Na manhã deste domingo, 18 de maio, o Festival de Cannes foi palco de uma coletiva de imprensa emotiva e íntima, com perguntas bastante pessoais sobre a relação dos protagonistas — Jennifer Lawrence e Robert Pattinson — com seus respectivos filhos. O novo filme de Lynne Ramsay, Morra, Amor, estreou na noite anterior e aborda um tema atual e por muito tempo considerado tabu: a depressão pós-parto.
Inspirado no romance homônimo da argentina Ariana Harwicz — indicado ao Booker Prize — com tons oníricos e perturbadores, a obra mergulha em temas como isolamento, maternidade, desejo e o limite tênue entre fantasia e realidade. “É como um pesadelo apaixonado”, comentou Ramsay. “Quis encontrar uma forma de fazer disso uma história de amor, com toda a dor e beleza que isso envolve.”
Jennifer Lawrence: “O pós-parto é uma experiência alienígena”
Visivelmente emocionada, Jennifer Lawrence falou sobre sua conexão com a história e com a personagem: “Eu tinha acabado de ter meu primeiro filho quando li o roteiro. Foi devastador e poderoso. A experiência do pós-parto é extremamente isolante, não importa onde você esteja. Você se sente como um alienígena. E a forma como Lynne retratou esse sentimento me comoveu profundamente.”
Voir cette publication sur Instagram
A atriz também compartilhou sua admiração de longa data pela diretora: “Queria trabalhar com a Lynne Ramsay desde que vi O Lixo e o Sonho (Ratcatcher, 1999). Nunca achei que isso fosse acontecer. Mas aqui estamos.” Ela ainda comentou como sua vida e, principalmente, suas escolhas profissionais mudaram com a chegada dos filhos: “Eu não sabia que podia sentir tanto, e o meu trabalho tem muito a ver com emoção. (…) Eu recomendo muito ter filhos se você quer ser ator”, brincou a protagonista.
Robert Pattinson e o papel masculino
Interpretando Jackson, o parceiro da protagonista, Robert Pattinson falou sobre o desafio de habitar um personagem aparentemente comum, mas emocionalmente complexo: “Ele é só um cara. Não tem vocabulário emocional para lidar com o que está acontecendo. Ele tenta se agarrar a um ideal de relação pura, mas não entende por que está tudo se despedaçando.”
Essa abordagem mais crua e realista da masculinidade atraiu Pattinson, conhecido por papéis intensos e sombrios: “Jackson me pareceu mais difícil justamente por ser alguém que tenta, mas não sabe como.” Com a chegada do primeiro filho no ano passado, Pattinson também comentou sobre suas novas perspectivas, dizendo que agora sente mais energia no dia a dia.
Também participaram da coletiva os atores Lakeith Stanfield e Sissy Spacek, que compartilharam suas impressões sobre a obra de Ramsay. Para Spacek, intérprete da sogra Pam, o filme ressoa como um “brilho de esperança depois de uma grande tempestade” vivida pelo casal protagonista. Já Lakeith Stanfield revelou ter ficado fascinado com a ambiguidade entre sonho e realidade explorada no longa.
Uma experiência visceral de renascimento
Esta não é a primeira vez que a diretora escocesa adapta um romance polêmico. Sua obra mais conhecida, Precisamos Falar Sobre Kevin (2011), também trata dos processos traumáticos da maternidade e, sobretudo, do sentimento de culpa. Nesta nova jornada, Ramsay propõe uma narrativa onírica e introspectiva junto com sua protagonista, tomando liberdades na adaptação do texto original em espanhol.
“O que tento fazer com todas as minhas adaptações é trazer o espírito do livro, traduzir esse espírito em uma visão”, explicou a cineasta. Ela afirmou ter preservado toda a sexualidade, criatividade e raízes da escritora Ariana Harwicz.
Por sua vez, Jennifer Lawrence comparou a cena inicial e a final de Morra, Amor — em que toda a vegetação está em chamas — a um momento de renascimento. Ela associou essa imagem à cena de Sandra Bullock emergindo das águas no filme Gravidade (2013), de Alfonso Cuarón. Dessa forma, para ela, o filme significa que após um forte momento de angústia, vem o despertar para uma nova realidade.