Um novo relatório da PwC divulgado no dia 23 de julho (via The Hollywood Reporter) revelou que o setor de cinema, tanto nos EUA quanto globalmente, não conseguirá recuperar os níveis de receita observados antes da pandemia de COVID-19 nem mesmo até 2029. Apesar de uma retomada gradual, a indústria ainda enfrenta desafios estruturais e mudanças de comportamento do público que dificultam um retorno completo.
Previsões para o mercado americano
Nos Estados Unidos, a receita total de cinema (incluindo bilheteria, concessões e publicidade) foi de US$ 11,7 bilhões em 2019, mas deve alcançar apenas US$ 10,8 bilhões em 2029, segundo a PwC. A bilheteria por si só deve subir de US$ 8,1 bilhões em 2024 para US$ 9,8 bilhões em 2029, com um crescimento anual composto de 3,86%.
Entretanto, o número de ingressos vendidos deve continuar em queda. A PwC projeta que as admissões nos EUA passarão de 734 milhões em 2024 para 823 milhões em 2029, ainda bem abaixo dos 1,3 bilhão registrados em 2019. O preço médio do ingresso, no entanto, aumentará para US$ 11,86, mais de US$ 2 acima do valor praticado antes da pandemia.
Situação global
Globalmente, a receita de bilheteria também não deve alcançar os US$ 39,4 bilhões de 2019. A previsão para 2029 é de US$ 37,7 bilhões, mesmo com aumentos contínuos de preço e expansão de mercados emergentes.
Fatores por trás da lenta recuperação
Bart Spiegel, líder global de mídia e entretenimento da PwC, atribui a recuperação incompleta ao fato de que, apesar da alta nos preços dos ingressos, o volume de público não está acompanhando:
“O crescimento está sendo impulsionado por preços mais altos, e não por um aumento na frequência do público.”
Outros fatores relevantes:
Greves de roteiristas e atores em 2023 impactaram o cronograma de lançamentos. Filmes de orçamento médio também continuam sofrendo nas bilheteiras, com o público preferindo assisti-los via streaming. Além disso, a fragmentação da distribuição e a ascensão das plataformas de streaming mudaram o comportamento de consumo.
Franquias e “tentpoles” seguem dominando
Os filmes que mais arrecadam continuam sendo grandes franquias baseadas em propriedades intelectuais já conhecidas. Em 2024, Disney dominou com ‘Divertida Mente 2‘, ‘Deadpool & Wolverine‘ e ‘Moana 2‘. Já 2025 deve contar com grandes estreias como ‘Zootopia 2‘, ‘Avatar: Fogo e Cinzas‘, ‘Como Treinar Seu Dragão‘ (live-action) e ‘Missão: Impossível – O Acerto Final‘.
Exibição prioritária nos cinemas está de volta
Segundo a PwC, os experimentos de “day-and-date” — lançamentos simultâneos em streaming e cinema — foram majoritariamente abandonados. A janela de exclusividade nas telonas voltou a ser vista como essencial para maximizar receitas, inclusive por streamers como Amazon e Apple, que agora adotam janelas de 45 dias para seus lançamentos de peso.
Investimento em experiência
A pesquisa aponta que o público jovem ainda valoriza o cinema, especialmente para gêneros como terror e comédia, e que melhorias nas salas — como assentos de luxo e telas IMAX — têm atraído uma audiência mais disposta a pagar. O número de cinemas com telas grandes nos EUA subiu 37% em cinco anos.
Verticalização do mercado
Um dado marcante do relatório foi a compra da rede de cinemas Alamo Drafthouse pela Sony em 2024, tornando-a o primeiro grande estúdio a retomar o controle direto de salas de exibição após o fim da legislação antitruste de 1948. Isso pode sinalizar um retorno à verticalização da indústria cinematográfica, como ocorria nas décadas de 1920 a 1940.