Podemos dizer que o diretor Tim Burton mudou para sempre o conceito de como os filmes baseados em quadrinhos de super-heróis eram vistos pelo público, crítica e os estúdios de Hollywood. Batman (1989) foi um grande divisor de águas. Mas quando foi a hora de dirigir o terceiro filme do Homem Morcego – o qual o cineasta já havia detalhado e se preparado – a Warner resolveu afastá-lo após o resultado sombrio e não recomendado para crianças de Batman, o Retorno (1992). Assim, Burton terminou apenas produzindo Batman Eternamente (1995), que completou 29 anos em 2024.
Enquanto um novo filme do Cavaleiro das Trevas de Gotham está sendo produzido com Robert Pattinson no papel do herói, nesta nova matéria iremos adentrar uma realidade alternativa e investigar um pouco mais sobre o filme que Burton queria fazer e quase fez. Vamos conhecer como seria o Batman Eternamente de Tim Burton.
Título
Tim Burton estava preparado para começar as filmagens de seu terceiro Batman. O filme inclusive já passava pela fase de pré-produção, tendo sido criados tratamentos do roteiro e inclusive testes de figurino. O diretor afirmou em entrevistas que não gosta nada dos títulos que vieram a seguir. Sobre o título Batman Eternamente o diretor disse: “Parece uma destas tatuagens que os adolescentes fazem e depois se arrependem”. O título do filme de Burton seria Batman Continues, ou Batman Continua. Acham melhor?
Diretor
Tim Burton queria dirigir um terceiro filme do cruzado de capa, porém, após o resultado sombrio e violento de Batman, o Retorno (1992), executivos da Warner, que não haviam conseguido associar a produção a quase nenhum merchandising (brinquedos ou até mesmo o McLanche feliz), optaram por afastar diretor ao cargo de produtor. A ideia dos executivos do estúdio era por um filme mais leve e mirado às crianças. Para isso, muitas cores foram adicionadas à direção de arte e fotografia. Joel Schumacher, famoso por obras como Os Garotos Perdidos (1987) e O Cliente (1994), foi o cineasta escolhido para ocupar a cadeira de diretor. Antes dele, no entanto, alguns outros foram cogitados, incluindo Sam Raimi – que havia feito seu próprio filme de super-herói original com Darkman: A Vingança sem Rosto (1990) e viria a comandar Homem-Aranha (2002).
O curioso é que Schumacher já revelou em entrevistas que sua opção também era por um filme mais sombrio, focado nos traumas e medos do herói, e em sua origem. No entanto, o estúdio seguia forçando por um tom mais leve e infantil. O ator Michael Keaton disse em entrevistas que os primeiros tratamentos do terceiro Batman justamente focavam na origem do herói, elemento que não havia sido adereçado até então no cinema. Esta origem voltaria a ser tópico numa produção do Homem Morcego em 2005, quando Christopher Nolan assumiu Batman Begins.
Protagonista
Obviamente, Michael Keaton vestiria a capa e o capuz do herói de novo no filme de Burton. Porém, quando o diretor foi afastado pelo estúdio, o protagonista começou gradativamente a perder o interesse em estrelar o filme. Keaton chegou a ter reuniões com Joel Schumacher após o diretor ser confirmado no comando do terceiro Batman, mas terminou optando se desligar da produção por não concordar com o caminho que o cineasta e o estúdio estavam levando o personagem. Keaton disse em entrevistas que o roteiro era simplesmente muito ruim e que não tinha interesse em ver o personagem mirado apenas para a venda de produtos, como brinquedos para crianças. O ator também não gostou do tom leve e colorido que o longa seguia.
Depois da saída de Keaton, inúmeros atores foram cogitados para assumir a capa do Morcego. Isso era algo importante, pois o ator escolhido seria o segundo intérprete do personagem no cinema. Schumacher terminou optando por Val Kilmer, que aceitou o papel sem sequer ler o roteiro. Durante as filmagens, no entanto, Kilmer se mostrou um pesadelo para o diretor, que definiu seu comportamento como “infantil”. Os dois brigavam constantemente e Schumacher terminou precisando substituí-lo para o filme seguinte. Para Batman & Robin (1997), saía Kilmer e entrava George Clooney. Algo que me diz que Val saiu ganhando nessa.
Duas-Caras
O Duas-Caras de Tommy Lee Jones é um dos pontos baixos de um filme que já não é grandes coisa. O ator escolhe interpretar o vilão atormentado e cruel como uma espécie de palhaço bufão. Curiosamente, durante as filmagens, Jones disse na cara do colega de cena Jim Carrey que o odiava, não o respeitava, não gostava de seus filmes e não podia aprovar sua canastrice. Ao assistir ao filme podemos reparar que o desempenho de Jones nada mais é do que uma imitação do que Carrey costumava fazer.
Seja como for, o primeiro intérprete do personagem no cinema (ou ao menos uma parte dele) foi o ator Billy Dee Williams, o eterno Lando Calrissian de O Império Contra-Ataca (1980). Williams viveu Harvey Dent, o alter ego de Duas-Caras, em Batman (1989), de Tim Burton, numa pequena participação. O ator afirmou em diversas entrevistas que o principal motivo de ter aceitado o papel foi sua eventual transformação no vilão bipolar – ele possuía inclusive uma cláusula em seu contrato que o garantia o papel. A Warner teve que pagar a multa ao ator na hora de desligá-lo do projeto. Williams recebeu recentemente um prêmio de consolação e finalmente viveu o vilão Duas-Caras na animação LEGO Batman (2017), infinitamente superior a Batman Eternamente.
Fontes também afirmam que o personagem havia sido pensado em alguns tratamentos de Batman, o Retorno (1992), e o desfecho do filme traria a Mulher Gato usando os fios do gerador do Pinguim para desfigurar Harvey Dent, que assim se transformaria no Duas-Caras. O roteiro foi readaptado usando muitas das ideias do personagem para Max Schreck, vivido por Christopher Walken.
O curioso é que apesar da treta entre Williams e o estúdio, muitos afirmam que o vilão Duas-Caras não estava originalmente nos planos de Tim Burton para o terceiro filme. E que ele só foi adicionado com a entrada de Schumacher no projeto. Será que Burton o estava reservando para um quarto filme? Ou será que iria voltar atrás a pedido do estúdio e inserir o vilão nas formas de Williams?
Charada
Com o vilão Charada existe mais confusão. Definitivamente este seria o vilão do terceiro filme de Burton, confirmado por todas as fontes. Algumas dizem que seria o único vilão do filme, outras que seria o vilão principal, mas nenhuma o descarta. No entanto, a questão sobre seu intérprete é o mais nebuloso. A maioria das fontes afirma que Robin Williams viveria o enigmático antagonista na versão de Burton e que foi dispensado quando Schumacher assumiu. Outros dizem que Williams recusou o papel ainda na fase Burton por estar chateado com a Warner – que o havia oferecido o papel do Coringa no primeiro filme e depois entregue a Jack Nicholson, um ator mais renomado.
Aparentemente, a versão de Williams teria um corte de cabelo na forma de um ponto de interrogação. Ideia que Jim Carrey quis trazer à sua encarnação, mas foi impedido, pois precisava aparecer em corte para finalizar seu divórcio. Outras fontes afirmam que a escolha de Burton para o antagonista era Micky Dolenz, um dos integrantes do grupo The Monkeys. Fora isso, a identidade do personagem não seria Edward Nygma, mas sim Lyle Heckendorf, um industrialista rival de Bruce Wayne, e não um funcionário de sua empresa. O vilão conseguiria seu uniforme no circo e o adaptaria para o do Charada.
Interesse Amoroso
Inicialmente, Burton queria a volta da Mulher Gato, de Michelle Pfeiffer. O sonho de um novo filme com a anti-heroína perdurou por décadas nas mentes de Burton e Pfeiffer, que chegaram a cogitar um filme solo para a felina. Mas isso não eliminaria a presença da Dra. Chase Meridian, personagem criada para o filme, sem ter aparecido em qualquer HQ. Antes de Nicole Kidman ser escolhida para o papel na versão de Schumacher, Burton havia batido o martelo em Rene Russo, então no auge de sua carreira, saída dos sucessos de Máquina Mortífera 3 (1992) e Na Linha de Fogo (1993). Não é confirmado, mas espera-se que esta versão fosse mais interessante e sofisticada do que a maníaca sexual interpretada por Kidman – que tudo o que parecia querer da vida era ir para cama com um total desconhecido em roupa de morcego.
No entanto, quando Burton foi tirado de jogada e, consequentemente, Keaton pulou fora, os produtores e Schumacher acharam Russo (então com 41 anos) muito velha para Val Kilmer (35 anos na época). Keaton tinha 43 anos na época. Assim, Russo foi substituída por Kidman, com 28 anos na época. Não deixa de ser curioso imaginar como seria a dinâmica de dois interesses amorosos na vida do morcego (a Mulher Gato e a Dra. Chase) na versão de Burton.
Robin
Outro caso peculiar. O ajudante do cruzado de capa sempre foi motivo de piada, mas o “menino prodígio” figurou em muitos tratamentos dos roteiros, desde o filme original de 1989. Em certo momento, chegou-se a cogitar um filme de Batman voltado ao humor, mais na veia do seriado da década de 1960 – espírito este revivido por Batman & Robin (1997). Neste tratamento cômico para o personagem, Batman teria como intérprete Bill Murray, e Eddie Murphy seria seu Robin. Por mais absurda que seja a proposta, Burton tirou uma ideia deste conceito. É claro que o diretor aboliu qualquer pensamento cômico e trouxe o Batman sombrio que o mundo viria a conhecer e repetir até hoje.
Porém, o que Burton tinha interesse mesmo era em utilizar um Robin negro. O cineasta já havia mudado a etnia de Harvey Dent, e sua escolha para o parceiro do herói era Marlon Wayans (Todo Mundo em Pânico). Uma escolha ousada e difícil de acreditar – não pela questão racial, mas pela associação do ator a projetos duvidosos. O que poucos sabem, no entanto, é que Wayans possui desempenhos dramáticos e mais contidos em seu repertório, vide Réquiem para um Sonho (2000) e G.I. Joe (2009), papeis nos quais se saiu bem. Na época, com 23 anos, Wayans já havia feito testes para figurinos do personagem, que seria adicionado em Batman, o Retorno (1992), mas terminou sendo excluído.
Wayans, que na época não era famoso, já havia assinado o contrato para o personagem. A Warner, novamente, pagou uma multa ao ator para que Chris O´Donnell assumisse o papel.
Espantalho
O assustador vilão do Homem Morcego que trabalha à base do medo só deu as caras no cinema em 2005, no filme Batman Begins. No entanto, Tim Burton tinha planos para o personagem em um de seus filmes. Num dos tratamentos do roteiro, o diretor planejava trazer o antagonista às telas na forma de Brad Bourif, a voz do boneco Chucky, da franquia Brinquedo Assassino. Não seria demais ouvir a voz do Espantalho soando como a o boneco mais creepy do cinema?
E você, o que acha da versão de Tim Burton para Batman Eternamente? Acha que iria funcionar ou ficaria ruim? Está satisfeito com a versão que temos de Joel Schumacher? O que poderia ser melhorado? Comente.
Ps. Veja abaixo o modelo do uniforme do herói na versão de Tim Burton.