Allan Souza Lima, ator pernambucano reconhecido pela intensidade de seus papéis no cinema, na televisão e no streaming, assume agora a cadeira de diretor para comandar ‘Poeta Bélico’.
Depois de anos dando voz e corpo às visões de outros autores, ele decide projetar a própria: parece ter chegado o momento de transformar seu olhar sobre o mundo em linguagem cinematográfica.
O filme se passa num futuro pós-apocalíptico, onde um Poeta (Alejandro Claveaux) e um Guerrilheiro (Renato Góes) cruzam o sertão em ruínas tentando preservar o que restou da linguagem e da humanidade. A história é ambientada na Paraíba, região escolhida não por exotismo, mas pela textura real do lugar.
Allan afirma que o sertão, com sua secura e vastidão, traduz a aridez moral do tempo presente melhor do que qualquer cenário urbano: “eu quis filmar onde o silêncio predomina, onde o homem é obrigado a se escutar. A gente vive um tempo em que todo mundo tem razão demais e ouve de menos. É um mundo cheio de certezas e vazio de dúvidas, e é daí que vem o conflito. Ninguém quer ceder, ninguém quer se perguntar se pode estar errado. O filme nasce dessa proposta: o que acontece quando o discurso se esgota e a única saída é aprender de novo a ouvir, a olhar, a trocar ideias sem querer vencer a conversa.”
Antes de avançar nas filmagens, o diretor reforçou o time com um nome de peso. Fátima Toledo, uma das pioneiras da preparação de elenco no Brasil e responsável por trabalhos emblemáticos em ‘Cidade de Deus’, ‘Pixote’ e ‘Tropa de Elite’, passou a integrar a equipe de direção.
Allan, que já trabalhou com ela como ator, sabe o quanto essa parceria pode definir o tom do filme: “acho que temos muito que aprender juntos. A experiência dela junto com o meu frescor, acho pode ser tornar o nosso grande aliado. A união de duas gerações em combustão”.
Allan, que já havia feito outras incursões na direção, retoma agora essa vertente em escala maior. Em 2013, dirigiu o curta ‘Ópio; no ano seguinte, ‘Mais Uma História’ — ambos escritos, produzidos e realizados por ele sob o selo da Ikebana Filmes, produtora da qual é sócio. Em 2016, assinou ‘O Que Teria Acontecido ou Não Naquela Calma e Misteriosa Tarde de Domingo no Jardim Zoológico’, curta que circulou em festivais e confirmou seu interesse em explorar outras camadas da narrativa audiovisual.
Assumindo pela primeira vez o posto de diretor em um longa-metragem, ele comenta: “é um projeto que vem sendo pensado há muito tempo. Essas imagens me acompanham há anos, e finalmente chegou o momento de tirá-las do papel. É especial porque carrega tudo o que vivi até aqui, como ator, como autor e como homem. É um filme que nasce de uma urgência pessoal, de uma necessidade de colocar para fora o que me inquieta; entre outras coisas, a sensação de que todo mundo fala demais, escuta de menos e esqueceu que o diálogo é o único terreno possível entre os opostos.”