A recente estreia do novo “A Bruxa de Blair” reacendeu o interesse no gênero de terror. Porém, pouca gente sabe que o primeiro filme de 1999 não criou somente o gênero de “filmagem encontrada”, mas também foi um dos primeiros filmes a ter uma campanha viral que usou a internet para dar publicidade à “lenda da bruxa”, incluindo entrevistas falsas, o que fez muita gente acreditar que se tratava de uma história real e que os personagens haviam desaparecido. Foi uma grande jogada de marketing que ajudou o filme a ser um dos mais lucrativos da história e arrecadar mais de 240 milhões de dólares mundialmente.
Porém, mais assustador ainda é saber que muitos filmes de terror de sucesso feitos no passado e na atualidade foram baseados em pessoas e fatos reais. Pensando nisto, resolvi montar uma lista com 5 casos reais que ajudaram a inspirar filmes de terror bem-sucedidos que, em todos os casos citados, acabaram também gerando continuações e cativando uma legião de fãs, além de inspirar outros filmes do gênero.
Não se trata de um ranking e a ideia é descrever as versões mais aceitas dos fatos que envolveram cada caso macabro que pesquisei pela internet, mas é bom deixar claro que muitos desses relatos são questionados por investigadores e autoridades. Cabe a você julgar o que acha de cada relato e espero que também contribua nos comentários citando outros casos supostamente verídicos que ajudaram a inspirar filmes de terror.
– O Exorcista (1973)
Este clássico da década de 70 é considerado por muitos um dos filmes de terror mais assustadores de todos os tempos, mas nem todo mundo sabe que ele foi supostamente baseado em um caso verídico. O filme foi baseado em um livro que conta história de um garotinho de 13 anos que teria vivido em 1949 na cidade de Cottage, em Maryland, nos Estados Unidos, chamado Robbie Manheim ou Roland Doe (a Igreja Católica mudou o nome do garoto depois do evento). Seu tutor, conhecido como tio Harret, era sua única companhia. Harriet era espírita e lhe apresentou uma tábua Ouija para que Robbie pudesse se comunicar com os mortos, desde que ele seguisse a religião.
Por volta de 1948, o tio Harriet morreu e, desolado, Robbie teria tentado contatá-lo diversas vezes utilizando o instrumento que ganhara de presente. Poucos dias depois, os pais do garoto começaram a ouvir estranhos barulhos durante a noite, assim como passos no sótão da casa e ruídos de assoalhos sendo arranhados. Assustada, a família contatou o pastor luterano Luther Miles Schulze pedindo ajuda. O religioso chamou, posteriormente, médicos, psiquiatras e psicólogos para avaliar o comportamento do menino, mas todos saíram sem respostas.
Acreditando que Robbie estava possuído, Schulze chamou o padre católico romano Edward Hughes para realizar um exorcismo no hospital da Universidade de Georgetown, uma instituição jesuíta. Já na primeira sessão, Robbie fez um ferimento grave no padre e o ritual teve que ser interrompido. A família então pegou um trem para St. Louis, onde se encontraram com o padre Raymond J. Bishop e o reverendo William S. Bowdern, ambos da Igreja Católica, que assumiram o caso. Juntos, eles notaram que o garoto tinha aversão a elementos sagrados, tais como água benta, Bíblias e crucifixos. Após pedir permissão para realizar novos rituais, o padre Walter Halloran conduziu o exorcismo na ala psiquiátrica do hospital da Universidade de St. Louis.
Nas 30 sessões diárias, Halloran chegou a quebrar o nariz, dada a força descomunal que ele dizia que Robbie tinha enquanto estaria com o diabo no corpo. No 30º dia de exorcismo, em 18 de abril de 1949, Robbie teria “acordado”, dizendo não se lembrar de nada. A família mudou de casa e, segundo relatos, o garoto não foi mais atormentado. Em 20 de agosto, o ‘The Washington Post‘ publicou um enorme relato do caso, citando agora os nomes dos padres envolvidos no exorcismo. Segundo eles, durante o ritual, Robbie gritava como “um carneiro sendo abatido” e só falava em latim. Foi esse artigo que inspirou o escritor William Petter Blatty a escrever o romance ‘O Exorcista‘ que deu base para o longa.
– O Massacre da Serra Elétrica (1974)
Outro grande sucesso inesperado do gênero de terror na década de 70, o filme de baixíssimo orçamento de Tobe Hoper assustou o mundo com a história de uma família de assassinos brutais que torturavam, matavam e mutilavam suas vítimas. O roteiro foi baseado na figura de um assustador assassino em série, um homem que protagonizou uma história de terror verdadeira nos Estados Unidos na região de Plainfield, estado de Wisconsin, entre as décadas de 40 e 50.
Edward Gein, ou, simplesmente, Ed Gein, foi um dos assassinos mais insanos e frios da história e usava sim ferramentas como uma serra elétrica e facões para torturar e matar suas vítimas, na grande maioria mulheres. Conforme investigações da polícia, na época, Ed costumava arrancar partes do corpo de suas vítimas, como órgãos e a cabeça para cozinhar. Ele, inclusive, tirava a pele das pessoas que matava para usar sobre seu próprio corpo, como máscara ou roupas. Mas as atrocidades do assassino não paravam por aí: ele também adorava invadir cemitérios para roubar partes de cadáveres, usados para fazer pequenos troféus, que escondia em sua própria casa, como abajures feitos de pele e assim por diante. Um dos casos mais emblemáticos do homem que inspirou o filme O Massacre da Serra Elétrica aconteceu em 1947. A vítima foi Georgia Wecler, uma garotinha de apenas 8 anos de idade, que simplesmente desapareceu. Segundo relatos, os moradores de Plainfield se mobilizaram para encontrar a menina, mas nenhum vestígio de seu corpo foi encontrado. As pistas sobre o assassino só começaram a aparecer depois de 1957, quando o homem voltou a atacar. A vítima, dessa vez, foi a dona da taverna, Bernice Worden. Segundo registros da polícia, foram os próprios funcionários do estabelecimento que fizeram a denúncia, ao notar a falta da mulher e descobrirem um rastro de sangue que saía do local.
Como estava acostumado com o anonimato, Ed Gein foi encontrado, sem qualquer preocupação, almoçando em um restaurante local. Antes de liberar o então suspeito, no entanto, a polícia resolver checar a casa onde Ed vivia e, segundo os altos da investigação, o que encontraram lá dentro era sinistro. O que mais deixou os policiais chocados foi encontrar partes de cadáveres na casa, como cabeças e órgãos, e o corpo de Berenice, a dona da taverna, decapitado, aberto ao meio dissecado e pendurado pelos pés. Porém, mesmo com toda a investigação policial que foi realizada durante meses, a justiça só conseguiu provar o envolvimento de Edward com dois homicídios. Por ser considerado mentalmente incapaz, Edward Gein terminou seus dias no Mendota State Hospital, um hospital psiquiátrico. Ele morreu em 26 de julho de 1984, por falha cardíaca e respiratória, devido à complicação de um câncer. Além de ‘O Massacre da Serra Elétrica’, as atrocidades cometidas por Edward Gein acabaram inspirando outras produções como ’O Silêncio dos Inocentes’ e ‘Psicose’.
– Invocação do Mal (2013)
Um dos elementos que transformou “Invocação do Mal” de 2013 no filme de terror do ano foi o fato de a trama ser inspirada em uma história real e isso inclusive isso foi usado na publicidade do filme. Nos anos 1970, o casal de investigadores paranormais Ed e Lorraine Warren ajudou uma família aterrorizada por eventos estranhos em sua casa no interior de Rhode Island, nos Estados Unidos. Os Warren afirmam que sua investigação do caso conhecido como “Harrisville Haunting” (“Assombração em Harrisville” / “Caso Harrisville”) ou “Perron Haunting Family” (“Assombração da Família Perron”), “foi a investigação mais intensa, convincente, perturbadora e importante” de suas carreiras.
Roger Perron, sua esposa Carolyn, e suas cinco filhas Andrea (Annie), Nancy, Christine, Cindy, e April sofreram uma década de tortura por parte dos espíritos que ocuparam sua casa de campo. A família Perron começou a perceber que algo estava errado desde o primeiro dia em que pisou em sua linda casa nova. Mais tarde souberam que oito gerações de famílias viveram e morreram na Velha Fazenda Arnold, incluindo a Sra. John Arnold, que com 93 anos se enforcou nas vigas do celeiro. A princípio, os fantasmas, ou espíritos demoníacos como os Warren acreditavam, eram inofensivos.
Descritos como opacos ou pouco sólidos na aparência, havia muitos espíritos presentes na velha casa. Além de entidades fantasmagóricas, os Perron testemunharam muitos outros fenômenos estranhos e inexplicáveis. Camas levitavam alguns centímetros do chão, um aparelho de telefone pairava no ar e caiu bruscamente batendo na base do telefone quando alguém entrou na sala, e vários objetos plainavam pela casa por conta própria. Muitas vezes, cadeiras eram puxadas de repente debaixo de um convidado desavisado e fotografias caiam das paredes.
O fantasma mais horrível na casa tinha como alvo a Sra. Perron especificamente. Conhecido como Bathsheba, a entidade é possivelmente o fantasma de Bathsheba Sherman, que, segundo as más línguas, foi uma bruxa praticante do satanismo que tinha vivido na casa no início do século 19 e morreu ali depois de se enforcar em uma árvore atrás do celeiro. Infelizmente, a verdadeira história da assombração da família Perron terminou de forma diferente da retratada no filme “Invocação do Mal” (The Conjuring). Na realidade, os Warren não tiveram sucesso na tentativa de libertar a família Perron de seu tormento infernal. Carolyn Perron lembrou da “terrível noite” e explicou que, apesar das intenções dos Warren serem boas, eles perceberam que as coisas “pioraram em torno deles”. Como a situação ficou fora de controle, Roger Perron exigiu que os Warren deixassem o local imediatamente. A família, que havia sofrido 10 anos por não ter condições financeiras de se mudar, finalmente conseguiu sair da casa e seguir com suas vidas.
– Brinquedo Assassino (1988)
Este filme que foi um sucesso na década de 80 teve várias continuações e mostra a história de um assassino que transfere seu espírito para o corpo de um boneco e continua a deixar um rastro de vítimas e sangue. A trama foi baseada no caso de um boneco verdadeiro que supostamente atormentou a vida de mais de uma família. Em 1896, uma empregada – praticante de Vodu, segundo a história – descontente com seus patrões resolveu fazer algo para “retribuí-los”. Ela deu de presente ao filho do casal, Robert Eugene Gene, um boneco de 1 m de altura e recheado de palha. Tinha um rosto humanizado e se tornou muito adorado pelo garoto. Ele decidiu chamar o boneco de “Robert”. O boneco se tornou companhia inseparável de Gene e seu pai costumava ouvi-lo constantemente falando com o boneco. Isso seria normal, se os pais não ouvissem Gene respondendo a si mesmo com uma voz completamente diferente da sua.
Coisas estranhas começaram a acontecer e vizinhos diziam ver Robert aparecer de janela em janela, quando a família estava fora de casa. Gene começou a culpar Robert quando algo errado acontecia. Seus pais diziam ouvir risos do boneco e podiam jurar ver o vulto de Robert correndo pela casa. Gene começou a ter pesadelos e acordar gritando. Quando seus pais entravam no quarto, encontravam-no bagunçado, com móveis virados, com o menino encolhido com medo e o boneco nos pés da cama sentado.
“Foi o Robert!”… O boneco foi colocado no sótão e ficou lá por muitos anos. Quando os pais de Gene morreram ele redescobriu Robert no sótão. Visitantes diziam ouvir passos indo e vindo no sótão e estranhas risadas, após um tempo as visitas cessaram na casa de Gene, que morreu em 1972 e a casa foi vendida a uma outra família e o conto de Robert foi esquecido. Mas o boneco esperou pacientemente até ser redescoberto no sótão pela filha de 10 anos dos novos proprietários da casa. Pouco tempo depois a menina começou a se queixar que Robert a torturava e infernizava sua vida.
Mesmo após 30 anos ela continua a afirmar que “O boneco estava vivo e queria matá-la”. Robert, ainda vestido em sua roupa branca de marinheiro vive confortavelmente, ainda que bem guardado, no Key West Martello Museum. Funcionários do museu continuam a relatar que Robert ainda faz seus velhos truques nos dias de hoje.
– A Hora do Pesadelo (1984)
Sem dúvidas, esta é uma das obras mais reconhecidas criadas pelo mestre do terror Wes Craven. Porém, quase ninguém sabe que ele se baseou em uma história real para criar o “assassino dos sonhos” Freddy Krueger. Wes Craven se inspirou num artigo que leu no LA Times que relatava a morte de pessoas durante o sono. Foi uma série de relatos sobre homens no Sul da Ásia que eram de famílias imigrantes e que morreram durante um pesadelo, sem que haja conexão entre eles, disse Craven numa entrevista em 2008.
Uma delas era sobre o filho de um físico. Ele tinha 21 anos e foi considerado um fenômeno em Laos, Camboja. Todos da família falaram a mesma coisa: ‘Você deve dormir’. Ele respondeu: ‘Não, você não entende. Sempre tive pesadelos, mas este é diferente’. Ele não queria dormir, nem com pílulas. Passaram-se seis, sete dias. Finalmente, ele estava assistindo televisão e acabou cochilando no sofá, e seus familiares disseram: ‘Graças a Deus’. Eles o carregaram para a cama, completamente exausto. Todo mundo foi para a cama pensando que os problemas tinham terminado. No meio da noite, eles foram acordados com gritos e um barulho. Correram para o quarto, mas quando chegaram lá ele já estava morto.
Uma autópsia foi realizada e não houve constatação de ataque cardíaco; ele simplesmente morreu de causas inexplicáveis. Em seu guarda-roupa, havia uma garrafa com café quente, usada para se manter acordado, e várias pílulas para dormir que a família acreditava que ele costumava tomar. Foi uma história dramática e incrível, que intrigou a região por cerca de um ano. Os cientistas chamam isso de Síndrome da Morte Súbita Inesperada Noturna (ou SUNDS) e ainda não é totalmente entendida. Ela parece afetar principalmente os homens do Sudeste Asiático, mais comumente nas Filipinas, onde é conhecido como “bangungot”. Embora mate 43 a cada 100.000 pessoas por ano lá, a SUNDS ainda está envolta em superstição, devido à natureza inexplicável do fenômeno.