sábado , 23 novembro , 2024

Berlim 2023 | Crítica | Manodrome – Suspense com Jesse Eisenberg enquadra Misoginia e Masculinidade Frágil

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Frankie (Jesse Eisenberg) é um motorista de Uber e sua namorada Sal (Odessa Young) trabalha em uma loja de conveniência. Em breve, os dois terão um bebé, mas o dinheiro mal dá para eles. Logo na primeira cena, Manodrome já diz que algo está fora de sintonia na vida de Frankie. 

Segundo longa-metragem do sul-africano John Trengove, Manodrome nos coloca sob o ponto de vista de um jovem branco norte-americano com dificuldades sociais, familiares e financeiras. Como no piloto automático, Frankie dirige seu carro, olha feio para casais homossexuais e objetifica as mulheres. Sua energia e revolta é sublimada no levantamento de peso na academia. 



Dessa maneira, Jesse Eisenberg compõe um personagem — como ele sabe muito bem — deslocado socialmente e prestes a resolver suas miseráveis indignações com os punhos. Longe de tornar-se um magnata da internet, como em A Rede Social (2010), o ator nos persuade a preparar-se com ele para um combate iminente. Neste caso, no entanto, a sua luta é tornar-se pai. 

Com comportamentos tóxicos salpicados aqui e ali, Manodrome não é direto ao ponto em sua crítica. Na verdade, ele é mais reflexivo sob a ótica de como um cidadão desmotivado e confuso pode ser facilmente interceptado por um grupo, ou melhor, seita. Se a comunidade religiosa sempre realizou este trabalho, John Trengove nos mostra que homens em busca de uma supremacia da masculinidade podem ser tão convincentes quanto a crença de uma vida melhor após a morte. 

De forma sutil, um amigo de Frankie o convida para reunião com seus camaradas. No restaurante, ele é apresentado a vários homens, entre eles Dad Dan (Adrien Brody). Este é uma espécie de líder, os outros são seus filhos, uma vez que eles são chamados de Son Brad, Son Aaron… A partir de então, eles realizam rodas de escuta, expurgação, e terror psicológico. O maior fardo que Frankie carrega, entretanto, é o abandono parental e a incapacidade de ver-se neste papel. 

Paulatinamente, a fachada de grupo de acolhimento é descortinada por meio de cânticos de dominação, armamento e afastamento social fora da bolha, principalmente com mulheres (tidas como controladoras e manipuladoras). Assim, Frankie transforma-se em algo diferente , entretanto, muito pior que o indivíduo apenas angustiado e confuso do início. 

O terceiro e último ato de Manodrome é um thriller de ação em formato de expurgo de uma masculinidade frágil e tóxica. Lá, o diálogo não cabe porque o poder do homem está no seu corpo, mais forte que de uma mulher, e no grito mais robusto que dos outros. Diferente de Clube da Luta  (1999), de David Fincher, o niilismo de John Trengove tem alvo em tudo que representa feminilidade, inclusive a homossexualidade.

Desse modo, Manodrome mostra a intolerância — retratada por grupos como incels — ganhar uma dimensão incontrolável e ser catapultada pela atuação visceral de Jesse Eisenberg. A solução de Frankie seria muita terapia para lidar com seus traumas, mas a sua “comunidade” lhe oferece uma Glock 22 carregada. 

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Segundo longa-metragem do sul-africano John Trengove, Manodrome nos coloca sob o ponto de vista de um jovem branco norte-americano com dificuldades sociais, familiares e financeiras. Como no piloto automático, Frankie dirige seu carro, olha feio para casais homossexuais e objetifica as mulheres. Sua energia e revolta é sublimada no levantamento de peso na academia. 

Dessa maneira, Jesse Eisenberg compõe um personagem — como ele sabe muito bem — deslocado socialmente e prestes a resolver suas miseráveis indignações com os punhos. Longe de tornar-se um magnata da internet, como em A Rede Social (2010), o ator nos persuade a preparar-se com ele para um combate iminente. Neste caso, no entanto, a sua luta é tornar-se pai. 

Com comportamentos tóxicos salpicados aqui e ali, Manodrome não é direto ao ponto em sua crítica. Na verdade, ele é mais reflexivo sob a ótica de como um cidadão desmotivado e confuso pode ser facilmente interceptado por um grupo, ou melhor, seita. Se a comunidade religiosa sempre realizou este trabalho, John Trengove nos mostra que homens em busca de uma supremacia da masculinidade podem ser tão convincentes quanto a crença de uma vida melhor após a morte. 

De forma sutil, um amigo de Frankie o convida para reunião com seus camaradas. No restaurante, ele é apresentado a vários homens, entre eles Dad Dan (Adrien Brody). Este é uma espécie de líder, os outros são seus filhos, uma vez que eles são chamados de Son Brad, Son Aaron… A partir de então, eles realizam rodas de escuta, expurgação, e terror psicológico. O maior fardo que Frankie carrega, entretanto, é o abandono parental e a incapacidade de ver-se neste papel. 

Paulatinamente, a fachada de grupo de acolhimento é descortinada por meio de cânticos de dominação, armamento e afastamento social fora da bolha, principalmente com mulheres (tidas como controladoras e manipuladoras). Assim, Frankie transforma-se em algo diferente , entretanto, muito pior que o indivíduo apenas angustiado e confuso do início. 

O terceiro e último ato de Manodrome é um thriller de ação em formato de expurgo de uma masculinidade frágil e tóxica. Lá, o diálogo não cabe porque o poder do homem está no seu corpo, mais forte que de uma mulher, e no grito mais robusto que dos outros. Diferente de Clube da Luta  (1999), de David Fincher, o niilismo de John Trengove tem alvo em tudo que representa feminilidade, inclusive a homossexualidade.

Desse modo, Manodrome mostra a intolerância — retratada por grupos como incels — ganhar uma dimensão incontrolável e ser catapultada pela atuação visceral de Jesse Eisenberg. A solução de Frankie seria muita terapia para lidar com seus traumas, mas a sua “comunidade” lhe oferece uma Glock 22 carregada. 

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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