Mais conhecida por seu papel como a stalker Martha na série ‘Bebê Rena‘, a atriz Jessica Gunning assumiu sua homossexualidade pela primeira vez após 36 anos desde que se descobriu gay.
Em entrevista para o podcast Reign With Josh Smith, Gunning disse que foi através da série que ela se sentiu segura para se assumir publicamente, alegando que sua vida mudou por completo após aceitar a si mesma como uma mulher lésbica.
“Há mais de 35 anos, eu percebi que eu era uma grande lésbica e pensei: ‘É assim que tem sido. É isso que é’, eu só não aceitava, não acreditava que pudesse me interessar sexualmente por outras mulheres.”
Gunning lembrou que, enquanto grava ‘Bebê Rena‘, percebeu que não havia motivos para esconder sua opção sexual e contou para os pais em 2022.
“Há algo realmente emocionante em ‘Bebê Rena‘, quando Donny (Richard Gadd) fala sobre suas inseguranças ao dormir pela primeira vez na casa de seus pais. E eu contei sobre minha sexualidade para minha família no Natal daquele ano. Acho que dormi por umas dez horas naquela noite.”
Ela continuou:
“Eu meio que pensei: ‘É assim que tem sido, é como um segredinho que acho que tenho escondido de mim mesma’. E não de uma forma ruim. Nunca senti que estava reprimindo algo de maneira negativa, ou que qualquer reação seria ruim. Eu só pensei que não poderia ser, eu não me aceitava. E então quando tudo deu certo, eu pensei: ‘Agora faz sentido, que sensação libertadora’.”
‘Bebê Rena‘ retrata uma história real vivida pelo ator e comediante escocês Richard Gadd quando foi vítima de uma perseguidora e predadora sexual por volta de seus 20 anos.
Na trama, ele interpreta Donny Dunn, que acaba virando a obsessão de Martha (Jessica Gunning), uma mulher ele conhece em um bar onde trabalha, despertando nela um interesse sufocante que pode destruir as vidas dos dois.
No caso real, Gadd relatou ao longo de alguns shows que foi perseguido por pelo menos quatro anos por uma mulher que o apelidou como Bebê Rena.
Apesar do apelido que costuma causar risos na plateia, ele disse que foi assediado com 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 páginas de cartas.
Além disso, ela tentou chamar sua atenção com presentes, incluindo uma rena de pelúcia, pílulas para dormir, um chapéu de lã e roupas íntimas, como pijamas e cuecas boxer.
Identificada na série como Martha, a mulher não teve sua real identidade revelada por Gadd para evitar represálias ou reforçar o traumas que algumas pessoas viveram na vida real.
Em entrevista à Variety, ele disse que:
“Há certas restrições [quando se faz uma produção baseada em fatos]. Você não pode simplesmente copiar a vida e o nome das pessoas e divulgá-los na TV. Obviamente, também estávamos cientes de que alguns personagens são baseados em pessoas vulneráveis. Não queremos tornar a vida das pessoas mais difíceis. Então é preciso ocultar certas coisas para se proteger e proteger outras pessoas.”
O comediante também admitiu que precisou fazer algumas alterações para deixar a história mais atraente e dramática.
“Muito da perseguição que sofri foi uma narrativa chata. Às vezes, Por razões artísticas, é necessário dramatizar o conteúdo para deixá-lo mais atraente para o público. O que aconteceu comigo foram ações repetitivas, do tipo: ‘Ai, Deus, uma mensagem dessa pessoa de novo. E, claro, na televisão, especialmente em um suspense, você
precisa mover certas linhas do tempo, precisa mover certos pontos para o final dos episódios terem um resultado satisfatório. Além de uma história verdadeira, você precisa torná-la visualmente interessante. Ainda assim, é uma história verdadeira – vem de uma verdade emocional, e acho que é com isso que as pessoas mais se identificam.”
No entanto, Gadd reforça que o objetivo da série é repudiar comportamentos abusivos e a importunação e não glamourizar pessoas que fazem isso.
Ao fim da adaptação, Martha é presa depois de confessar perseguição e assédio, sendo condenada a nove meses de prisão, além de receber uma ordem de restrição.
Já no caso real, o destino da perseguidora é incerto, pois Gadd disse ao The Independent, que não fez questão da prisão dela, demonstrando empatia e encarando o caso como uma questão de doença mental.
“Não consigo enfatizar o suficiente o quanto ela é uma vítima em tudo isso. Perseguição e assédio são uma forma de doença mental. Teria sido errado colocá-la como um monstro, porque ela não está bem e o sistema falhou com ela.”
Com direção de Weronika Tofilska, a atração retrata o caso em sete episódios.