores prêmios. Gary Oldman é um veterano incansável que, entre uma bomba e outra (quem nunca), não para de surpreender e ousar. Ele já tem seu Oscar (tardio) por O Destino de uma Nação (2018), e seu trabalho em Mank é impecável.

Porém, em qualquer outra edição do Oscar, o prêmio iria automaticamente para o lendário Sir Anthony Hopkins, no auge de seus gloriosos 83 anos, por sua performance hipnótica em Meu Pai, drama sobre um idoso precisando lidar com a devastadora realidade da demência senil. O que Hopkins faz aqui é inenarrável, de partir o coração dos mais duros bárbaros. É atuação em sua forma mais pura. Ele exala exuberância e coragem em sua entrega. No entanto, esta não é uma edição normal do Oscar. Porque aqui lidamos com a nomeação póstuma de um dos jovens astros mais culturalmente significativos dos últimos anos. Chadwick Boseman entrou para os anais da cultura popular e da história ao desempenhar o papel protagonista do primeiro super-heróis negro em grande escala do cinema: Pantera Negra, da Marvel. O filme de 2018 quebrou recordes e paradigmas, por ser a primeira superprodução do tipo a enaltecer a cultura negra/africana, realizado com elenco predominantemente de atores negros. Foi muito mais que um filme, verdadeiramente um evento social.

No Oscar desse ano, Chadwick foi lembrado por sua última performance, já que o jovem ator de 43 anos faleceu de forma mais que precoce ano passado, vítima do câncer. Boseman vive um trompetista ambicioso e dono de muita revolta em seu interior, causado pelo racismo inerente na cultura norte-americana, em A Voz Suprema do Blues – além de entregar um dos duelos performáticos mais arrepiantes dos últimos anos indo mano a mano com a gigante Viola Davis. Essa é a última chance da Academia prestigiar este jovem talento mais que merecido.

Atrizes e Atores Coadjuvantes

Começando pelas atrizes, será que este ano veremos a justiçar se finalmente feita para uma das maiores intérpretes ainda vivas que o cinema possui? Já virou até piada, e se os mais novos brincavam com o fato do jovem Leonardo DiCaprio sempre ser indicado e nunca vencer (isto é, até 2016), e chamam Amy Adams de o DiCaprio de saias, o que podemos dizer de Glenn Close? A atriz com nada menos que 45 anos de carreira, tem absurdas 8 indicações ao Oscar sem vitórias, datando de 1983. Este ano, ela entrega mais uma performance poderosa em Era uma Vez um Sonho, de Ron Howard. O problema é que sua atuação é uma das únicas boas coisas do longa, e o desempenho, digamos, medíocre do filme pode afetar sua vitória.

Creio que as jovens Amanda Seyfried (Mank) e Maria Bakalova (Borat 2) façam apenas figuração na noite – o que não deixa de ser uma baita vitória para suas carreiras. Olivia Colman entrega outra performance arrebatadora em Meu Pai, porém, venceu o prêmio há dois anos. Pode acontecer de puxar o tapete de Close, mais provável no entanto, segundo as apostas dos especialistas, é que quem leve o prêmio seja a sul coreana Yuh-Jung Youn, que interpreta a matriarca da família em Minari. Ela é ao mesmo tempo a azarona da categoria e a favorita.

Você sente os ventos da mudança? Na categoria de atores coadjuvantes, temos três atores negros indicados. É para aplaudir. Mesmo que, curiosamente, ambos Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield tenham sido indicados como coadjuvantes pelo filme Judas e o Messias Negro. Ei, alguém precisa ser o protagonista desta história, certo? A manobra, no entanto, a mesma utilizada em anos recentes com Dev Patel em Lion (2017), não é novidade. Protagonistas passam para coadjuvante em nomeações, a fim de obterem mais chances dentre as concorridas vagas. Leslie Odom Jr., que vive o cantor Sam Cooke em Uma Noite em Miami (dirigido pela atriz Regina King), é o terceiro negro a ocupar a vaga. Na categoria ainda temos Sacha Baron Cohen não por Borat, mas por Os 7 de Chicago.

Segundo as apostas de especialistas, o veterano Paul Raci é quem levará o Oscar nesta categoria, por seu desempenho como um conselheiro surdo para os alcóolicos anônimos em O Som do Silêncio. Raci tem 40 anos de carreira como ator e representa uma classe de artistas que mesmo com tanto tempo de estrada não ganham o reconhecimento devido. Bem, isso já mudou para o ator graças ao filme O Som do Silêncio. Raci não é surdo na vida real, mas foi criado por pais surdos, entende a condição melhor que ninguém, e é fluente em linguagem de sinais. Por si só, sua indicação é muito representativa de um grupo ainda nas sombras em busca de inclusão. Se vier, será uma muito bem-vinda vitória.

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Falta um pouco menos de 10 dias para a cerimônia do Oscar 2021. Com parte dos filmes disponíveis nas plataformas de streaming mais famosas, vide Netflix e Amazon, e outros já disponíveis para serem assistidos em vídeo on demand (onde se paga individualmente pelo filme), os cinéfilos já possuem acesso a alguns dos indicados da premiação deste ano. Mesmo assim, quatro dos oito filmes indicados na categoria principal ainda não estão ao acesso de todos nesta época de pandemia – e cinemas meio fechados, meio abertos.

Judas e Messias Negro e Nomadland estão em cartaz nos poucos cinemas abertos pelo país, em horários restritos. Meu Pai também se encontra em situação similar, porém, pode ser encontrado em plataformas para ser assistido em casa em VOD. Minari é prometido para estrear antes da cerimônia, e esperamos que o mesmo ocorra com Bela Vingança. Seja como for, para os que não querem se aventurar fora de casa, a lista terá que permanecer incompleta.

O Oscar, como são conhecidos os prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas nos EUA, é a maior festa do cinema mundial. Esse ano, no entanto, devido à pandemia do Coronavírus, o evento ocorrerá de forma inédita, e como afirmam os organizadores: tentará acontecer da forma mais presencial possível. Para tal, além do Teatro Dolby em Los Angeles onde é sediada a cerimônia, outras três localidades serão utilizadas: uma outra em Los Angeles mesmo e outras duas na Europa (Reino Unido e Paris) para facilitar os indicados que não puderam viajar em meio às restrições. É claro que desta forma teremos muita coisa virtual também.

Para ir aquecendo os motores, trazemos aqui nossa matéria anual tentando traçar um panorama dos indicados, além de dar nosso pitaco na previsão dos possíveis vencedores. Confira abaixo.

Melhor Filme

Entre os oito indicados a melhor filme temos dois que são pura representatividade racial. Judas e o Messias Negro é puro fervor, e dá voz à comunidade negra. Já Minari, é calmo e poético, abordando a cultura asiática nos EUA (em meio à uma época delicada de muito preconceito). Ambos são mais que dignos em suas causas. Na frente, porém, todos os especialistas só falam do contemplativo Nomadland, que por si só resume muito do que estamos passando atualmente no mundo, e transcende sua própria obra com seus bastidores. A história sobre uma mulher que perdeu tudo durante a recessão decidindo percorrer as estradas americanas como nômade é quase documental, usa como personagens famílias nômades reais, elimina fronteiras e cria a sensação que muitos de nós estamos passando: a de estarmos perdidos em meio a tudo, tentando nos encontrar.

O filme traz uma mulher forte à frente de sua trama, a veterana Frances McDormand, que pode levar seu terceiro Oscar como protagonista – batendo assim a toda poderosa Meryl Streep (que possui duas como atriz protagonista e uma como coadjuvante). Além disso, McDormand conquista um recorde nessa edição: é a primeira atriz indicada também como produtora do filme no qual atua. Mas Nomadland não para por aí, traz a sexta mulher indicada ao Oscar na categoria de direção (ou seria a sétima, já que este ano entraram logo duas) e a primeira asiática na categoria. Com todos esses atrativos, fica difícil a Academia não prestigiar.

O obstáculo à frente de Nomadland é Os 7 de Chicago, produção da Netflix dirigida por Aaron Sorkin (Oscar de roteiro por A Rede Social). Acontece que um dos maiores termômetros para o Oscar, segundo muitos especialistas, são os prêmios dos Sindicatos. O SAG, sindicado dos atores, premiou Os 7 de Chicago como melhor elenco, o que no passado significaria reflexo nos prêmios da Academia. Porém, nos últimos 26 anos, as duas premiações só se espelharam 12 vezes – com os últimos sendo Parasita (2019), Spotlight (2015), Birdman (2014), Argo (2012) e O Discurso do Rei (2010). Fora isso, alguns filmes inclusive já receberam o Oscar principal sem sequer serem indicados ao SAG, como é o caso com Green Book (2018) e A Forma da Água (2017). E é aí que se encaixariam Nomadland e Bela Vingança (o filme girlpower da edição), já que ambos não receberam nomeações no SAG.

Esnobados: Dentre os esnobados para melhor filme (com duas vagas deixadas em branco) estão Uma Noite em Miami (estreia de Regina King na direção), A Voz Suprema do Blues (indicado para ator e atriz principais), The Mauritanian (sobre uma injustiça cometida contra um muçulmano, preso por anos nos EUA) e First Cow (drama meio faroeste elogiadíssimo pela imprensa).

Diretor(a)

Essa é batata! Pela primeira vez nos prêmios da Academia duas mulheres foram indicadas para melhor direção. Na história do Oscar, até esta edição, apenas cinco mulheres no total haviam sido lembradas para o prêmio nesta categoria. Um absurdo! E somente Kathryn Bigelow saiu vitoriosa por Guerra ao Terror (2009). Após a indicação de Greta Gerwig em 2018 por Lady Bird (a última até então), os membros decidiram se redimir e ouvir o clamor público dos novos tempos nomeando duas cineastas no mesmo ano. Assim, é muito provável que uma delas saia com a estatueta para casa. Afinal, eles não cometeriam tamanha patacoada de indicar duas mulheres e não dar o prêmio para uma delas.

A britânica Emerald Fennell também é atriz e fez seu debute atrás das câmeras como diretora em Bela Vingança, longa de humor ácido sobre uma jovem mulher traumatizada por eventos de abuso masculino em seu passado, que decide se vingar de todo e qualquer machismo e masculinidade tóxica em seu caminho. O filme dialoga muito com nossos tempos, e Fennell marca um golaço com seu trabalho.

David Fincher é um dos grandes da Hollywood atual, e um de meus cineastas preferidos, mas representa tradição neste Oscar, com um trabalho feito nos moldes da antiga Hollywood. Thomas Vinterberg conseguiu o raro feito de ser indicado para direção com um filme estrangeiro, e Lee Isaac Chung, descendente de coreanos, é o próprio estrangeiro da categoria. Chegando para reafirmar a aceitação asiática. Mas não é o único.

A grande favorita na categoria é mesmo Chloé Zhao, chinesa que vem dando o que falar em todas as rodas de críticos, especialistas e cinéfilos. Ela quebra o recorde de ser a primeira asiática indicada na categoria de direção no Oscar, e pode vir a se tornar a segunda mulher da história a receber o prêmio. Zhao tem outras três indicações no Oscar 2021: melhor roteiro, edição e produção, todas para Nomadland. Zhao já se tornou uma superstar e tem engatilhado ainda para este ano a superprodução da Marvel Os Eternos, estrelado por Angelina Jolie, a ser lançado em novembro.

Atriz e Ator Principais

Uma das categorias mais truncadas do Oscar 2021 é a de atriz. A britânica Vanessa Kirby chegou com favoritismo logo quando Pieces of a Woman foi exibido em Festivais como Veneza e Toronto. Mas hoje, sua vitória foi mesmo a indicação, já que é jovem e tem uma longa carreira pela frente. Mas tudo pode acontecer. Carey Mulligan é outra jovem britânica no páreo, enaltecida como uma das melhores intérpretes de sua geração, ela só havia sido indicada uma única outra vez, em 2010 por Educação. Em Bela Vingança ela tem a performance com trejeitos mais pop da edição, apesar de um teor bastante sério.

Dentre as novatas, destaca-se a cantora Andra Day, nome artístico de Cassandra Batie, em sua estreia como protagonista no cinema na biografia The United States vs Billie Holiday, produção original do streaming Hulu. A atriz gerou grande hype no início da temporada de prêmios e pode sair da noite do dia 25 com uma estatueta de melhor atriz debaixo do braço. No entanto, duas veteranas fazem frente à sua vitória.

Viola Davis já tem um Oscar, mas na categoria coadjuvante por Um Limite Entre Nós (2017). Em A Voz Suprema do Blues ela também vive uma cantora negra muito relevante para a cultura norte-americana, talvez uma das mais importantes. Ma Rainey é tida como a “mãe do blues”, a primeira cantora negra a fazer fama – porém, hoje seu nome não tem o valor que merece, apagado com o tempo. O filme trata de pôr luz nessa figura de extrema importância. Por fim, Frances McDormand já tem dois Oscar de melhor atriz e isso talvez pese em sua terceira vitória, mesmo sendo mais que merecida. Apesar disso, ela é a mais cotada pelos especialistas.

Já na categoria masculina as coisas estão mais simples e resumidas. As indicações de Riz Ahmed (O Som do Silêncio), descendente de paquistaneses, e Steven Yeun (Minari), ator sul coreano, ambos jovens em suas primeiras nomeações, são mais que bem-vindas. E são seus maiores prêmios. Gary Oldman é um veterano incansável que, entre uma bomba e outra (quem nunca), não para de surpreender e ousar. Ele já tem seu Oscar (tardio) por O Destino de uma Nação (2018), e seu trabalho em Mank é impecável.

Porém, em qualquer outra edição do Oscar, o prêmio iria automaticamente para o lendário Sir Anthony Hopkins, no auge de seus gloriosos 83 anos, por sua performance hipnótica em Meu Pai, drama sobre um idoso precisando lidar com a devastadora realidade da demência senil. O que Hopkins faz aqui é inenarrável, de partir o coração dos mais duros bárbaros. É atuação em sua forma mais pura. Ele exala exuberância e coragem em sua entrega. No entanto, esta não é uma edição normal do Oscar. Porque aqui lidamos com a nomeação póstuma de um dos jovens astros mais culturalmente significativos dos últimos anos. Chadwick Boseman entrou para os anais da cultura popular e da história ao desempenhar o papel protagonista do primeiro super-heróis negro em grande escala do cinema: Pantera Negra, da Marvel. O filme de 2018 quebrou recordes e paradigmas, por ser a primeira superprodução do tipo a enaltecer a cultura negra/africana, realizado com elenco predominantemente de atores negros. Foi muito mais que um filme, verdadeiramente um evento social.

No Oscar desse ano, Chadwick foi lembrado por sua última performance, já que o jovem ator de 43 anos faleceu de forma mais que precoce ano passado, vítima do câncer. Boseman vive um trompetista ambicioso e dono de muita revolta em seu interior, causado pelo racismo inerente na cultura norte-americana, em A Voz Suprema do Blues – além de entregar um dos duelos performáticos mais arrepiantes dos últimos anos indo mano a mano com a gigante Viola Davis. Essa é a última chance da Academia prestigiar este jovem talento mais que merecido.

Atrizes e Atores Coadjuvantes

Começando pelas atrizes, será que este ano veremos a justiçar se finalmente feita para uma das maiores intérpretes ainda vivas que o cinema possui? Já virou até piada, e se os mais novos brincavam com o fato do jovem Leonardo DiCaprio sempre ser indicado e nunca vencer (isto é, até 2016), e chamam Amy Adams de o DiCaprio de saias, o que podemos dizer de Glenn Close? A atriz com nada menos que 45 anos de carreira, tem absurdas 8 indicações ao Oscar sem vitórias, datando de 1983. Este ano, ela entrega mais uma performance poderosa em Era uma Vez um Sonho, de Ron Howard. O problema é que sua atuação é uma das únicas boas coisas do longa, e o desempenho, digamos, medíocre do filme pode afetar sua vitória.

Creio que as jovens Amanda Seyfried (Mank) e Maria Bakalova (Borat 2) façam apenas figuração na noite – o que não deixa de ser uma baita vitória para suas carreiras. Olivia Colman entrega outra performance arrebatadora em Meu Pai, porém, venceu o prêmio há dois anos. Pode acontecer de puxar o tapete de Close, mais provável no entanto, segundo as apostas dos especialistas, é que quem leve o prêmio seja a sul coreana Yuh-Jung Youn, que interpreta a matriarca da família em Minari. Ela é ao mesmo tempo a azarona da categoria e a favorita.

Você sente os ventos da mudança? Na categoria de atores coadjuvantes, temos três atores negros indicados. É para aplaudir. Mesmo que, curiosamente, ambos Daniel Kaluuya e LaKeith Stanfield tenham sido indicados como coadjuvantes pelo filme Judas e o Messias Negro. Ei, alguém precisa ser o protagonista desta história, certo? A manobra, no entanto, a mesma utilizada em anos recentes com Dev Patel em Lion (2017), não é novidade. Protagonistas passam para coadjuvante em nomeações, a fim de obterem mais chances dentre as concorridas vagas. Leslie Odom Jr., que vive o cantor Sam Cooke em Uma Noite em Miami (dirigido pela atriz Regina King), é o terceiro negro a ocupar a vaga. Na categoria ainda temos Sacha Baron Cohen não por Borat, mas por Os 7 de Chicago.

Segundo as apostas de especialistas, o veterano Paul Raci é quem levará o Oscar nesta categoria, por seu desempenho como um conselheiro surdo para os alcóolicos anônimos em O Som do Silêncio. Raci tem 40 anos de carreira como ator e representa uma classe de artistas que mesmo com tanto tempo de estrada não ganham o reconhecimento devido. Bem, isso já mudou para o ator graças ao filme O Som do Silêncio. Raci não é surdo na vida real, mas foi criado por pais surdos, entende a condição melhor que ninguém, e é fluente em linguagem de sinais. Por si só, sua indicação é muito representativa de um grupo ainda nas sombras em busca de inclusão. Se vier, será uma muito bem-vinda vitória.

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