quarta-feira , 20 novembro , 2024

Como Reese Witherspoon está ajudando a mudar Hollywood para mulheres

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Na página de Reese Witherspoon no IMDb, constam 7 títulos produzidos por ela entre 2003 e 2016 — incluindo o episódio piloto de uma série que jamais chegou a ser aprovada e um spin-off, para todos os efeitos desconhecido, de Legalmente Loira. Mas de 2018 para cá, já são 8 os projetos que ela tirou do papel como produtora — entre eles, os sucessos Big Little Lies, The Morning Show, Little Fires Everywhere e até mesmo uma série de organização de casas para a Netflix (‘The Home Edit – A Arte de Organizar’). Isso tudo sem contar os outros 11 projetos entre filmes e séries em vários estágios de produção para serem lançados nos próximos anos — de Legalmente Loira 3’ a ‘White Lie’, a biografia de uma jovem negra que consegue convencer os administradores de uma escola de elite de que ela é branca para conseguir estudar lá, que terá Zendaya como protagonista. Com sua produtora Hello Sunshine, a atriz que outrora ficaria conhecida como a eterna Elle Woods mudou sua própria trajetória em Hollywood e, no caminho, está criando veículos para várias mulheres fazerem o mesmo.

Em novembro de 2019, Margot Robbie e a roteirista de Aves de RapinaChristina Hodson anunciaram a criação de um laboratório de roteiro para ajudar mulheres a “furarem a bolha” no mercado de filmes de ação. A ideia era, através do workshop, ajudar essas profissionais, já atuantes em variados níveis, a formatarem os seus projetos e conseguirem vendê-los para grandes estúdios ou distribuidoras — todas ideias originais que pudessem ser produzidas por até US$ 30 milhões. Menos de um ano depois, os seis projetos (cinco filmes e uma série de TV) já foram vendidos e estão em desenvolvimento em parceria com Universal, Blumhouse e Warner Bros., por exemplo.



Para Witherspoon, a virada de chave veio do cansaço. Ela estava cansada de sempre receber ofertas para o mesmo tipo de papel, e também observava a ausência de personagens femininas centrais em histórias complexas e com forte apelo popular no cinema e na TV. Basicamente, os papéis que ela queria não estavam sendo feitos em lugar nenhum, então a atriz decidiu criá-los ela mesma.

O que veio depois disso foi a união estratégica de um espírito desbravador de uma ávida leitora (que muito se assemelha ao de Elle Woods ou Madeline McKenzie), com uma boa rede de contatos em Hollywood. Em 2012, Witherspoon já era cocriadora da produtora Pacific Standard, através da qual surgiram projetos como Livre (2014), Garota Exemplar (2014) e Belas e Perseguidas (2015). Da separação entre Reese e sua então parceira de negócios veio o que se tornaria o império da Hello Sunshine. 

Criada em 2016, praticamente um ano antes das acusações de abuso e assédio contra Harvey Weinstein que catapultaram o movimento #MeToo, a Hello Sunshine tem como objetivo colocar mais mulheres em frente às telas, e também vozes e rostos diversos por trás delas. Reese tem um clube do livro, e é das descobertas que partem dele que surgem muitos dos projetos que ela leva para o cinema e a televisão, sempre com o viés feminino em pauta. É claro que a Hello Sunshine não é a única companhia de produção focada em conteúdo dirigido, escrito e protagonizado por mulheres, mas o objetivo de Reese vai além: ela quer construir um estúdio de cinema e TV premium independente, com conteúdo liderado por mulheres e que vai diretamente para o consumidor em múltiplas plataformas.

Hoje, há filmes, séries e até podcasts da Hello Sunshine em desenvolvimento com plataformas como Facebook, Netflix, Apple TV+, Hulu, Starz e Amazon (para citar apenas alguns), e os efeitos do quanto o investimento da produtora tem funcionado já pode ser sentido reverberando por aí. Muitos dos projetos da LuckyChap Entertainment, a produtora de Margot Robbie, têm também uma clara assinatura: colocar mulheres sob os holofotes.

Criada em 2014, a LuckyChap já colocou no ar muitos filmes protagonizados pela própria Robbie (‘Eu, Tonya’,Aves de Rapina, Terminal), mas projetos recentes como Promising Young Woman, com Carey Mulligan, a série ‘Dollface’, de Kat Dennings, e a ainda inédita Maid, da Netflix e com Margaret Qualley, mostram que ainda há mais a ser explorado pelo selo. O laboratório de roteiro citado no início deste texto é um destes exemplos, uma vitória tanto pelo fato de inserir mais mulheres em um ambiente comumente dominado por homens (o de filmes de ação) quanto por conseguir emplacar vendas de projetos num tempo tão caótico quanto o do Covid-19. 

O resultado de tudo isso é visto a longo prazo, o que é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição para uma Hollywood que busca resultados cada vez mais imediatos. Com tantos projetos “empoderadores” ganhando as telas pela urgência do #MeToo ou pelos debates reacendidos sobre racismo e violência policial, não é raro filmes e séries bem intencionados cujo resultado é uma bagunça de informações que não convergem — O Escândalo e Green Book são exemplos disso, guardadas as devidas proporções. O que investimentos como os projetos de Reese Witherspoon e Margot Robbie fazem é dar espaço para que os roteiros sejam construídos com cuidado e pelas mãos certas. Por isso, ainda que obras comoLittle Fires Everywhere e ‘Eu, Tonya’ tenham lá suas imperfeições, a existência delas com personagens complexas que não se contentam ao posto simplista de mocinhas ou vilãs (e a ampla aprovação que receberam junto ao público) é um passo firme no caminho de uma indústria menos desigual. 

É claro que nada disso é filantropia, e as duas empresas estão ficando mais ricas com cada um desses filmes. Mas é importante salientar que o fator lucrativo é essencial para provar o ponto: não é apenas dizer que investir em diversidade e em múltiplas vozes no cinema e na televisão é importante para o futuro, mas que existe um mercado para essas obras, e este mercado está disposto a comprar.

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Laysa Zanettihttps://cinepop.com.br
Repórter, Crítica de Cinema e TV formada em Twin Peaks, Fringe, The Leftovers e The Americans. Já vi Laranja Mecânica mais vezes que você e defendo o final de Lost.

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Em novembro de 2019, Margot Robbie e a roteirista de Aves de RapinaChristina Hodson anunciaram a criação de um laboratório de roteiro para ajudar mulheres a “furarem a bolha” no mercado de filmes de ação. A ideia era, através do workshop, ajudar essas profissionais, já atuantes em variados níveis, a formatarem os seus projetos e conseguirem vendê-los para grandes estúdios ou distribuidoras — todas ideias originais que pudessem ser produzidas por até US$ 30 milhões. Menos de um ano depois, os seis projetos (cinco filmes e uma série de TV) já foram vendidos e estão em desenvolvimento em parceria com Universal, Blumhouse e Warner Bros., por exemplo.

Para Witherspoon, a virada de chave veio do cansaço. Ela estava cansada de sempre receber ofertas para o mesmo tipo de papel, e também observava a ausência de personagens femininas centrais em histórias complexas e com forte apelo popular no cinema e na TV. Basicamente, os papéis que ela queria não estavam sendo feitos em lugar nenhum, então a atriz decidiu criá-los ela mesma.

O que veio depois disso foi a união estratégica de um espírito desbravador de uma ávida leitora (que muito se assemelha ao de Elle Woods ou Madeline McKenzie), com uma boa rede de contatos em Hollywood. Em 2012, Witherspoon já era cocriadora da produtora Pacific Standard, através da qual surgiram projetos como Livre (2014), Garota Exemplar (2014) e Belas e Perseguidas (2015). Da separação entre Reese e sua então parceira de negócios veio o que se tornaria o império da Hello Sunshine. 

Criada em 2016, praticamente um ano antes das acusações de abuso e assédio contra Harvey Weinstein que catapultaram o movimento #MeToo, a Hello Sunshine tem como objetivo colocar mais mulheres em frente às telas, e também vozes e rostos diversos por trás delas. Reese tem um clube do livro, e é das descobertas que partem dele que surgem muitos dos projetos que ela leva para o cinema e a televisão, sempre com o viés feminino em pauta. É claro que a Hello Sunshine não é a única companhia de produção focada em conteúdo dirigido, escrito e protagonizado por mulheres, mas o objetivo de Reese vai além: ela quer construir um estúdio de cinema e TV premium independente, com conteúdo liderado por mulheres e que vai diretamente para o consumidor em múltiplas plataformas.

Hoje, há filmes, séries e até podcasts da Hello Sunshine em desenvolvimento com plataformas como Facebook, Netflix, Apple TV+, Hulu, Starz e Amazon (para citar apenas alguns), e os efeitos do quanto o investimento da produtora tem funcionado já pode ser sentido reverberando por aí. Muitos dos projetos da LuckyChap Entertainment, a produtora de Margot Robbie, têm também uma clara assinatura: colocar mulheres sob os holofotes.

Criada em 2014, a LuckyChap já colocou no ar muitos filmes protagonizados pela própria Robbie (‘Eu, Tonya’,Aves de Rapina, Terminal), mas projetos recentes como Promising Young Woman, com Carey Mulligan, a série ‘Dollface’, de Kat Dennings, e a ainda inédita Maid, da Netflix e com Margaret Qualley, mostram que ainda há mais a ser explorado pelo selo. O laboratório de roteiro citado no início deste texto é um destes exemplos, uma vitória tanto pelo fato de inserir mais mulheres em um ambiente comumente dominado por homens (o de filmes de ação) quanto por conseguir emplacar vendas de projetos num tempo tão caótico quanto o do Covid-19. 

O resultado de tudo isso é visto a longo prazo, o que é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição para uma Hollywood que busca resultados cada vez mais imediatos. Com tantos projetos “empoderadores” ganhando as telas pela urgência do #MeToo ou pelos debates reacendidos sobre racismo e violência policial, não é raro filmes e séries bem intencionados cujo resultado é uma bagunça de informações que não convergem — O Escândalo e Green Book são exemplos disso, guardadas as devidas proporções. O que investimentos como os projetos de Reese Witherspoon e Margot Robbie fazem é dar espaço para que os roteiros sejam construídos com cuidado e pelas mãos certas. Por isso, ainda que obras comoLittle Fires Everywhere e ‘Eu, Tonya’ tenham lá suas imperfeições, a existência delas com personagens complexas que não se contentam ao posto simplista de mocinhas ou vilãs (e a ampla aprovação que receberam junto ao público) é um passo firme no caminho de uma indústria menos desigual. 

É claro que nada disso é filantropia, e as duas empresas estão ficando mais ricas com cada um desses filmes. Mas é importante salientar que o fator lucrativo é essencial para provar o ponto: não é apenas dizer que investir em diversidade e em múltiplas vozes no cinema e na televisão é importante para o futuro, mas que existe um mercado para essas obras, e este mercado está disposto a comprar.

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