Na próxima terça-feira, dia 14 de maio, começa a 77ª edição do Festival de Cannes, o maior evento de cinema do mundo. Este ano, o Brasil concorre à Palma de Ouro — a última vez foi com Bacurau , de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, em 2019; ganhador do Prêmio do Júri —, e apresenta ainda outros dois longas-metragens em mostras paralelas.
Além disso, nosso país é representado por dois curtas-metragens, um documentário sobre o atual presidente, e ainda uma obra memorável do nosso cinema, na seção Cannes Classics. Conheça todos os nossos sete representantes em detalhes abaixo e as possibilidades de prêmio para o Brasil. Afinal de contas, o Festival de Cannes é a maior janela cinematográfica da nossa sétima arte para o mundo.
Próxima Palma de Ouro?
Motel Destino, de Karim Aïnouz
Esta é a sexta participação de Karim Aïnouz no Festival de Cannes, desde a seleção de Madame Satã, na mostra Um Certo Olhar, em 2002. Com um prêmio de Melhor Filme da Competição Um Certo Olhar em 2019, por A Vida Invisível, o diretor cearense disputa pela segunda vez a Palma de Ouro, só que pela primeira vez pelo nosso país. O Brasil ganhou o prêmio maximo apenas uma vez com O Pagador de Promessas, de Anselmo Duarte, em 1962.
Ano passado, Karim Aïnouz apresentou Firebrand, protagonizado por Jude Law e Alicia Vikander, na mostra competitiva. O filme obteve uma recepção pouco calorosa — apenas 53% de apreciação no Rotten Tomatoes (RT) — e ainda é inédito no Brasil. Longe da Europa, Motel Destino é um thriller erótico rodado inteiramente no Ceará e protagonizado pelos atores locais Iago Xavier e Nataly Rocha, além de Fábio Assunção.
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Em coprodução com França e Alemanha, Motel Destino é descrito como um palco de jogos perigosos de desejo, poder e violência. Sua curta sinopse revela que numa noite, a chegada do jovem Heraldo (Iago Xavier) transforma em definitivo o cotidiano do local. Quando anunciado na seleção oficial de Cannes 2024, Karim Aînouz revelou mais sobre a obra:
“Eu me inspirei bastante na pornochanchada e no cinema noir. Posso resumir Motel Destino como um thriller erótico, mas ele é, antes de tudo, uma história de amor. O amor entre um jovem periférico que vive à revelia de um sistema que o quer morto e uma mulher que resiste aos atentados do patriarcado contra a sua própria vida”, compartilha o cineasta brasileiro. O filme estreia dia 22 de maio no festival.
Competições Paralelas
Baby, de Marcelo Caetano
Com seu segundo longa-metragem, sete após o elogiado Corpo Elétrico — lançado no Festival de Roterdã 2017—, Marcelo Caetano está entre os sete filmes em competição na Semana da Crítica. A mostra é organizada pelo Sindicato Francês de Críticos de Cinema e direcionada a revelar promissores diretores de primeira ou segunda viagem.
Em coprodução com França e Holanda, Baby narra a trajetória de Wellington (João Pedro Mariano) logo após ser liberado de um centro de detenção para jovens. Sem rumo, ele vê-se à deriva nas ruas de São Paulo. Durante uma visita a um cinema pornô, o rapaz conhece Ronaldo (Ricardo Teodoro), um garoto de programa, que lhe ensina novas formas de sobreviver. Aos poucos, a relação dos dois se transforma em uma paixão cheia de conflitos, entre a exploração e a proteção, o ciúme e a cumplicidade.
Além dos dois protagonistas, o elenco conta com Ana Flavia Cavalcanti, Bruna Linzmeyer e Cleo Coelho. Todos os atores e atrizes estarão presentes na estreia mundial no festival dia 21 de maio. Além dos prêmios da mostra paralela, Baby concorre a Palma Queer, prêmio criado em 2010 e concedido a filmes relevantes para o movimento LGBTQIA+, ao lado de Motel Destino e outros 16 títulos.
De acordo com anúncio da diretora da Semana da Crítica, Ava Cahen: “Baby é um retrato vibrante de um outsider tentando sobreviver em São Paulo. Romanesco em sua narrativa, esse melodrama queer, ora doce, ora duro, é o retrato de uma realidade social desafiadora ao mesmo tempo que conta uma história de amor moderna. Um filme emocionante e flamejante com atores carismáticos”, declara a curadora da mostra.
A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro
Selecionado para a mostra Quinzena dos Cineasta, a coprodução Brasil, Itália e França, A Queda do Céu, de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, é uma espécie de adaptação do livro homônimo de Davi Kopenawa, xamã Yanomami e um dos maiores líderes indígenas do mundo, e de Bruce Albert, antropólogo francês. No seu campo de estudo, a obra é considerada como um clássico contemporâneo.
Esta é a terceira vez do cineasta Eryk Rocha no Festival Cannes. Em 2004, ele apresentou o curta Quimera e, em 2016, recebeu o Olho de Ouro — L’Œil d’or, prêmio de Melhor Documentário no Festival —, por Cinema Novo, seu sétimo longa. Já Gabriela Carneiro da Cunha estreia em Cannes e na direção com este projeto, concorrendo ao prêmio Olho de Ouro 2024.
A Queda do Céu é centrado na festa Reahu, ritual funerário e a mais importante cerimônia dos Yanomami, que reúne centenas de parentes dos falecidos com a finalidade de apagar todos os rastros daquele que se foi e assim colocá-lo em esquecimento. O documentário segue três eixos fundamentais do livro: Convite, Diagnóstico e Alerta.
Com estreia marcada no dia 19 de maio no Festival, A Queda do Céu apresenta a cosmologia do povo Yanomami, o mundo dos espíritos Xapiri, o trabalho dos xamãs para segurar o céu e curar o mundo das doenças produzidas pelos não-indígenas, o garimpo ilegal, o cerco promovido pelo povo da mercadoria e a vingança da Terra.
Curtas-Metragens
Amarela, de André Hayato Saito
Com seu sétimo curta-metragem, Amarela, o cineasta nipônico-brasileiro André Hayato Saito faz sua estreia em Cannes. O filme concorre à Palma de Ouro da sua categoria, ao lado de outras 10 produções do mundo inteiro. A obra será apresentada no dia 24 de maio.
Amarela acompanha Erika Oguihara (Melissa Uehara), uma adolescente nipo-brasileira que rejeita as tradições de sua família japonesa e está ansiosa para comemorar um título mundial de futebol pelo Brasil. Em 1998, na final da Copa do Mundo, entre Brasil e França, ela vivencia uma violência que parece invisível e mergulha em um mar de emoções dolorosas.
A Menina e o Pote, de Valentina Homem
Após estreia em Cannes na Quinzena dos Realizadores em 2016, com o curta Abigail, Valentina Homem volta a Croisette na seleção de curtas da Semana da Crítica para apresentar A Menina e o Pote, no dia 21 de maio. Esta animação é adaptada de um conto escrito pela própria cineasta em 2012, uma parábola sobre cosmogonia ameríndia e plantas sagradas amazônicas.
Com técnica de pintura sobre vidro, A Menina e o Pote reflete a jornada da protagonista em um mundo distópico, no qual ao quebrar o seu pote — objeto que guarda um segredo em seu interior — abre portais para universos paralelos. A protagonista fala em Nheengatu, dialeto a partir de uma língua indígena de influência europeia no século XVI.
Sessões Especiais: clássico e documentário
Lula, de Oliver Stone
Ganhador de três Oscar, Oliver Stone dispensa apresentações. Ao lado do produtor Robert S. Wilson, o cineasta estadunidense constrói um retrato íntimo e evocativo de uma das figuras políticas mais influentes e populares do mundo: o atual presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva. Concorrente ao Olho de Ouro, o filme será apresentado na Cannes Première, no dia 19 de maio.
O documentário Lula explora a ascensão, queda e retorno triunfante do presidente nas eleições de 2022. Beneficiando-se de um acesso privilegiado sem precedentes a Lula e seus assessores mais próximos, Oliver Stone lança luz sobre a personalidade do carismático líder político durante uma série de entrevistas (sem filtros) e revela o lado de obscuro da operação anticorrupção “Lava Jato”, com a ajuda do jornalista investigativo Luke Harding, autor de Os Arquivos Snowden, cujas revelações levaram à libertação de Lula.
Bye Bye Brazil, de Cacá Diegues
Em celebração aos 44 anos de lançamento de Bye Bye Brazil na Competição pela Palma de Ouro em 1980 — abocanhada por Kagemusha, a Sombra de um Samurai, de Akira Kurosawa —, o Festival de Cannes projeta pela terceira vez a obra de Cacá Diegues em sua programação, a segundo foi em 2004. Protagonizado por Betty Faria e José Wilker, Bye Bye Brazil passa na seção Cannes Classics no dia 20 de maio.
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Com ousadia e coragem, o cineasta Carlos Diegues apresenta um país em plena transição industrial e política a partir dos personagens Salomé (Betty Faria), Senhor Cigano (José Wilker) e Andorinha (Príncipe Nabor), três artistas itinerantes que percorrem o país junto com a Caravana Rolidei. Eles se apresentam para o setor mais humilde da população brasileira que não tem acesso à televisão, pelo caminho junta-se a eles o acordeonista Ciço (Fábio Jr.) e sua esposa, Dasdô (Zaira Zambelli).
Cinema do Brasil em Cannes
Agente Secreto, de Kleber Mendonça Filho
Em entrevista ao CinePOP, no Festival de Cannes 2023, Kleber Mendonça Filho já havia revelado seu próximo trabalho em pré-produção: O Agente Secreto, ao lado de Wagner Moura (Guerra Civil) e Maria Fernanda Cândido (A Paixão Segundo G.H.). O longa é um suspense político ambientado em 1977, no qual Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário, está em fuga de São Paulo para o Recife, escapando de agentes da ditadura por conta das suas atividades consideradas subversivas.
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Com quatro passagens pelo Festival, uma delas com júri em 2021, Kleber Mendonça Filho apresentara o projeto à distribuidores internacionais durante o Festival de Cannes 2024. A estreia nos cinemas está prevista para 2025. Assim como outros projetos nacionais estarão presentes no estande Cinema do Brasil, no Marché du Film, isto é, Mercado do Filme abertos à negociação com produtores, distribuidores e vendedores internacionais.
Acompanhe o Festival de Cinema de Cannes no CinePOP, de 14 a 25 de maio de 2024.