Neste sábado, dia 17 de julho, a 74ª edição do Festival de Cannes chegou ao fim com a consagração do perturbador e nauseante Titane, segundo filme da diretora francesa Julia Ducournau (Grave). Ela tornou-se a segunda diretora a ganhar o maior prêmio do evento, seguindo Jane Campion, por O Piano (1993), a qual obteve um empate com Adeus, Minha Concubina (1993), de Kaige Chen. Julia Ducournau é, portanto, a primeira mulher a ganhar sozinha a maior láurea do Festival de Cannes.
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Emocionada e surpresa com a premiação, Julia Ducournau subiu ao palco ao lado dos atores Agathe Rousselle e Vincent Lindon e agradeceu principalmente ao júri e ao presidente Spike Lee por escolher um filme fora dos “padrões” do evento. “Obrigada júri por aclamar por mais diversidade no cinema e em nossas vidas. Obrigada, júri, por deixar entrar os monstros”, declarou a diretora no Théâtre Lumière.
Em um discurso tocante e repleto de lágrimas, Julia Ducournau agradeceu também aos atores, produtores, distribuidores e aos seus pais por apoiá-la e deixá-la ser livre. Leia abaixo as palavras de agradecimento da ganhadora de 2021:
“Quando eu era pequena, era um ritual assistir a cerimônia na televisão com os meus pais e, nessa época, eu tinha certeza que todos os filmes premiados deviam ser perfeitos, porque eles tinham a honra de estar neste palco… E, esta noite, eu estou neste palco e eu sei que o meu filme não é perfeito. Eu sei que meu filme não é perfeito, mas eu acho que nenhum filme é perfeito aos olhos daqueles que o fizeram. Dizem que ele é monstruoso.
Agora que me tornei adulta e diretora me dei conta que a perfeição é uma ilusão passada… E a monstruosidade, que assusta algumas pessoas e permeia o meu trabalho, é uma arma, uma força para repelir o mundo da normatividade que nos cerceia e nos separa. Há tanta beleza, emoção, liberdade a serem descobertas no que não se pode colocar numa caixa…
Quero agradecê-los infinitamente. Ao júri, por reconhecer com esse prêmio a necessidade ávida e visceral que temos de um mundo mais inclusivo e fluído. Obrigado ao júri por aclamar por mais diversidade no cinema e em nossas vidas. Obrigada, júri, por deixar entrar os monstros”.
Julia Ducournau au bord des larmes lors de son discours tant l’émotion est forte. Maintenant, il ne vous reste plus qu’à aller voir cette Palme d’Or au cinéma 💫
#Cannes2021 pic.twitter.com/is2JF6Q7oY— CANAL+ (@canalplus) July 17, 2021
Antes desse momento, o presidente do júri Spike Lee quase estragou o fim da festa ao anunciar logo no início o vencedor da Palme d’Or. É rápido, mas é perceptível a palavra ‘Titane’. O rosto de desespero de Mélanie Laurent é compreensível, assim como resto da reação do júri. Veja o vídeo:
Entre os demais prêmios da noite, o ator norte-americano Caleb Landry Jones ganhou o de interpretação masculina, por seu papel em Nitram, enquanto a atriz Renate Reinsve recebeu a láurea feminina por The Worst Person in the World (A Pior Pessoa do Mundo). Já o diretor israelense Nadav Lapid (Ahed’s Knee) e o tailandês Apichatpong Weerasethakul (Memoria) compartilharam um empate no Prêmio do Júri.
A Melhor Direção foi dada para Leos Carax pela ópera rock Annette, filme de abertura do Festival. O encerramento da 74ª edição também foi marcada pela entrega da Palma de Honra ao diretor italiano Marco Bellocchio, responsável por filmes como Vincere (2009) e O Traidor (2019). A atriz e diretora Jodie Foster recebeu a mesma honraria na cerimônia de abertura.
Veja a lista de todos os premiados:
Palme d’or: Titane, de Julia Ducournau
Grand prix ex aequo: A Hero, de Asghar Farhadi e Compartiment Nº 6, de Juho Kuosmanen
Interpretação Masculina: Caleb Landry Jones (Nitram)
Prêmio do Júri ex aequo: Ahed’s Knee, de Nadav Lapid e Memoria, de Apichatpong Weerasethakul
Direção: Annette, de Leos Carax
Interpretação feminina: Renate Reinsve (The Worst Person in the World)
Roteiro: Drive my car, de Ryūsuke Hamaguchi e Takamasa Oe
Caméra d’or (Câmera de Ouro – Primeiro Filme): Murina, de Antoneta Alamat Kusijanovic
Palme d’or de curta-metragem: Tous les corbeaux du monde, de Tang Yi
Menção Especial de curta-metragem: Céu de Agosto, de Jasmin Tenucci
Prêmio Un Certain Regard: Les Poings Desserres, de Kira Kovalenko