Todo dia comemoramos datas importantes. Com o mundo do cinema ocorre a mesma coisa. Hoje, no dia 4 de maio, é celebrado, por exemplo, o dia Star Wars. E embora ame a franquia criada por George Lucas, abordarei um tópico um pouco diferente. O dia 4 de maio é também o aniversário de nascimento de Audrey Hepburn, uma das maiores estrelas a passar pela constelação de Hollywood, que infelizmente nos deixou cedo demais, em 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos.
E este aniversário é uma data especial, pois se estivesse viva, a lendária atriz estaria completando 90 anos. Seria bom se tivéssemos tido um pouco mais de Audrey Hepburn, conhecida como símbolo de moda e elegância no cinema (se tornando referência), em nossas vidas. Seu último trabalho foi em 1989, numa participação especial no filme Além da Eternidade, de Steven Spielberg, no qual fez o papel de um anjo. A despedida não poderia ter sido em uma atuação mais adequada, e comandada por uma figura que representa muito da sétima arte mundial.
Em sua carreira, um total de cinco indicações ao Oscar e a vitória por A Princesa e o Plebeu (1953) – além de um prêmio póstumo entregue no ano de sua morte – e inúmeros sucessos, vide Bonequinha de Luxo (1961), Minha Bela Dama (1964), Charada (1963) e Sabrina (1954), e o citado primeiro grande sucesso, que lhe rendeu um Oscar.
Mas Audrey Hepburn possui em sua filmografia – num total de 34 créditos como atriz, entre participações em séries, minisséries, cinema e filmes feitos para a TV – obras não muito mencionadas pelo grande público, como as que estão guardadas no panteão para a eternidade (as mencionadas acima). Assim, o CinePOP, como forma de homenagear esta icônica intérprete, resolveu relembrar com você 5 filmes pouco comentados da carreira de Audrey Hepburn. Vem conhecer.
O Passado Não Perdoa (1960)
Durante a década de 1950, Audrey Hepburn reinou no cinema como uma das estrelas mais requisitadas. Depois de sua explosão com A Princesa e o Plebeu (1953), a carreira da atriz decolou e não parou mais. Porém, com a década de 1960, chegou a revolução social, que refletiu no cinema. Assim, histórias com teores mais realistas eram postas em vigor. Os “contos de fadas”, nos quais Audrey havia se especializado, perdiam força e davam lugar a romances de maior credibilidade com os novos tempos, por exemplo.
E Hepburn adentrava a nova década (a última na qual ainda trabalharia de forma mais intensa) subvertendo sua carreira e o tipo de filme ao qual estava confortável. O Passado Não Perdoa, cujo título em inglês é The Unforgiven (o mesmo do neo clássico de Clint Eastwood), foi o primeiro e único faroeste que a estrela protagonizou.
No filme, a atriz foi dirigida pelo lendário John Huston. O cineasta afirma que este longa é uma resposta ao icônico Rastros de Ódio (1956), de John Ford, com John Wayne. No filme de Wayne e Ford, uma jovem é sequestrada por índios, e seu tio (papel de Wayne) parte com um grupo para resgatá-la. Atualmente, o filme é visto como racista pela forma como retrata os nativos americanos. Já em O Passado Não Perdoa, o contrário ocorre. E na família protagonista, chega a notícia de que a filha (papel de Audrey) é na realidade uma indígena da tribo Kiowa, retirada de sua família, levada e criada por brancos.
Infâmia (1961)
Como dito acima, a década de 1960 foi uma das mais importantes para o mundo como o temos hoje. Uma revolução social e cultural, que atingiu todas as áreas de nossa vida em sociedade e, obviamente, o cinema também. Assim, a velha Hollywood era aos poucos transformada na nova Hollywood. E assim como na mudança do cinema mudo para o com som, muitos astros precisaram se readaptar. Audrey Hepburn, vista como a namoradinha da América, de filmes românticos doces, preservou sua imagem, mas topou novos desafios em produções mais subversivas.
No mesmo ano em que fez uma “garota de programa” em Bonequinha de Luxo (1961), Hepburn lançava este Infâmia, dirigido por seu amigo William Wyler – com quem havia feito A Princesa e o Plebeu (1953). Novamente, a atriz apostava num tema delicado, que precisou ser muito podado a fim de passar na censura da época – qualquer filme que falasse sobre o tema da homossexualidade era proibido então (para ver o quanto evoluímos nestes anos).
Na trama, Hepburn e Shirley MacLaine (uma das maiores veteranas da era de ouro de Hollywood ainda em atividade) estrelam como duas grandes amigas, administrando um internato para jovens mulheres. Uma problemática e mimada estudante do local (papel de Karen Balkin) cria uma intriga que termina por destruir a vida de ambas: a pequena diabólica afirma que as mulheres estão envolvidas romanticamente. O longa questionador, que fala sobre amizade, confiança, aceitação, blasfêmia e o poder da opinião pública é baseado na peça de Lillian Hellman, recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo a de melhor fotografia em preto e branco.
Como Roubar um Milhão de Dólares (1966)
Mais para o fim da década, a musa Audrey Hepburn decidiu dar um tempo em obras polêmicas e relaxar com esta comédia farsesca, que invoca o entretenimento atemporal de Hollywood. Aqui, ela era novamente dirigida pelo colega William Wyler, em sua terceira e última colaboração no cinema.
Uma curiosidade é que o diretor Wyler primeiramente havia pensando neste projeto como uma espécie de continuação para A Princesa e o Plebeu, visando Gregory Peck para o papel principal, num reencontro com Audrey. Outra possibilidade cogitada pelo cineasta era um teor mais sombrio e realista para o longa, e para isso contatou Stanley Kubrick, que havia lançado O Grande Golpe (1956), como consultor da produção.
Na trama, Audrey e Peter O´Toole – cuja parceria nas telas ganhou rumor sobre um caso amoroso de bastidores – interpretam uma dupla de golpistas, planejando um arriscado roubo. A atriz vive a filha de um falsário, que forja obras de arte e seu mais recente esforço está sendo vendido para um museu em Paris. A mulher precisa entrar e roubar o artefato, antes que autoridades percebam se tratar de uma falsificação. Para ajudá-la, entra em cena o gatuno vivido por O´Toole.
Um Caminho para Dois (1967)
Talvez o filme romântico mais diferente da carreira de Audrey Hepburn, esta é uma obra sobre relacionamento a dois mais realista, cheia de altos e baixos, se tornando mais próxima ao tipo de cinema que temos hoje no gênero. Este é um romance dramático, que realmente se propõe a discutir problemas do dia a dia e o desgaste pelo qual todas as relações passam. Aqui não existe conto de fadas, e assuntos como infidelidade são colocados na mesa para uma DR mais aprofundada.
Quem comanda a discussão é o diretor Stanley Donen, outro habitual colaborador de Audrey, tendo dirigido-a em Cinderela em Paris (1957) e Charada (1963). Como par de Audrey nesta jornada, já que o filme retrata de forma íntima um casal ao longo de um casamento de 10 anos, foi escalado o ator Albert Finney (falecido em fevereiro deste ano aos 82 anos), depois que Michael Caine e Paul Newman recusaram o papel. E se o romance de bastidores entre Audrey e Peter O´Toole foi desmentido, com Finney é citado por várias fontes.
Na trama, um casal (Hepburn e Finney) tem sua história perpassada, desde o dia em que se conheceram, se apaixonaram e se casaram, até o desgaste do relacionamento, as reinvenções e a intolerância de um pelo outro. O interessante é que os fatos ocorrem fora da ordem cronológica, pulando épocas ao longo de 10 anos. E você milênio achando que (500) Dias com Ela (2009) era revolucionário! Uma curiosidade é que o compositor Henry Mancini, famoso por conduzir as trilhas sonoras dos filmes da Pantera Cor de Rosa e Bonequinha de Luxo (1961) afirmou que embora tenha sido uma das trilhas mais difíceis, a de Um Caminho para Dois era a preferida de sua carreira.
Um Clarão nas Trevas (1967)
Audrey Hepburn lançou estes dois filmes revolucionários em sua carreira no mesmo ano. E o resultado foi o conflito entre eles. Bem, ao menos no Oscar. Os votantes ficaram divididos entre Um Clarão nas Trevas e Um Caminho para Dois, mas terminaram optando por este aqui. Ou seja, caso não fossem lançados no mesmo ano, a atriz poderia ter sido lembrada por ambos para indicações.
Este é o único filme de terror da carreira de Audrey Hepburn, embora seja considerado por muitos como um thriller (suspense). O prestígio desta obra é tanto, que o autor Stephen King a considera o filme mais assustador de todos os tempos. O projeto foi baseado na peça de Frederick Knott e desde então levada outras vezes aos palcos, após o lançamento do filme. Uma das mais notórias é a versão de 1998, que levou Marisa Tomei, Stephen Lang e Quentin Tarantino aos palcos.
O diretor Terence Young ficou famoso por ter dirigido alguns dos primeiros filmes do espião 007, como O Satânico Dr. No (1962), Moscou contra 007 (1963) e A Chantagem Atômica (1965). Na trama, Audrey interpreta uma mulher cega. Em sua casa, está escondido um item que criminosos desejam. Assim, eles armam um plano e invadem a casa da mulher, sem que ela note a presença deles. Dá para sentir a forte influência que o filme possui por sua trama, em especial no recente O Homem nas Trevas (2016), que terá continuação em breve.
Após o filme, Audrey Hepburn tirou um tempo para cuidar dos filhos, e se aposentou. Ela só sairia da aposentadoria quase dez anos depois, com Robin e Marian (1976), no qual ao lado de Sean Connery vivem versões de Robin Hood e Lady Marian mais velhos. Depois disso, só mais quatro atuações no cinema, incluindo a despedida perfeita em Além da Eternidade (1989).