domingo , 22 dezembro , 2024

‘Círculo de Fogo’ | 10 anos da aventura mais subestimada da década passada

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Lançado em julho de 2013 nos EUA, Círculo de Fogo só chegou aos cinemas brasileiros em 9 de agosto do mesmo ano. Na época, esse atraso rendeu algumas reclamações, mas nada que impedisse os fãs de conferirem esta aventura nos cinemas. Afinal, os principais elogios da imprensa eram relacionados ao visual estarrecedor e à experiência incrível de poder assistir esse filme em uma tela gigante com som potente.



A trama era simples, mas os trailers prometiam algo grandioso. Inspirado nas grandes animações e longas japoneses de monstros gigantes, Círculo de Fogo se passa em um futuro distópico (quer dizer, era no futuro há 10 anos) em que criaturas gigantescas interdimensionais chegavam à Terra em ataques isolados por meio de um portal escondido no fundo do Oceano Pacífico. Adotando a nomenclatura japonesa, eles eram chamados de Kaijus. Diante dessas ameaças, os governos do mundo decidiram se proteger por meio de uma tecnologia inédita: robôs gigantes controlados física e mentalmente por uma dupla de pilotos humanos que sincronizariam suas mentes com as máquinas, transformando-os no sistema nervoso desses guerreiros metálicos, que deveriam expulsar os monstros na base da porrada.

Nesse contexto, o filme acompanha um antigo piloto que foi esquecido pelo governo após o engavetamento do programa, que acaba sendo trazido de volta quando os ataques passam a acontecer novamente. Agora, ele precisa se entender com sua nova dupla para salvar o mundo do maior ataque Kaiju já visto na história.

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Núcleo humano tem seu desenvolvimento, mas em momento algum ofusca os astros do filme: os robôs e os Kaijus

Por aí dá para perceber que a equipe criativa jamais almejou inovar, mas prestar uma grande homenagem ao cinema e às animações que encantaram as mentes de milhões de crianças e jovens através de gerações. E nesse ponto o longa é digno de aplausos. Um ponto muito divertido disso tudo foi o trabalho de Guillermo Del Toro, que escreveu o roteiro e dirigiu o filme com a visão de um adolescente que acabou de assistir Evangelion. Por isso, é de encher os olhos como sua criatividade narrativa e esmero em criar alguns dos designs mais fantásticos já vistos no cinema foram fundamentais para transformar uma obra simples numa aventura apoteótica de Robôs Vs. Aliens realmente empolgante.

Para conduzir essa trama, Del Toro ficou naquela zona cinzenta entre a ficção científica e a fantasia, trazendo elementos tecnológicos muito críveis e uma estética do núcleo humano bastante voltada para a ficção – tanto que o nome do filme, Círculo de Fogo ou Pacific Rim, faz menção a uma região que existe na vida real e ficou famosa por ser uma zona de intensa atividade vulcânica e com forte atividade sísmica na região norte do Oceano Pacífico – , deixando o núcleo monstruoso 100% trabalhado na fantasia, com direito a monstro malhado, monstro gordinho e até mesmo monstro voador grávido. Foi um trabalho exemplar de construção de universo, porque em suas pouco mais de 2h de duração, ele introduziu o cenário de guerra entre monstros e humanos, explorou brevemente os passados dos protagonistas e seus envolvimentos pessoais nesse conflito e mostrou de forma convincente como essa questão de ter monstros gigantes derrubando prédios dia sim, dia não influenciou na arquitetura das cidades, com direito a muralhas de defesa sendo construídas com mão de obra barata e condições de trabalho precárias e abrigos de emergência espalhados pelas ruas asiáticas.

Deixando tudo melhor, os robôs gigantes foram construídos exatamente neste limiar entre Ficção e Fantasia. Por se tratar de um projeto de anos, Del Toro aproveitou essa proposta para criar diversas gerações de robôs. Dessa forma, os mais novos eram tecnológicos e com um visual mais limpo, enquanto os das primeiras gerações eram surrados e mais grosseiros, como o G-2 da Rússia, que parece uma usina nuclear com pernas. Juntamente a isso, os nomes dados aos robôs gigantes foram extremamente criativos e descompromissados com qualquer possibilidade deles existirem na vida real. Adotando o máximo de estereótipos possíveis, o diretor nos brindou com pérolas como Cherno Alpha (Rússia), Striker Eureka (Austrália), Crimson Typhoon (China) e, claro, a Gipsy Danger (EUA). Esses nomes – que mais parecem apelidos de strippers – ajudaram a formar máquinas que não falam, mas exalam personalidade e carisma. E voltando para aquela história de estarem na interseção entre a Ficção e a Fantasia, todas as armas e ataques dos robôs são completamente fantasiosos, mas abordados de uma forma fictícia. A Gipsy Danger, por exemplo, usa uma espada retrátil que é mostrada como uma cinta que se desencaixa do braço e une suas peças, ficando rígida e servindo de arma. E eles também interagiam com o ambiente, então usavam os elementos disponíveis ao redor em como armas em situações desesperadas. E foi assim que ganhamos uma cena de um robô gigante usando um navio como porrete. Em tempos em que a “nanotecnologia” é usada quase como magia, ver um filme que se preocupa em mostrar uma tecnologia se portando de forma analógica é realmente um oásis no meio do deserto.

Crimson Typhoon, Gipsy Danger, Strike Eureka e Cherno Alpha em arte promocional do filme

Infelizmente, o filme custou cerca de 180 milhões de dólares e tinha uma grande expectativa da Warner de ser um sucesso estrondoso das férias. E essa expectativa acabou desanimando os executivos quando o longa saiu de cartaz com honestos 411 milhões de dólares. Círculo de Fogo não apenas se pagou, como também deu lucro de cerca de 10 milhões para a casa. Só que a ideia era arrecadar bem mais. Então, a ideia de Del Toro para uma sequência começou a ficar bem menos seduzente para quem botava dinheiro no projeto. E olha que o diretor tinha planos megalomaníacos para a saga. No ano seguinte, Gareth Edwards traria de volta para os cinemas Godzilla, o Rei dos Monstros. E na cabeça do diretor mexicano, com ambas as franquias sendo lançadas pela Warner, era apenas uma questão de tempo para concluir sua saga com um grande crossover entre o monstro mais famoso dos cinemas e seus robôs cheios de personalidade. E para o segundo capítulo, ele queria explorar a ligação neurológica entre um cientista e um Kaiju, trazendo até uma nova versão da Gipsy Danger, que seria meio robô meio monstro.

O visual neon das cidades foi uma clara homenagem às animações japonesas sobre robôs e monstros gigantes

O tempo passou e Del Toro não conseguiu o tão sonhado sinal verde para seguir com a franquia. Com isso, a Universal Pictures fez uma proposta e comprou os direitos para fazer a tal sequência. Aproveitando algumas das ideias de Del Toro, o novo filme contou com o mexicano apenas na produção, deixando a direção e o roteiro a cargo de Steven S. DeKnight. O resultado foi catastrófico, acabando com todos os fatores que tornaram o primeiro filme uma experiência diferenciada. Os novos personagens não tinham um pingo de carisma, a história foi sem sal e o maior crime de todo: os novos robôs não conseguiram mostrar nenhuma personalidade. Seus designs eram os mais genéricos possíveis e o estilo de direção tentou replicar os enquadramentos de Transformers, impedindo o público de curtir as armas e equipamentos de combate criativos como foi no anterior.

A sequência perdeu os elementos principais que faziam da saga uma aventura única e cheia de personalidade.

Por fim, mas não menos importante, precisei separar um parágrafo exclusivo para falar sobre a música tema do filme. Poucas vezes em um filme de aventura foi composta uma trilha tão fabulosa quanto esta. Claro que há as imortais composições de John Williams para longas como Tubarão, Jurassic Park, Superman, Star Wars e Indiana Jones, mas dentre as trilhas dos “mortais”, o tema de Círculo de Fogo ocupa um lugar muito especial. Composta por Ramin Djawadi, um jovem germano-iraniano que chamou a atenção de ninguém menos de Hans Zimmer, a trilha traz a síntese perfeita da trama com a megalomania dos robôs gigantes. E para deixar tudo ainda mais espetacular, sua orquestra contou com a participação de Tom Morello, guitarrista do Audioslave e do Rage Against The Machine, em quatro faixas, incluindo a lendária música tema.

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De verdade, é uma pena que esse filme tenha sido tão subestimado pela crítica e pelo público, que não souberam valorizar uma aventura cujo único compromisso era com a diversão megalomaníaca de um diretor que cresceu sob influência da cultura japonesa. Dez anos depois, diante da crise de CGI que vivemos e com o deserto de criatividade que viraram os filmes de grande orçamento, Círculo de Fogo envelheceu como um bom vinho para ser apreciado a qualquer hora.

Círculo de Fogo está disponível no catálogo do HBO Max.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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Lançado em julho de 2013 nos EUA, Círculo de Fogo só chegou aos cinemas brasileiros em 9 de agosto do mesmo ano. Na época, esse atraso rendeu algumas reclamações, mas nada que impedisse os fãs de conferirem esta aventura nos cinemas. Afinal, os principais elogios da imprensa eram relacionados ao visual estarrecedor e à experiência incrível de poder assistir esse filme em uma tela gigante com som potente.

A trama era simples, mas os trailers prometiam algo grandioso. Inspirado nas grandes animações e longas japoneses de monstros gigantes, Círculo de Fogo se passa em um futuro distópico (quer dizer, era no futuro há 10 anos) em que criaturas gigantescas interdimensionais chegavam à Terra em ataques isolados por meio de um portal escondido no fundo do Oceano Pacífico. Adotando a nomenclatura japonesa, eles eram chamados de Kaijus. Diante dessas ameaças, os governos do mundo decidiram se proteger por meio de uma tecnologia inédita: robôs gigantes controlados física e mentalmente por uma dupla de pilotos humanos que sincronizariam suas mentes com as máquinas, transformando-os no sistema nervoso desses guerreiros metálicos, que deveriam expulsar os monstros na base da porrada.

Nesse contexto, o filme acompanha um antigo piloto que foi esquecido pelo governo após o engavetamento do programa, que acaba sendo trazido de volta quando os ataques passam a acontecer novamente. Agora, ele precisa se entender com sua nova dupla para salvar o mundo do maior ataque Kaiju já visto na história.

Núcleo humano tem seu desenvolvimento, mas em momento algum ofusca os astros do filme: os robôs e os Kaijus

Por aí dá para perceber que a equipe criativa jamais almejou inovar, mas prestar uma grande homenagem ao cinema e às animações que encantaram as mentes de milhões de crianças e jovens através de gerações. E nesse ponto o longa é digno de aplausos. Um ponto muito divertido disso tudo foi o trabalho de Guillermo Del Toro, que escreveu o roteiro e dirigiu o filme com a visão de um adolescente que acabou de assistir Evangelion. Por isso, é de encher os olhos como sua criatividade narrativa e esmero em criar alguns dos designs mais fantásticos já vistos no cinema foram fundamentais para transformar uma obra simples numa aventura apoteótica de Robôs Vs. Aliens realmente empolgante.

Para conduzir essa trama, Del Toro ficou naquela zona cinzenta entre a ficção científica e a fantasia, trazendo elementos tecnológicos muito críveis e uma estética do núcleo humano bastante voltada para a ficção – tanto que o nome do filme, Círculo de Fogo ou Pacific Rim, faz menção a uma região que existe na vida real e ficou famosa por ser uma zona de intensa atividade vulcânica e com forte atividade sísmica na região norte do Oceano Pacífico – , deixando o núcleo monstruoso 100% trabalhado na fantasia, com direito a monstro malhado, monstro gordinho e até mesmo monstro voador grávido. Foi um trabalho exemplar de construção de universo, porque em suas pouco mais de 2h de duração, ele introduziu o cenário de guerra entre monstros e humanos, explorou brevemente os passados dos protagonistas e seus envolvimentos pessoais nesse conflito e mostrou de forma convincente como essa questão de ter monstros gigantes derrubando prédios dia sim, dia não influenciou na arquitetura das cidades, com direito a muralhas de defesa sendo construídas com mão de obra barata e condições de trabalho precárias e abrigos de emergência espalhados pelas ruas asiáticas.

Deixando tudo melhor, os robôs gigantes foram construídos exatamente neste limiar entre Ficção e Fantasia. Por se tratar de um projeto de anos, Del Toro aproveitou essa proposta para criar diversas gerações de robôs. Dessa forma, os mais novos eram tecnológicos e com um visual mais limpo, enquanto os das primeiras gerações eram surrados e mais grosseiros, como o G-2 da Rússia, que parece uma usina nuclear com pernas. Juntamente a isso, os nomes dados aos robôs gigantes foram extremamente criativos e descompromissados com qualquer possibilidade deles existirem na vida real. Adotando o máximo de estereótipos possíveis, o diretor nos brindou com pérolas como Cherno Alpha (Rússia), Striker Eureka (Austrália), Crimson Typhoon (China) e, claro, a Gipsy Danger (EUA). Esses nomes – que mais parecem apelidos de strippers – ajudaram a formar máquinas que não falam, mas exalam personalidade e carisma. E voltando para aquela história de estarem na interseção entre a Ficção e a Fantasia, todas as armas e ataques dos robôs são completamente fantasiosos, mas abordados de uma forma fictícia. A Gipsy Danger, por exemplo, usa uma espada retrátil que é mostrada como uma cinta que se desencaixa do braço e une suas peças, ficando rígida e servindo de arma. E eles também interagiam com o ambiente, então usavam os elementos disponíveis ao redor em como armas em situações desesperadas. E foi assim que ganhamos uma cena de um robô gigante usando um navio como porrete. Em tempos em que a “nanotecnologia” é usada quase como magia, ver um filme que se preocupa em mostrar uma tecnologia se portando de forma analógica é realmente um oásis no meio do deserto.

Crimson Typhoon, Gipsy Danger, Strike Eureka e Cherno Alpha em arte promocional do filme

Infelizmente, o filme custou cerca de 180 milhões de dólares e tinha uma grande expectativa da Warner de ser um sucesso estrondoso das férias. E essa expectativa acabou desanimando os executivos quando o longa saiu de cartaz com honestos 411 milhões de dólares. Círculo de Fogo não apenas se pagou, como também deu lucro de cerca de 10 milhões para a casa. Só que a ideia era arrecadar bem mais. Então, a ideia de Del Toro para uma sequência começou a ficar bem menos seduzente para quem botava dinheiro no projeto. E olha que o diretor tinha planos megalomaníacos para a saga. No ano seguinte, Gareth Edwards traria de volta para os cinemas Godzilla, o Rei dos Monstros. E na cabeça do diretor mexicano, com ambas as franquias sendo lançadas pela Warner, era apenas uma questão de tempo para concluir sua saga com um grande crossover entre o monstro mais famoso dos cinemas e seus robôs cheios de personalidade. E para o segundo capítulo, ele queria explorar a ligação neurológica entre um cientista e um Kaiju, trazendo até uma nova versão da Gipsy Danger, que seria meio robô meio monstro.

O visual neon das cidades foi uma clara homenagem às animações japonesas sobre robôs e monstros gigantes

O tempo passou e Del Toro não conseguiu o tão sonhado sinal verde para seguir com a franquia. Com isso, a Universal Pictures fez uma proposta e comprou os direitos para fazer a tal sequência. Aproveitando algumas das ideias de Del Toro, o novo filme contou com o mexicano apenas na produção, deixando a direção e o roteiro a cargo de Steven S. DeKnight. O resultado foi catastrófico, acabando com todos os fatores que tornaram o primeiro filme uma experiência diferenciada. Os novos personagens não tinham um pingo de carisma, a história foi sem sal e o maior crime de todo: os novos robôs não conseguiram mostrar nenhuma personalidade. Seus designs eram os mais genéricos possíveis e o estilo de direção tentou replicar os enquadramentos de Transformers, impedindo o público de curtir as armas e equipamentos de combate criativos como foi no anterior.

A sequência perdeu os elementos principais que faziam da saga uma aventura única e cheia de personalidade.

Por fim, mas não menos importante, precisei separar um parágrafo exclusivo para falar sobre a música tema do filme. Poucas vezes em um filme de aventura foi composta uma trilha tão fabulosa quanto esta. Claro que há as imortais composições de John Williams para longas como Tubarão, Jurassic Park, Superman, Star Wars e Indiana Jones, mas dentre as trilhas dos “mortais”, o tema de Círculo de Fogo ocupa um lugar muito especial. Composta por Ramin Djawadi, um jovem germano-iraniano que chamou a atenção de ninguém menos de Hans Zimmer, a trilha traz a síntese perfeita da trama com a megalomania dos robôs gigantes. E para deixar tudo ainda mais espetacular, sua orquestra contou com a participação de Tom Morello, guitarrista do Audioslave e do Rage Against The Machine, em quatro faixas, incluindo a lendária música tema.

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De verdade, é uma pena que esse filme tenha sido tão subestimado pela crítica e pelo público, que não souberam valorizar uma aventura cujo único compromisso era com a diversão megalomaníaca de um diretor que cresceu sob influência da cultura japonesa. Dez anos depois, diante da crise de CGI que vivemos e com o deserto de criatividade que viraram os filmes de grande orçamento, Círculo de Fogo envelheceu como um bom vinho para ser apreciado a qualquer hora.

Círculo de Fogo está disponível no catálogo do HBO Max.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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