A polêmica é real! Saído de sua estreia controversa no prestigiado festival de Veneza, Blonde teve seu lançamento na plataforma da Netflix há menos de um mês, no dia 28 de setembro – tendo passado antes de forma limitada nas telonas de cinema de alguns países pelo mundo, como seu território natal, os EUA. Blonde, é claro, trata-se da biografia fervorosa de uma das maiores lendas já passadas em Hollywood: Marilyn Monroe. Muito alardeado como possível candidato ao Oscar 2023 em algumas categorias, o longa logo foi tomado por seu conteúdo explosivo, deixando os fãs e críticos embarreirados sem conseguir ultrapassar a narrativa nua e crua, que propõe uma descortinada nos abusos sofridos pela estrela nos bastidores, tanto físicos (como estupros), quanto psicológicos. O filme, no entanto, é baseado no livro de Joyce Carol Oates. A crítica não morreu de amores pelo resultado, muito ao contrário – o que pode ter minado um pouco as aspirações do longa à época de prêmios, mas uma coisa da qual todos parecem concordar é a performance da cubana Ana de Armas no papel principal – essa sim pode vir a ser lembrada, quem sabe até para o Oscar.
Pensando nisso, resolvemos lembrar com você outras estrelas do cinema que já personificaram nas telas colegas de profissão do passado – que são verdadeiras lendas da era de ouro de Hollywood. Confira abaixo.
Ana de Armas – Marilyn Monroe
A jovem Ana de Armas aos poucos vem galgando novas posições em seu estrelato, se tornando um dos nomes mais promissores de Hollywood. E se pensarmos que a atriz é cubana, a coisa se torna ainda mais incrível, levando em conta a acirrada competição que é o mercado de Hollywood, até mesmo para as próprias americanas. Ter uma cubana conquistando este espaço é muito louvável. Com Blonde ela dá seu maior passo, num filme que é totalmente dela, e no qual ela possui uma entrega arrebatadora numa personagem difícil e muito complexa. Tanto que nem o resultado do filme em si foi o suficiente para apagar o brilho de Armas no papel da insegura e abusada Marilyn Monroe.
Michelle Williams – Marilyn Monroe
Onze anos antes de Ana de Armas personificar a lendária Marilyn no controverso Blonde, outra estrela de Hollywood deu vida à mesma personagem num filme, digamos, muito mais palatável ao grande público. Michelle Williams tem nada menos do que 4 indicações ao Oscar, e está mais do que na hora de levar a estatueta para casa. Aqui voltamos justamente para sua terceira nomeação, adquirida pelo retrato certeiro de uma Marilyn Monroe mais tímida e reservada no drama Sete Dias com Marilyn (2011). O propósito aqui era focar não apenas nas inseguranças da estrela e de seus problemas psicológicos, mas também na amizade que desenvolveu com um dos funcionários da produção de O Príncipe Encantado (1957), longa que filmou na Inglaterra ao lado de Laurence Olivier.
Scarlett Johansson – Janet Leigh
Falecida em 2004 e mãe de Jamie Lee Curtis na vida real, a estrela Janet Leigh ficaria para sempre eternizada no papel de Marion Crane, a “protagonista” que é também a primeira vítima no clássico absoluto Psicose (1960). E é justamente esta produção o foco de Hitchcock (2012), biografia divertida sobre o mestre do suspense que dá título ao longa, interpretado por Anthony Hopkins. O filme foca no período em que o diretor britânico apostou todas as suas fichas num filme declaradamente de terror – enquanto todos ao redor consideravam o projeto abaixo de seu talento. Psicose terminou se tornando seu maior sucesso e filme mais popular. Nesse contexto, é claro, era preciso ter uma Janet Leigh, a estrela de Psicose. E a tarefa recai na musa Scarlett Johansson, que interpreta Leigh da melhor forma possível, recriando inclusive a famosa cena do chuveiro.
Nicole Kidman – Grace Kelly
Hollywood possui muitas estrelas inesquecíveis em sua constelação. Mas quantas delas podem dizer que foram princesas de verdade? Essa é a realidade quando falamos da lendária Grace Kelly, também conhecida como a princesa de Mônaco. Famosa em Hollywood pelas parcerias com o mesmo Alfred Hitchcock – em três de seus filmes mais emblemáticos: Disque M para Matar, Janela Indiscreta e Ladrão de Casaca – uma das mais belas atrizes a passarem por este mundo, Grace Kelly ainda obteve a honraria de uma vitória no Oscar pelo drama Amar é Sofrer (1954), com uma estatueta dourada decorando a sua casa. Kelly largou a atuação quando aceitou se casar com o Príncipe Rainier de Mônaco. Tudo isso foi retratado no drama Grace de Mônaco (2014), que trouxe a musa altíssima Nicole Kidman no papel de Grace Kelly. Uma escolha acertada.
Margot Robbie – Sharon Tate
De todas as estrelas apresentadas na lista até agora, Sharon Tate talvez seja a menos conhecida, e a que menos marcas nas telas deixou em Hollywood. A verdade é que a estrela de Tate estava começando a brilhar, aqui falamos da década de 1960. Mas a atriz foi tirada deste mundo de forma rápida e violenta demais. Esposa do diretor polonês Roman Polanski, a atriz foi brutalmente assassinada por maníacos da “família” do psicopata Charles Manson, quando estava grávida – fazendo parte, infelizmente, de uma das maiores tragédias já vistas na história de Hollywood. Tudo isso foi retratado no excelente Era uma Vez em Hollywood, de Quentin Tarantino, onde Tate foi vivida pela estonteante Margot Robbie. E quando digo que tudo foi retratado, é melhor dizer quase tudo, já que Tarantino toma suas liberdades poéticas, alterando o destino da moça ao final do filme, numa daqueles “desfechos que gostaríamos de ter visto”.
Kristen Stewart – Jean Seberg
Outra famosa atriz que teve uma vida pessoal bem conturbada, a americana Jean Seberg fez sucesso internacional graças ao cult Acossado (1960), filme francês de Jean-Luc Godard. Por isso, e por ter abandonado os EUA para ir viver na França, muitos podem pensar nela como uma atriz francesa. Não é o caso. Assim, ter a americana Kristen Stewart a interpretando na biografia Seberg Contra Todos (2019) não parece um disparate tão grande. Ainda mais se levarmos em conta que Stewart foi indicada ao Oscar logo depois ao interpretar a muito britânica Princesa Diana na biografia dramática Spencer (2021). No filme de Seberg, o foco é seu envolvimento em causas sociais, em especial na relação desenvolvida com o ativista dos direitos civis Hakim Jamal nos anos 60, o que a tornou alvo de investigação por parte do FBI – e a levou numa descente de paranoia até sua eventual morte suspeita.
Cate Blanchett – Katharine Hepburn
Se existe um recorde a ser batido em Hollywood, esse recorde é o de Katharine Hepburn, estrela do cinema que é a única intérprete (incluindo os homens) a ter recebido quatro estatuetas do Oscar como atriz principal. Nada de coadjuvante aqui. Assim, para viver Katharine (não confundir com Audrey Hepburn) nas telas, que era conhecida por seu jeitão moleca, nada melhor do que uma estrela classuda de alto nível, dona de uma potente voz e imponência. Assim, entra em cena a australiana Cate Blanchett, que viveu Hepburn em O Aviador (2004), biografia de Howard Hughes, com quem teve um caso, dirigida por Martin Scorsese. Blanchett garantiu sua primeira vitória no Oscar pelo papel, porém, com uma estatueta de coadjuvante.
Susan Sarandon – Bette Davis
“She got Bette Davis eyes… “, já dizia a música de Kim Carnes lançada em 1981. Davis foi uma das mais emblemáticas estrelas de Hollywood em sua época de ouro, tendo começado a carreira ainda nos anos 1930. Vencedora de 2 Oscar, a estrela tem em seu repertório clássicos como A Malvada (1950) e O que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962). No entanto, um dos fatos que mais chamou atenção na trajetória de Bette foi sua irrevogável rivalidade com outra lendária estrela, Joan Crawford, que incendiava os bastidores do cinema na época. Tudo isso foi retratado na minissérie Feud (2017), na qual Bette Davis foi vivida de forma brilhante pela veterana vencedora do Oscar Susan Sarandon.
Jessica Lange – Joan Crawford
Por falar na rivalidade inesquecível das duas lendárias estrelas, aqui temos o contraponto de Bette Davis. As duas participaram de O que Terá Acontecido a Baby Jane?, com direito a bastidores caóticos, como esperado. Joan Crawford não teve uma música feita sobre ela, mas ganhou uma biografia “maldita” intitulada Mamãezinha Querida (1981), na qual foi interpretada por Faye Dunaway. O filme é considerado uma das piores obras do cinema de todos os tempos, por retratar sem dó nem piedade o lado cruel da atriz em relação à sua filha – em sessões constantes de tortura física e psicológicas. Como personagem, Crawford se redimiria ao ser interpretada por Jessica Lange em Feud, num duelo… desta vez de atuações entre grandes intérpretes.
Nicole Kidman – Lucille Ball
Para além de uma estrela, a agora veterana Nicole Kidman se tornou uma das atrizes mais versáteis de sua geração. Sem dúvidas uma das mais trabalhadoras, que pega para si todo tipo de desafio. Um dos mais interessantes de seu repertório recente foi o papel de outra icônica atriz real da era de outro de Hollywood. Depois da musa Grace Kelly, a atriz deu vida também para a humorista Lucille Ball, mais conhecida como Lucy, do seriado I Love Lucy, da década de 1950. Isso demonstra o alcance de Kidman como intérprete, conseguindo ir do oito ao oitenta em questão de abrangência performática. E o melhor de tudo, pelo papel em Apresentando os Ricardos (2021), da Amazon Prime Video, retrato da vida de Lucy ao lado do marido Desi Arnaz, Nicole Kidman recebeu nova indicação ao Oscar.