O que o conto de fadas ‘Branca de Neve’ e a ficção científica ‘Mickey 17’ possuem em comum? Bem, o início de 2025 irá nos dizer. No mundo do cinema, para existirem os sucessos monumentais é preciso existir os fracassos retumbantes. É isso que mantém este mundo em equilíbrio. É claro que todos gostariam de ter apenas sucessos em mãos, mas ninguém gostaria mais disso do que os fãs – imagina poder assistir apenas a filmes bons. Toda arte é subjetiva, mas existe também o consenso. É ele que faz surgir três tipos de fracassos quando o assunto são os filmes: o fracasso de crítica, o fracasso de público e o fracasso de bilheteria.
O fracasso de crítica ocorre, obviamente, quando a maioria dos especialistas em cinema desgosta de uma obra. O de público, quando a maioria dos fãs de cinema faz o mesmo. E por fim, o mais danoso, e o que os estúdios costumam prestar mais atenção, é quando dói no bolso. Ou seja, quando o valor investido para tirar um filme do papel não retorna para o seu investidor. Afinal, cinema é arte, mas também é um negócio, que pode se mostrar bastante rentável.
Abaixo selecionamos os maiores fiascos de bilheteria de 2025 (até o momento) que, independente do seu gosto pessoal, fracassaram em retornar para os cofres do estúdio o valor investido neles. Confira.
Branca de Neve
Começamos a lista com o que é provavelmente o filme mais “odiado” de anos recentes. Nunca um remake em live-action de uma animação da Disney sofreu tanto boicote, ou se tornou um alvo maior do que ‘Branca de Neve’. O filme simplesmente tomou pancada a torto e a direito, de gregos e troianos. Primeiro dos que não gostam deste tipo de filme. Segundo dos que acharam algumas decisões narrativas meio problemáticas, como o tira e põe dos anões, por exemplo.
Terceiro e principal por motivo da protagonista Rachel Zegler, de 24 anos, e seus comentários inflamatórios sobre o original e os caminhos que o remake iria seguir. E por fim a inevitável questão política, envolvendo a guerra entre Israel e Palestina, com as protagonistas Zegler e Gal Gadot assumindo lados opostos em seus discursos nas redes sociais. Receita para uma produção desastrosa, para dizer no mínimo. Com o orçamento absurdo de US$250 milhões, ‘Branca de Neve’ faturou ao redor do mundo apenas US$204 milhões, se tornando o maior fracasso do ano até o momento.
Novocaine: À Prova de Dor
Desde que ‘John Wick’ se tornou uma das franquias mais queridas do público, todo estúdio tenta desesperadamente tirar do papel o novo “John Wick” para chamar de seu. Ou seja, um filme criativo em suas cenas de ação, com bastante lutas coreografadas e matança estilosa e insana. Para ter uma ideia, apenas nesta lista teremos dois. O primeiro a chegar é este ‘Novocaine’, que até possui uma premissa interessante, de um sujeito com uma condição médica que o torna incapaz de sentir dor física.
Ele usa essa sua condição para se tornar um herói e partir para resgatar a namorada sequestrada. O que o filme não teve, no entanto, foi um astro para impulsionar o filme junto ao público. O papel protagonista ficou com Jack Quaid, um ator popular na TV graças ao sucesso do seriado ‘The Boys’. Em 2025, Quaid teve uma grande oportunidade de emplacar também no cinema, com este ‘Novocaine’ e ‘Acompanhante Perfeita’. Nenhum dos dois, apesar dos elogios da crítica e do público, se tornou verdadeiramente um sucesso de bilheteria, sequer chegando aos US$40 milhões mundiais.
Nas Terras Perdidas
Por falar em fracassos do cinema, agora talvez tenhamos chegado ao ponto baixo. Que me perdoem os fãs de Paul W. S. Anderson e sua esposa Milla Jovovich, mas as produções da dupla não estão nem perto de poderem ser consideradas boas. A franquia ‘Resident Evil’, por exemplo, com seus seis primeiros filmes, pode no máximo ser considerada um prazer culposo, daquele tipo que sabemos que é ruim, mas nos divertimos mesmo assim.
Infelizmente, o novo esforço da dupla, baseado em um conto do criador de ‘Game of Thrones’, está mais para ‘Monster Hunter’, filme de 2020 estrelado por Jovovich e dirigido por Anderson. E você já tinha ouvido falar dele? Pois é, poucos ouviram falar de ‘Nas Terras Perdidas’ e tem um motivo. Com orçamento de US$55 milhões… veja isso, o longa arrecadou apenas US$5 milhões mundiais.
Lobisomem
Alguns filmes chegam quase a doer quando sabemos que foram fracasso. Isso porque torcemos para que sejam bem-sucedidos, ainda mais quando vemos o envolvimento de algum diretor ou ator que gostamos. É o caso com este ‘Lobisomem’. Atrás das câmeras temos Leigh Whannell, o mesmo sujeito que entregou o criativo ‘O Homem Invisível’ (2020), um dos melhores e mais subestimados thrillers dos últimos anos, que subverte o conto clássico para os tempos modernos.
Ele tentou fazer o mesmo com ‘Lobisomem’ e caso tivesse Ryan Gosling no papel principal, talvez tivesse conseguido atrair mais público e interesse (o ator havia assinado para protagonizar, mas terminou saindo do projeto). O longa não conseguiu juntar nem mesmo US$35 milhões mundiais.
Alto Knights: Máfia e Poder
Robert De Niro estrelou alguns dos melhores filmes de máfia da história do cinema. Ele esteve presente, por exemplo, em ‘O Poderoso Chefão 2’, ‘Os Bons Companheiros’, ‘Cassino’ e mais recentemente em ‘O Irlandês’, de Martin Scorsese. Assim, todos os holofotes estavam virados para o ator octogenário quando ele assinou para fazer um novo filme do gênero, baseado em uma história real. Outros chamarizes eram o roteiro assinado por Nicholas Pileggi (o mesmo de ‘Os Bons Companheiros’) e a direção de Barry Levinson (o mesmo de ‘Bugsy’).
Talvez tenha faltado um ator de peso para contracenar com De Niro e não deixar carrega-lo sozinho esse peso. Já pensou como seria vê-lo dividindo a cena com um nome como Al Pacino de novo, por exemplo. Outra decisão polêmica foi ter De Niro vivendo dois papeis, os dos personagens antagonistas – que criou uma distração desnecessária. Com o custo de US$45 milhões em sua produção, ‘Alto Knights’ não rendeu sequer US$10 milhões mundiais.
Amor Bandido
Por falar na influência de ‘John Wick’ nos filmes de ação, como mencionado temos outro longa criado nos mesmos moldes depois de ‘Novocaine’ aqui na lista. E novamente, temos um longa que se beneficiaria da presença de um ator renomado protagonizando. Em ‘Novocaine’, Jack Quaid não foi o suficiente para chamar uma boa plateia, e aqui quem falhou foi o vencedor do Oscar Ke Huy Quan, que ainda não é um grande nome em Hollywood para arrastar multidões.
Aliás, temos dois vencedores do Oscar aqui, além de Quan, a carismática Ariana DeBose, que também não tem dado sorte com suas escolhas de projeto. Aqui, a sacada é que Quan vive um pacato corretor de imóveis, até que seu passado chega para acertar as contas com ele, revelando que o sujeito já foi um eficiente matador a la Keanu Reeves. O que conta a favor é que Quan já trabalhou como coreógrafo de lutas em Hollywood, e pôde criar cenas muito bem realizadas. Porém isso não foi o suficiente. O filme sequer conseguiu juntar US$20 milhões nas bilheterias mundiais.
Mickey 17
Outro que dói no coração. Esse inclusive conseguiu arrecadar críticas positivas, mas a verdade é que nem o público e nem os especialistas morreram de amores por ‘Mickey 17’, o novo trabalho do diretor sul-coreano Bong Joon Ho, que se tornou queridinho após entregar o que é considerado um dos melhores filmes dos últimos 10 anos no cinema, a divertida, precisa e assustadora crítica social ‘Parasita’, o primeiro filme não americano a vencer na categoria de melhor do ano no Oscar.
Bem, primeiro e único até agora. Mas quem conhece bem a carreira do diretor, sabe que ‘Parasita’ na verdade foi seu ponto fora da curva, já que o cineasta está acostumado com críticas sociais na forma de ficções científicas e filmes de monstro, como ‘O Hospedeiro’, ‘O Expresso do Amanhã’ e ‘Okja’. Aqui, ele tenta um esforço simplesmente esquisito e complexo demais, que terminou por afastar a maior parte do público. Embora tenha passado dos US$100 milhões, esperava-se bem mais para as dimensões desta superprodução.