sábado , 11 janeiro , 2025
Início Site Página 13970

Armadilha

 

O que você faria se estivesse em um caixa eletrônico, em uma madrugada deserta, prestes a sofrer uma violência de um maluco encapuzado parado em frente à uma porta eletrônica? Dirigido pelo estreante em longas metragens, David Brooks, “Amadilha” (‘ATM’, como são chamados os “Caixas Eletrônicos 24 horas” nos EUA) tenta criar uma atmosfera de suspense que não surpreende nem gera medo em nenhum dos 90 minutos de filme.
Muito difícil saber quem está pior em cena, Josh Peck ou Alice Eve. Brian Geraghty ao menos se esforça ao seu máximo para tentar dar algum sentido ao seu medroso personagem.

Na trama, um amigo convence um outro de ir à uma festa de confraternização onde estará a garota de seus sonhos. Após um lance de sorte (bastante forçado, diga-se de passagem), o jovem apaixonado tem a chance de dar uma ‘carona amorosa’ à sua eminente conquista, porém, um amigo também embarca nessa viagem e o trio, após um pedido inusitado por comida, dá uma parada em um caixa eletrônico onde acabam em uma luta desesperada para salvar suas vidas quando ficam “presos” no local por um homem misterioso vestido com uma roupa de frio.

Quem assina o roteiro é Chris Sparling (que também fez o roteiro do ótimo “Enterrado Vivo”), pena que não consegue acertar com esse, como em trabalhos anteriores. Tudo é muito sem sentido e o material humano também não ajuda. Muitas das situações que vemos nas sequências são extremamente forçadas e sem um pingo de criatividade, deixa muito à desejar. É uma verdadeira maratona ir até o fim da fita.

Tem coisas que não dá para entender: 1) Porque eles decidiram ir até o “ATM” mais escuro, isolado e sombrio da cidade? 2) Porque o carro foi estacionado a muitos metros de distância da entrada do “ATM” ? 3) Qual o motivo do Serial “ATM”? Essas são apenas algumas, muitas outras vocês indagarão se forem ver esse longa que prometia ser ao menos interessante mas se perde do início ao fim.

Esse não vale nem levar aquela paquera para ver, o filme não dá medo! Se você quer pulos nas cadeiras ou uma trama intrigante corra para ver outra fita! Muito abaixo da média entre os filmes do gênero!

 

Crítica por: Raphael Camacho (Blog)

 

 

Argo

 

O que pensar de um filme que verdadeiramente salva pessoas? Baseado em fatos reais, “Argo”, é uma história inacreditável que mistura piadinhas hollywoodianas à uma tensão política que ocorreu entre Irã e EUA no final da década de 70 e início dos anos 80.
Dirigido pelo ator e também diretor (graças a Deus) Ben Affleck, o drama consegue prender a atenção do público, do início ao fim, nos poucos mais de 110 minutos de fita e tem tudo para ganhar muitos Oscars na próxima cerimônia dessa grande festa.

Na trama, somos guiados para o dia 4 de novembro de 1979 quando a embaixada americana no Irã foi atacada por militantes, fazendo inúmeros reféns. No meio desse caos, seis americanos conseguiram fugir por uma saída secreta e se refugiaram na casa do então embaixador canadense. Após acharem fotos de todos que estavam na embaixada, os militantes descobrem que faltam 6 pessoas e vão à caça dos mesmos. A CIA, sabendo disso, chama o especialista em “exfiltração” Tony Mendez (Ben Affleck) que arruma um plano incrível, inventar a gravação de um filme (uma ficção científica, à la “Duna”, talvez) e fazer os seis se passarem por parte dessa produção e assim retirar todos dessa zona de perigo.

Quem diria que um filme dentro de uma guerra gerasse uma trama tão inteligente inserido dentro dessa revolta mundial. O país todo dependia daquele ato, só alguns sabiam. O roteiro é bem amarrado, consegue utilizar clichês mas de maneira superficial, o que ajudará o longa a ter muita aceitação do mundo cinéfilo. O público não tira os olhos da telona, torce a cada instante para um desfecho positivo sempre guiados, dentro dessa tensão, pela fabulosa trilha sonora do genial Alexandre Desplat. Entre partidas de xadrez, cigarros e discussões a tensão aumenta a cada dia na vida daquelas seis pessoas. Os dramas individuais vão se unificando, totalmente reféns daquela situação que não tem fim. Destinam suas vidas a um homem com uma ideia mirabolante, fato que os deixam preocupados e em saber que decisão tomar (também, não era pra menos , né?).

Além de problemas políticos, vidas em risco, Cia, Governos, Eua e Irã, o filme tem um grande espaço para falar sobre cinema. Nessa ótica temos que aplaudir esse terceiro filme dirigido por Affleck e toda sua produção que fora impecável na retratação dessa grande história, principalmente o lado em que bate nessa grande indústria e seus envolvidos. Falando nisso, precisamos destacar os excelentes John Goodman e Alan Arkin. O primeiro interpreta o lendário John Chambers, artista famoso no mundo do cinema (ganhador do Oscar de melhor maquiagem por “Planeta dos Macacos” em 1968) que tem papel primordial para que a missão aconteça. Goodman consegue dar uma veracidade impressionante ao personagem sempre com ótimas sacadas. Já o segundo interpreta Lester Siegel, produtor famoso de décadas atrás, que junto com Chambers eram os únicos civis que sabiam de todo o plano. Arkin dá um show, humor, tensão e excelentes diálogos, merece todos os prêmios de coadjuvante no ano que vem. As duas atuações, marcantes, junto com o roteiro e a direção são os grandes pilares do filme.

Com tantos elogios, está feito o convite. O cinema salva vidas! Você duvida? Vá conferir nos cinemas!

Crítica por: Raphael Camacho (Blog)

 

 

Aqui é o Meu Lugar

 

Todos nós precisamos encontrar um rumo para nossas vidas. Com esse pensamento, a nova ‘dramédia’ dirigida pelo cineasta italiano Paolo Sorrentino, “Aqui é o meu Lugar”, mostra a história de um ex-roqueiro interpretado brilhantemente pelo ator californiano Sean Penn rumo à descoberta de novas diretrizes para sua tediosa vida.
A trilha muito agradável, assinada por David Byrne e Will Oldham, coloca o tempero certo para acompanharmos essa interessante trajetória.

Na trama assinada por Paolo Sorrentino e Umberto Contarello um deprimido ex-astro do rock, com uma vasta cabeleira preservada daqueles tempos, vai para os Estados Unidos em busca do carrasco de seu pai (com o qual não falava à 30 anos), um criminoso de guerra dos tempos do holocausto.

O personagem principal é um ex-roqueiro famoso que tem muitas peculiaridades, passando uma empatia fora do comum em cena. Conhecemos Cheyenne em seu casarão na Europa, onde mora com sua mulher Jane e vive uma vida pacata longe das badalações. Hoje em dia o ex-roqueiro vive uma vida limitada e monótona praticando esporte em uma piscina desativada ou indo ao shopping (sempre com sua mala de alça) conversar com uma vizinha, por quem tem um grande carinho. Começamos a entender melhor as aflições e conturbações que pairam naquela mente após Cheyenne saber do estado de saúde de seu pai. Nessa rota de fuga e liberdade, para achar um homem que fez mal ao seu velho, encontra a grande oportunidade que esperava há tempos: encontrar um novo sentido para sua vida.

Um fator muito interessante e que encaixa como uma luva na história é a excentricidade da esposa do roqueiro, Jane, interpretada pela ganhadora do Oscar Frances McDormand. Casada a mais de 30 anos com Cheyenne, a profissional do corpo de bombeiros tem cenas hilárias, às vezes praticando Tai Chi Chuan, outras vezes, praticando esporte com o marido.

O final da fita é bem emblemático e fecha bem todo o ciclo de descobertas que acompanhamos aos olhos do protagonista.

Curte filme Cult? Esse longa é uma grande pedida!

 

Crítica por: Raphael Camacho (Blog)

 

 

Aquarela – As Cores de uma Paixão

 

Sinopse: O pai de Carter o deixa passando um final de semana na casa de uma amiga. Ele se aproxima do filho dela, Danny. Entre os dois nasce um amor proibido.

As câmeras cinematográficas – aquelas que usam filme de celuloide – sempre fizeram um barulho tremendo. Como desde 1928 a maioria dos filmes são sonoros e os microfones captam o ruído, foram inventadas as chamadas câmeras blimpadas para solucionar a questão acústica. O aluguel desses equipamentos é mais caro do que das máquinas mais antigas e mais barulhentas. Por isso, muitas produções de baixo orçamento recorriam às câmeras sem proteção contra ruído.

Atualmente, com possibilidades mais baratas de captar as cenas em vídeo de alta-resolução, qualquer produção que teime em alugar câmeras que não são blimpadas mostra total descaso com o projeto de som. Infelizmente esse é o caso de Aquarelas – As Cores de uma Paixão (Watercolors).

Além do som da câmera ser audível em alguns momentos, há evidências de que todas as fases de construção sonora foram desleixadas (captação, edição e mixagem). Não há um ambiente sonoro pensado e em algumas cenas os microfones estão claramente mal posicionados, captando ruídos que se sobrepõem às falas dos atores.

Se o leitor conseguir eliminar os crimes contra a audição, poderá aproveitar uma bonita história de amor. As motivações dos personagens são bem autênticas, com destaque para a forma como Carter não assume para si mesmo sua homossexualidade, um drama comum em algumas pessoas.

O roteiro é bem inocente em certos sentidos e poderia tirar grande proveito de uma revisão para dar mais destaque para os elementos realmente importantes. Em mais de uma oportunidade Carter teme as reações de Henry ao descobrir a relação dos dois personagens principais, mas o espectador pode ficar se perguntando quem é o sujeito. Confesso que achei que se tratasse do pai de Carter, ou até do treinador de natação. Nem uma coisa nem outra, Henry não tinha ganhado uma apresentação decente.

O título é cheio de sentidos. O arco-íris é o símbolo do orgulho gay, Carter é nadador e a água remete a pureza do amor entre ele e Danny. Tudo isso faz sentido; no entanto, Danny é pintor e usa algumas técnicas durante o filme, sem nunca tocar em uma aquarela!

 

Crítica por: Edu Fernandes (CineDude)

 

 

Aquamarine

 

 

De tempos em tempos, Hollywood produz uma comédia adolescente que vai além da já sem graça batalha entre “winners” e “losers” da sociedade norte-americana. É o caso deste simpático “Aquamarine”, em que duas adolescentes encontram uma sereia dentro de uma piscina e precisam ajudá-la a conquistar um amor de verdade em apenas três dias – caso contrário, o belo ser mitológico terá de encarar um casamento forçado no fundo do mar.

Leve e bem humorada, a fita tem todos os ingredientes das melhores sessões da tarde: personagens carismáticos, em especial as amigas com 13 anos Claire (Emma Roberts, da série de TV do canal Nickelodeon “Unfabulous”) e Halley (a cantora e atriz Joanna ´Jojo´ Levesque), uma belíssima e convincente sereia (interpretada pela também cantora e atriz Sara Paxton, da série da rede NBC “Darcy”), divertidas batalhas entre a turma do bem e do mal, além de várias técnicas “infalíveis” de conquista.

Quando a sereia apaixona-se à primeira vista pelo salva-vidas boa pinta Raymont (Jake McDorman), por exemplo, rolam soltas na tela os valorosos e hilários conselhos de revistas femininas para chamar a atenção do ser amado, coisas do tipo “dê gargalhadas ao caminhar” e “elogie e suma”. O resultado deve garantir ao filme um generoso time de fãs adolescentes. Aquamarine é baseado no elogiado livro de Alice Hoffman, que, entre outras obras, escreveu “Da Magia à Sedução”, filmado com Nicole Kidman e Sandra
Bullock, e “Seu Amor, Meu Destino”. A direção foi entregue a Elizabeth Allen, que até então tinha dirigido apenas um curta, o premiado “Eyeball Eddie”.

 


Crítica por:
Edson Barros

 

 

Aproximação

 

Sinopse: O pai de Ana falece e lhe faz um pedido inusitado no testamento. Ela deve ir até a Faixa de Gaza conhecer a filha que teve na adolescência.

O cineasta Amos Gitai é nascido em Israel e em seu mais novo trabalho, o filme Aproximação (Disengagement), a história a ser contada se passa na desocupação da Faixa de Gaza. Para almejar certa imparcialidade, ele faz uma opção inteligente na dinâmica das câmeras. A todo o momento o que se vê são planos bem abertos e sem grandes movimentações, fugindo da câmera documental tão em voga no cinema contemporâneo. Se optasse por cortes e closes, haveria espaço para especular quais detalhes o diretor quer ressaltar e orientar o olhar do espectador.

Com isso, o filme acaba assumindo algumas características teatrais, para o bem ou para o mal. A atuação de Juliette Binoche (Paris), por exemplo, pode irritar quem não curte peças de teatro, mas pode ser bem recebida pelos fãs do tablado. Já o que foge da questão de gosto pessoal é a figura do rabino. Ele atravanca o desenvolvimento do enredo de tal forma, que algumas pessoas vão torcer para que haja uma cena de violência policial.

Outra tática nessa estratégia da neutralidade é a falta de trilha musical. Há cenas interessantes com uma cantora de ópera, mas a trilha clássica que toca ao coração é deixada de lado para não ficar apontando os momentos em que mais emoção deve ser investida.

O efeito colateral de tal escolha é deixar filme muito frio. Tanto que, na cena final, quando finalmente se tem a trilha a todo vapor, fica praticamente impossível resgatar a emotividade.

 


Crítica por:
Edu Fernandes (CineDude)

 

À Prova de Morte

 

Antes tarde do que nunca, meus amigos! Podem comemorar que finalmente (e desta vez é para valer) chega aos cinemas brasileiros a obra mais descompromissada de Quentin Tarantino, parte integrante do projeto Grindhouse, no qual o diretor uniu-se a Robert Rodriguez (Sin City) para formar um combo de filmes propositadamente tosco e ousado.

Planeta Terror, a outra parte, estreou no Brasil há quase dois anos, não foi muito bem de bilheteria, mas acabou virando um pequeno cult-trash.  Lançadas separadamente e em versões ampliadas no Brasil, as obras me pareceram melhores como combo – mesmo porque os longas dialogam entre si, com personagens  que aparecem nas duas histórias e com seus diretores fazendo uma ponta, assim como o amigo e também diretor Eli Roth -, especialmente no caso do filme do Tarantino, que já é bom com 110 minutos, mas seria ainda mais dinâmico com a redução do tempo de algumas sequências, especialmente as sequências de longas e fúteis conversas de bar.

À Prova de Morte (Death Proof) é o nome do imponente e assustador carro do dublê Mike (Kurt Russell), pensado para cenas de acidentes, mas que Mike usa para outras finalidades. De passagem pelo Texas, ele tem sua atenção voltada para algumas garotas do local.

Utilizando de equipamentos bem menos tecnológicos e pouca luz artificial, Tarantino assume uma estética trash oitentista e imagens muitas vezes embaçadas ou propositadamente cheias de falhas, inclusive falhas de montagem, cortes bruscos que antecipam-se ao término da cena – chegando inclusive a cortar clímaxes, como a ótima dança sensual de Rose McGowan – erros grotescos de continuidade e oscilações de colorização.

Mas incrivelmente boa parte da graça do filme vem dessas “falhas” e é possível perceber o quanto a equipe deve ter se divertido e feito um trabalho sem compromissos de entregar algo perfeito imageticamente. Na verdade, este é o filme que Tarantino pode se mostrar um tremendo tirador de sarro, mais do que costumeiramente o faz em outros longas.

A história inicia-se morna, mas fica cada vez mais interessante, quando surge em cena Kurt Russell e quando entra nos últimos trinta minutos, eletrizantes e deliciosamente feministas, pela presença das vingativas Kim (Tracie Thoms), Abby (Rosario Dawson) e Zoe (Zoe Bell), esta última a melhor do filme – e olha que originalmente ela nem atua, pois é quase sempre dublê.

À Prova de Morte é um filme para poucos. É feito para aqueles que curtem um cinema descompromissado e que consigam entender a proposta do diretor, sem reclamar das falhas ou achar que foi realmente mal feito.

No fim, a empolgação pode ser tanta que ficará difícil se conter ao som de Chick Habit, interpretada por April March.

Doido demais.

 
Crítica por: Fred Burle (Fred Burle no Cinema)

 

 

À Procura de Eric

 

À Procura de Eric, de Ken Loach, nos cinemas a partir desta sexta, 6 de novembro, não é, à primeira vista, um trabalho típico do diretor. Conhecido por ser engajado e transportar isso para seus filmes, Loach segue o mesmo caminho de Ang Lee e aponta para uma nova estrada, a da comédia. Mas os fãs do diretor não irão se decepcionar: nas entrelinhas é o bom e velho Loach de sempre, agora com boas doses de risadas.

A história gira em torno de Eric Bishop (Steve Evets), um carteiro da cidade de Manchester, na Inglaterra, apaixonado por futebol. Sua vida não é lá essas coisas, mas ele insiste em não olhar para frente: com um pé no passado e remoendo mágoas, acumula problemas e frustrações.

Seu grande ídolo é Eric Cantona, o jogador de futebol que idolatrado pela torcida do Manchester United nos anos 1990. E é o próprio Cantona que passa a visitar Eric em sua imaginação, dando conselhos e o ‘empurrãozinho’ que faltava para o carteiro aparar as arestas de sua vida. Com ajuda o ‘amigo’, Eric tenta resolver seus problemas com a ex-mulher e com um dos seus enteados. E percebe que, assim como no futebol, a vida também é uma caixinha de surpresas.

O longa tem como grande trunfo a dobradinha simpática entre Evets e Cantona. Há, no entanto, lá pelo meio da história, alguns momentos em que o jogador não aparece – quando a trama perde o ar de comédia e vira um drama tenso. Sente-se falta de Cantona neste trecho do filme, mas ele volta, nos momentos finais, para a redenção de Eric.

Cena a cena, À Procura de Eric vai crescendo em emoção, humor e referências a problemas corriqueiros que qualquer pessoa poderia ter. É essa identificação com o protagonista que aproxima o espectador do filme, sendo impossível resistir às suas imperfeições tão comuns ao ser humano. Os amantes de futebol terão ainda a chance de ver Eric Cantona em momentos históricos no campo. E é justamente aí que Loach se revela: o esporte que leva multidões aos estádios foi o caminho achado pelo diretor para fazer uma análise sincera e peculiar do Homem.

À Procura de Eric é o tipo de filme que conquista o público aos poucos, fazendo com que o personagem fique em nosso imaginário assim como Cantona ficou no dele. Simpático e simples, mexe com a massa, exatamente como o futebol. E, ao invés de aplausos, vamos fazer uma ‘ola’ para o Ken Loach. Ele merece.

 


Crítica por:
Janaina Pereira (Cinemmarte)

 

 

À Procura da Felicidade

 

 

Os anos 80 é a década em que vive o personagem de Will Smith. Chris Gardner, um vendedor talentoso e carismático, que através do trabalho e da esperança, sustenta sua família. Mas os problemas financeiros tornam-se mais graves e Gardner é abandonado pela esposa (Thandie Newton). Sozinho, ele passa a ser o único responsável por seu filho Christopher (Jaden Christopher Syre Smith), uma esperta criança de cinco anos.

À procura de estabilidade financeira, Gardner aceita estagiar, sem remuneração, em uma grande corretora financeira. Apesar das dificuldades geradas pela falta de dinheiro e até de moradia, Gardner não se deixa abater-se e segue sua meta: ser o candidato escolhido para a única vaga e assim, admitido no quadro de funcionários.

Humano, o filme expõe de maneira crua e realista a indirefença sofrida por aqueles que estão à margem da sociedade, mostrando a perda do respeito e da dignidade de quem não possui as “qualificações” exigidas para poder viver em grupo. O diretor Gabriele Muccino demonstra isso através de várias passagens, como quando Gardner é despejado de sua casa e precisa andar carregando seus objetos, inclusive para o trabalho. As dificuldades pelas quais ele está passando não são notadas pelos colegas, pessoas com as quais ele convive durante todo o dia. Seres tão condicionados, que se tornaram pessoas automatizadas.

Baseado em uma história real, À Procura da Felicidade é um filme bem conduzido. E o público se identificou com a história de Gardner. A ótima receptividade nos cinemas americanos e canadenses, onde o longa arrecadou US$ 27 milhões no primeiro final de semana, demonstra que o público freqüenta o cinema quando boas histórias são contadas.

Mas os críticos também reconheceram o trabalho do diretor Gabriele Muccino e indicaram sua obra em duas categorias ao Globo de Ouro – Melhor Drama e Melhor Canção Original. Já no Oscar, a indicação foi para o ator Will Smith, que concorre na categoria de Melhor Ator.

Antes de ser um bom entretenimento, À Procura da Felicidade é uma lição de vida. Um belo, humano e sensível filme que merece ser assistido.

Crítica por: Viviane França

 

Aprendiz de Feiticeiro

 

 

Merlin, o próprio, treinou três aprendizes: Balthazar Blake (Nicolas Cage), Maxim Horvath (Alfred Molina) e Veronica (Monica Bellucci). Sua missão era proteger os segredos mais poderosos da feitiçaria, mas Horvath se voltou contra seu mestre e juntou forças com a maligna Morgana le Fay (Alice Krige). Veronica aprisiona a alma da bruxa em seu próprio corpo, e as duas são trancafiadas em um artefato mágico. Ao longo dos séculos, Balthazar procura o jovem sucessor de Merlin, que será capaz de destruir le Fay de uma vez por todas. Dave (Jay Baruchel), nerd incurável que não sabe como se aproximar de Becky (Teresa Palmer), é esse jovem.

Com uma sinopse dessas, o que se pode esperar de O Aprendiz de Feiticeiro é diversão pura e quem procurar mais que isso não sabe brincar. Levando em conta, claro, que os realizadores saibam brincar, para começo de conversa. Existe bastante material para trabalhar no sentido do entretenimento, pois o filme anda pela fantasia, pelo romance, pela ação e pela comédia. E, pouco a pouco, todos esses gêneros, salvo o primeiro, vão sendo diminuídos ao que têm de mais desinteressante e tedioso.

Apesar de alguns diálogos inspirados, a relação de Becky e Dave raramente sai daquele esquema chato: a aproximação atrapalhada, a esperança de dar certo, a decepção e o final… bem, falar que não há surpresa é estragar a não-surpresa? É bonito, por outro lado, que o amor dos dois ganhe bastante tempo de cena. O romance é tratado com dignidade, e não como um detalhe burocrático da trama, como o momento “dama em perigo” atesta.

Já na ação, não há nada que compense a incompetência do diretor Jon Turteltaub. Apenas alguns momentos isolados tentam, sem sucesso, desenvolver algum ritmo, mas as a maioria das cenas ou sai atrapalhada, ou apressada ou as duas coisas. Até no quesito comédia os seis roteiristas conseguem algumas poucas falas espirituosas e referências nonsense a Chinatown, Star Wars e Fantasia. Isto em meio a piadas péssimas de “ai-meu-saco”, de “o-que-é-que-você-disse?” e de “ai-desculpe-eu-não-queria-ter-soado-ambíguo”.

Por fim, como fantasia, o filme consegue se manter agradável. A profusão de magias e feitiços consegue fazer jus ao trailer, que junta quase tudo de mais legal em dois minutos. É até divertido como os poderes dos feiticeiros são praticamente ilimitados, dependendo apenas da imaginação e da alta qualidade dos efeitos visuais. Fica, entretanto, uma ponta de decepção pelo subaproveitamento de vários encantos interessantes e pelo uso excessivo da tal bola de plasma, que perde a graça bem rápido.

Um último comentário sobre o elenco, que, dada a qualidade da coisa toda, surpreende. Baruchel, apesar da voz afetada e da gagueira constante, soa natural e simpático, e faz um contraponto com Cage, contido para seus padrões. Molina se diverte e faz questão de passar isso para sua performance, criando um vilão simples e interessante, enquanto deixa instantes de maldade pura se apossarem de Krige, frígida até quando seu rosto virou uma maçaroca de CGI. Palmer está bem, e não dá para esperar mais.

Se diversão é a palavra de ordem, O Aprendiz de Feiticeiro oferece minúsculos lampejos do que propõe. Ou seja, o espectador não precisa pedir muito para sair insatisfeito. Seria melhor passar menos tempo defendendo a postura de “filme só para divertir” e mais tempo divertindo de fato.

 

Crítica por: Pedro de Biasi (Universo Animado)