Existe uma migração acontecendo no meio audiovisual que é a de produtores, diretores, cineastas no geral começando a produzir conteúdo para o meio da internet. Alguns em formatos de webséries, outros como curta-metragens direto para os serviços como youtube e/ou vimeo, e alguns partem para realizar canais de humor. O Canal Ventilador, criado por Isabella Nicolas e João Raggio, da produtora Book Filmes, se encaixa nesta última categoria e traz uma primeira temporada que se encontra com vídeos sendo lançados no momento, num total de 20 episódios.
O novo meio de humor brasileiro se diferencia por suas minisséries apresentadas, em que personagens fixos estampam os vídeos mostrados. Conversamos com Isabella Nicolas, Fernando Daghlian e Igor Cotrim (ambos atores do canal), para saber um pouco mais sobre o projeto. Confira:
Karolen Passos: Como surgiu a ideia do canal? E por que o nome ventilador?
Isabella Nicolas: A ideia do canal surgiu da pessoa aqui que não aguentava mais fazer cinema no Brasil, que é muito cansativo, muito demorado e muito pouco remunerado. Muitas horas de trabalho para pouca recompensa. Mas não queria parar de trabalhar com a galera. Eu e meu sócio, João Raggio, que já éramos sócios na editora, editávamos os nossos próprios livros, já tínhamos feito um piloto de uma série que virou um curta chamado ‘Balcão de Negócios’, que o personagem é o Igor (Cotrim) quem faz, decidimos então abrir um canal de humor, porque o João também adora escrever e escreve literatura de humor, era só uma questão de adaptar os textos dele para roteiro e começamos a escrever juntos. E não tinha o nome do canal. Ficamos procurando nome, surgia um e a gente não gostava muito, estava nesse impasse e o canal já para começar. Estava deitada na minha cama, e olhando o ventilador de teto, e pensei “cara, ventilador”, liguei para ele e ele disse “é isso aí, Bella, joga no ventilador”. E ficou o ventilador.
KP: Como cineasta e mulher, você vê dificuldade no mercado para mulheres por trás das câmeras no audiovisual, tanto por parte dos produtores quanto por parte do público?
IN: Não vejo algum. Tenho um problema com sexismo total. Perguntou para a pessoa errada. Nunca vi na minha vida a mulher ter menos lugar no seu espaço, não ganhei menos do que quem faz a mesma coisa que eu, nunca. Já tive momentos de fazer o mesmo trabalho que homens e ganhar mais do que eles. Esse papo, para mim, não funciona. Isso, para mim, quem fabrica somos nós. E eu vejo, por exemplo, produzi um curta que ganhou melhor curta em Nova York, a diretora que ganhou o longa foi uma mulher, as diretoras do Festival Brasileiro em Nova York eram mulheres. Muitos filmes eram de mulheres, se não eram diretoras, eram produtoras, ou diretoras de arte. Eu vejo a mulher bombando. Então, não vejo problema. Acho que o problema é causado, realmente, por uma mulher dentro de uma sociedade que ela aceita, se não aceita, não tem essa. Você ganha o salário que você aceita, se você impõe um outro salário, você vai receber um outro salário. A minha equipe tem muita mulher, não é uma questão de escolher, é que vem mulher talentosa trabalhar com a gente.
KP: Igor, você já assistiu Narcos?
Igor Cotrim: Não. Fiz questão de não assistir (risos). Já que iria fazer a sátira, eu prefiro não ver.
KP: Existe algo no personagem Marcos que seja diferente de todos os outros que você interpretou?
IC: Acho que é completamente diferente de qualquer coisa que já fiz. Realmente diferente de qualquer coisa mesmo. Porque tem essa brincadeira dele já não falar (uma língua coerente), porque até o portunhol que ele fala é ruim propositalmente. E ele é completamente para fora. Só que como ele tem essa coisa de explodir, de ser altamente caricato, só que às vezes tem o momento de calma, que aí eu posso brincar com a interpretação até dar uns rompantes. É uma oportunidade divertida! É a primeira vez que estou fazendo um personagem que participo da escritura, estou fazendo também o roteiro, para poder colocar essas ideias malucas. “É muita risa, es muy bueno de fazer”, (disse brincando na voz do personagem).
KP: Como é fazer as cenas com a Thais Belchior? E como foi gravar a esquete do “sadomasô”? Veremos erros de gravação?
Fernando Daghlian: Tem pra caramba (erros). Não sou muito adepto a “sadomasô”, não gosto de apanhar. Eu me sinto meio oprimido (risos). Mas o caso ali, o que acho engraçado, porque aparece um traço do homem que é a fragilidade, se colocar nessa situação nova. Mas é uma característica deste homem que não sabe onde se colocar, porque ele não pode ser mais aquele afirmativo, impor, ele não é o macho alfa, mas ele também não se anula. E essa mulher nova também, que não sabe se colocar perante essa nova situação. Tem um outro quadro que é o date, que é incrível, sabe, é a mulher morrendo de tesão e o cara “pô, tô perdido, não sei o que faço”, e a mulher quer comer o cara, come e o cara não sabe o que está acontecendo. Acho que uma coisa que a gente tem de qualidade é isso, tem total relação com o momento atual. Não é pejorativo, é uma brincadeira com isso de você ver o homem oprimido, ver a mulher oprimida.
IN: O Making Of vai se chamar ‘Exaustô’, vai ser aos sábados depois dos quatro episódios do Zé Junior.
FD: E contracenar com a Thais foi incrível, a parceria foi show. Não conhecia, conheci na hora, fizemos uma leitura. E todos os encontros aqui (de elenco e equipe) foram incríveis, é para vida.
KP: E Fernando, você acha que o Pepequinho precisa pedir alguma dica para a Dona Eulália?
FD: Ele precisa da Dona Eulália e do Marcos também (risos).
Para conferir os vídeos do Canal Ventilador basta clicar aqui e conferir os episódios do Marcos, do casal Pepequinho, da Dona Eulália e muito mais.