quarta-feira , 20 novembro , 2024

Conheça a franquia Black Christmas | Um Clássico do Slasher

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Recentemente, Natal Sangrento (2019), controverso terror feminista, chegou às plataformas de streaming através do Telecine Play. O filme não foi exibido nos cinemas brasileiros numa época pré-pandemia devido ao seu fracasso de crítica e bilheteria nos EUA. No entanto, Black Christmas (no original) tem um histórico longo, para muito além desta nova produção. O novo filme é na realidade a refilmagem de um clássico da década de 1970, que ajudou a definir o que temos hoje, e principalmente tivemos na década de 1980, quando o assunto é terror e o subgênero slasher.

Pensando nisso, como forma de homenagem a este verdadeiro marco do cinema de gênero, formulei esta nova matéria que visa pôr um pouco de luz em cima não apenas do clássico (embora principalmente nele), mas também de suas refilmagens. Confira abaixo.



Noite do Terror (1974)

O Black Christmas original é um destes filmes que já tiveram alguns títulos diferentes no Brasil. O que conta é seu nome original, pelo qual é reconhecido mundialmente e nunca confundido. Atualmente por aqui, ele é comumente mais chamado de Noite do Terror.

Existe um debate sobre qual de fato foi o primeiro filme do subgênero slasher, com alguns inclusive apontando para o clássico Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, ou para o mais obscuro A Tortura do Medo – do mesmo ano. Uma coisa é certa, eles se popularizaram com Halloween (1978), de John Carpenter. Antes disso, porém, algumas produções já marcavam o que viria a se tornar os slasher ainda no início da década de 1970, como O Massacre da Serra Elétrica (1974). No mesmo ano, Black Christmas causava certo frisson.

Além disso, o filme pode ser considerado o precursor no subgênero slasher de “datas comemorativas”, utilizando o natal como palco para seu terror. Depois seguiriam o dia das bruxas (Halloween), o dia do azar Sexta-Feira 13 (1980) e o dia dos namorados (O Dia dos Namorados Macabro, 1981), por exemplo. Na trama de Black Christmas, o cenário é uma casa de sororidade, popular local de moradia para jovens universitárias nos EUA. Na residência, habitada por diversas estudantes, as moças começam a ser eliminadas em segredo uma a uma. E o pior, tudo acontece de dentro da própria casa. Este é um dos elementos mais nervosos e assustadores da produção dirigida por Bob Clark – que depois viria a ficar conhecido pelas comédias bem diferentes entre si, Porky’s – A Casa do Amor e do Riso (1981) e Uma História de Natal (1983) – focando na mesma data com outro teor. As residentes começam a receber estranhos telefonemas, com frases desconexas e barulhos aterrorizantes. A hostilização típica de uma época não tecnológica é um dos principais aspectos de horror da obra. Assim descobrimos que os telefonemas estão vindo de dentro da própria casa, do sótão, onde um maníaco se esconde, e leva suas vítimas após serem abatidas.

A identidade do psicopata insano nunca é revelada, e mal chegamos a ver o sujeito. Vislumbramos partes de seu corpo em seus ataques, ou seu olho quando espreita entre as frestas, por exemplo. Sequer sabemos sua intenção, de onde veio, quem ele é ou seu destino, já que o final é ambíguo e aberto. Em um dos momentos mais icônicos da obra, o maníaco mata uma de suas vítimas sufocada com um saco plástico, e a posiciona estrategicamente sentada em uma cadeira de balanço no sótão, virada para a janela do local. A imagem da moça com o plástico na cabeça é utilizada como arte para o cartaz do filme. No elenco, nomes famosos da época como Olivia Hussey (Romeu e Julieta, Morte Sobre o Nilo, Psicose 4 e It: Uma Obra-Prima do Medo), Margot Kidder (a Lois Lane dos filmes do Superman com Christopher Reeves e Terror em Amityville) e John Saxon (A Hora do Pesadelo).

O maior acerto desse terror intimista e de ritmo deliberadamente lento para os padrões de hoje, é a construção de uma atmosfera de puro medo, onde aos poucos somos levados ao último lugar que estas personagens desejariam estar. O problema é que tal lugar é sua própria casa. Fora isso, existe ambiguidade sobre quem de fato é o vilão, quando os realizadores brincam as possibilidades de um whodunit entre os personagens. Produção canadense, Noite do Terror estreou em seu país de origem no dia 11 de outubro, pegando carona para o dia das bruxas. Nos EUA, atingiria a data certa no dia 20 de dezembro do mesmo ano.

Natal Negro (2006)

Mais de acordo com o título original, este remake produzido pela Dimension Films (mesma de Pânico / subsidiária da Miramax de Harvey Weinstein) chegava 32 anos após o lançamento de Noite do Terror. A refilmagem pegou carona na tendência que rolava em Hollywood no período, a de reimaginar os clássicos do gênero da década de 1970. Assim, o diretor Glen Morgan (produtor de Arquivo X e Premonição 3) tirava do papel sua visão do clássico – assinando roteiro e direção. Para esta nova versão, o cineasta confeccionou uma grande homenagem, demonstrando respeito e adoração pela obra anterior. Por exemplo, o serial killer “Billy” e seu pseudônimo Agnes ganham imenso destaque, recebendo inclusive uma backstory (um passado ou história de origem) pra lá de bizarra e perturbadora. Morgan também aumenta o gore ao volume máximo, criando um filme extremamente violento e dando aos fãs do gênero o que eles realmente esperam. Aqui já vivíamos a era dos celulares, então isso entrou em jogo sendo adicionado ao roteiro e dando certa mobilidade às vítimas.

Para completar, Morgan recheia o seu longa com a presença de algumas jovens estrelas promissoras, que já tinham certa fama na época. Os nomes que ainda se mantém conhecidos são os de Mary Elizabeth Winstead, Katie Cassidy, Michelle Trachtenberg e Lacey Chabert. Ah sim, a cereja no bolo é o envolvimento do criador original Bob Clark na capacidade de produtor, dando ao filme a validação que necessitava. Porém, apesar de todos os seus atrativos, uma boa parte técnica, que inclui ótima fotografia, os fãs e críticos simplesmente não se sentiram cativados por esta releitura do clássico. Lançado no dia 25 de dezembro de 2006 nos EUA, Natal Negro, com um orçamento de US$9 milhões, viu o retorno de US$21.5 milhões mundiais. No Brasil, sequer sendo lançado nas salas de cinema e demorando bastante tempo para aterrissar por aqui. A palavra que mais jogou contra o filme é exagero.

Natal Sangrento (2019)

Recentemente, escrevi sobre a polêmica envolvendo este segundo remake de Black Christmas em menos de quinze anos. Precisava? Provavelmente não. Mas o que a diretora e roteirista Sophia Takal faz aqui é pegar apenas o título e o conceito básico (estudantes de uma universidade são atacadas e mortas uma a uma numa casa de sororidade durante o feriado do natal) e reformular toda a história, conceito e reviravoltas. O que inclui varrer para debaixo do tapete tudo o que envolve o psicopata Billy e seu alter ergo Agnes. Ou seja, esta é a versão que se mantém mais longe da cartilha que formou os anteriores. A grosso modo seria fazer um filme de Sexta-Feira 13 sem Jason ou Halloween sem Michael Myers. Bem, isso já foi feito no passado destas franquias, mas hoje pode ser inconcebível.

Os fãs sempre clamam por reimaginações que tentem fazer algo diferente. E é justamente nesta seara que a diretora Takal posiciona seu novo Black Christmas. Este é na realidade a menor das reclamações quanto ao filme. E se a versão de 2006 aumentou demais o gore, esta edição de 2019 o diminuiu ao ponto de excluir qualquer indício de violência ou palavrões. Este é o Black Christmas mais domado dos três, para dizer no mínimo. O motivo foi apelar a um público maior, em especial meninas adolescentes que não poderiam entrar caso contrário. A censura é treze anos. Algo que nenhum fã hardcore de terror gosta muito.

O que mais marcou Natal Sangrento, no entanto, foi sua agenda feminista. O discurso aqui não é nada sutil. Os homens são os vilões e as mulheres as heroínas que irão combate-los. Abuso sexual, masculinidade tóxica, machismo e estupro entram em pauta, e são todos temas muito dignos para este tipo de propaganda. O problema é que deviam ter sido melhor trabalhados. O filme tem sua cabeça no lugar certo, mas talvez a falta de experiência da diretora que também assina o roteiro tenha atrapalhado. Fora isso, o longa da Blumhouse teve apenas 5 meses desde seu anúncio (incluindo pré-produção, filmagens e pós) para ficar pronto. E tendo isso em mente é até admirável. Mas a obra termina se perdendo e saindo do trilho em seu desfecho, ao acrescentar na trama elementos sobrenaturais que, embora deva ser lido como analogia, são garantidos de afastar grande parte dos espectadores por surgir do nada no final do terceiro ato e desfazer um pouco do discurso fervoroso que exibia com orgulho, redimindo parte culpa de tais homens “controlados” a se comportar de tal forma.

Infelizmente, esta nova versão do clássico viveu para se tornar um dos filmes menos apreciados pelo grande público, figurando na lista (eleita pelos próprios) dos piores filmes de todos os tempos.

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Pensando nisso, como forma de homenagem a este verdadeiro marco do cinema de gênero, formulei esta nova matéria que visa pôr um pouco de luz em cima não apenas do clássico (embora principalmente nele), mas também de suas refilmagens. Confira abaixo.

Noite do Terror (1974)

O Black Christmas original é um destes filmes que já tiveram alguns títulos diferentes no Brasil. O que conta é seu nome original, pelo qual é reconhecido mundialmente e nunca confundido. Atualmente por aqui, ele é comumente mais chamado de Noite do Terror.

Existe um debate sobre qual de fato foi o primeiro filme do subgênero slasher, com alguns inclusive apontando para o clássico Psicose (1960), de Alfred Hitchcock, ou para o mais obscuro A Tortura do Medo – do mesmo ano. Uma coisa é certa, eles se popularizaram com Halloween (1978), de John Carpenter. Antes disso, porém, algumas produções já marcavam o que viria a se tornar os slasher ainda no início da década de 1970, como O Massacre da Serra Elétrica (1974). No mesmo ano, Black Christmas causava certo frisson.

Além disso, o filme pode ser considerado o precursor no subgênero slasher de “datas comemorativas”, utilizando o natal como palco para seu terror. Depois seguiriam o dia das bruxas (Halloween), o dia do azar Sexta-Feira 13 (1980) e o dia dos namorados (O Dia dos Namorados Macabro, 1981), por exemplo. Na trama de Black Christmas, o cenário é uma casa de sororidade, popular local de moradia para jovens universitárias nos EUA. Na residência, habitada por diversas estudantes, as moças começam a ser eliminadas em segredo uma a uma. E o pior, tudo acontece de dentro da própria casa. Este é um dos elementos mais nervosos e assustadores da produção dirigida por Bob Clark – que depois viria a ficar conhecido pelas comédias bem diferentes entre si, Porky’s – A Casa do Amor e do Riso (1981) e Uma História de Natal (1983) – focando na mesma data com outro teor. As residentes começam a receber estranhos telefonemas, com frases desconexas e barulhos aterrorizantes. A hostilização típica de uma época não tecnológica é um dos principais aspectos de horror da obra. Assim descobrimos que os telefonemas estão vindo de dentro da própria casa, do sótão, onde um maníaco se esconde, e leva suas vítimas após serem abatidas.

A identidade do psicopata insano nunca é revelada, e mal chegamos a ver o sujeito. Vislumbramos partes de seu corpo em seus ataques, ou seu olho quando espreita entre as frestas, por exemplo. Sequer sabemos sua intenção, de onde veio, quem ele é ou seu destino, já que o final é ambíguo e aberto. Em um dos momentos mais icônicos da obra, o maníaco mata uma de suas vítimas sufocada com um saco plástico, e a posiciona estrategicamente sentada em uma cadeira de balanço no sótão, virada para a janela do local. A imagem da moça com o plástico na cabeça é utilizada como arte para o cartaz do filme. No elenco, nomes famosos da época como Olivia Hussey (Romeu e Julieta, Morte Sobre o Nilo, Psicose 4 e It: Uma Obra-Prima do Medo), Margot Kidder (a Lois Lane dos filmes do Superman com Christopher Reeves e Terror em Amityville) e John Saxon (A Hora do Pesadelo).

O maior acerto desse terror intimista e de ritmo deliberadamente lento para os padrões de hoje, é a construção de uma atmosfera de puro medo, onde aos poucos somos levados ao último lugar que estas personagens desejariam estar. O problema é que tal lugar é sua própria casa. Fora isso, existe ambiguidade sobre quem de fato é o vilão, quando os realizadores brincam as possibilidades de um whodunit entre os personagens. Produção canadense, Noite do Terror estreou em seu país de origem no dia 11 de outubro, pegando carona para o dia das bruxas. Nos EUA, atingiria a data certa no dia 20 de dezembro do mesmo ano.

Natal Negro (2006)

Mais de acordo com o título original, este remake produzido pela Dimension Films (mesma de Pânico / subsidiária da Miramax de Harvey Weinstein) chegava 32 anos após o lançamento de Noite do Terror. A refilmagem pegou carona na tendência que rolava em Hollywood no período, a de reimaginar os clássicos do gênero da década de 1970. Assim, o diretor Glen Morgan (produtor de Arquivo X e Premonição 3) tirava do papel sua visão do clássico – assinando roteiro e direção. Para esta nova versão, o cineasta confeccionou uma grande homenagem, demonstrando respeito e adoração pela obra anterior. Por exemplo, o serial killer “Billy” e seu pseudônimo Agnes ganham imenso destaque, recebendo inclusive uma backstory (um passado ou história de origem) pra lá de bizarra e perturbadora. Morgan também aumenta o gore ao volume máximo, criando um filme extremamente violento e dando aos fãs do gênero o que eles realmente esperam. Aqui já vivíamos a era dos celulares, então isso entrou em jogo sendo adicionado ao roteiro e dando certa mobilidade às vítimas.

Para completar, Morgan recheia o seu longa com a presença de algumas jovens estrelas promissoras, que já tinham certa fama na época. Os nomes que ainda se mantém conhecidos são os de Mary Elizabeth Winstead, Katie Cassidy, Michelle Trachtenberg e Lacey Chabert. Ah sim, a cereja no bolo é o envolvimento do criador original Bob Clark na capacidade de produtor, dando ao filme a validação que necessitava. Porém, apesar de todos os seus atrativos, uma boa parte técnica, que inclui ótima fotografia, os fãs e críticos simplesmente não se sentiram cativados por esta releitura do clássico. Lançado no dia 25 de dezembro de 2006 nos EUA, Natal Negro, com um orçamento de US$9 milhões, viu o retorno de US$21.5 milhões mundiais. No Brasil, sequer sendo lançado nas salas de cinema e demorando bastante tempo para aterrissar por aqui. A palavra que mais jogou contra o filme é exagero.

Natal Sangrento (2019)

Recentemente, escrevi sobre a polêmica envolvendo este segundo remake de Black Christmas em menos de quinze anos. Precisava? Provavelmente não. Mas o que a diretora e roteirista Sophia Takal faz aqui é pegar apenas o título e o conceito básico (estudantes de uma universidade são atacadas e mortas uma a uma numa casa de sororidade durante o feriado do natal) e reformular toda a história, conceito e reviravoltas. O que inclui varrer para debaixo do tapete tudo o que envolve o psicopata Billy e seu alter ergo Agnes. Ou seja, esta é a versão que se mantém mais longe da cartilha que formou os anteriores. A grosso modo seria fazer um filme de Sexta-Feira 13 sem Jason ou Halloween sem Michael Myers. Bem, isso já foi feito no passado destas franquias, mas hoje pode ser inconcebível.

Os fãs sempre clamam por reimaginações que tentem fazer algo diferente. E é justamente nesta seara que a diretora Takal posiciona seu novo Black Christmas. Este é na realidade a menor das reclamações quanto ao filme. E se a versão de 2006 aumentou demais o gore, esta edição de 2019 o diminuiu ao ponto de excluir qualquer indício de violência ou palavrões. Este é o Black Christmas mais domado dos três, para dizer no mínimo. O motivo foi apelar a um público maior, em especial meninas adolescentes que não poderiam entrar caso contrário. A censura é treze anos. Algo que nenhum fã hardcore de terror gosta muito.

O que mais marcou Natal Sangrento, no entanto, foi sua agenda feminista. O discurso aqui não é nada sutil. Os homens são os vilões e as mulheres as heroínas que irão combate-los. Abuso sexual, masculinidade tóxica, machismo e estupro entram em pauta, e são todos temas muito dignos para este tipo de propaganda. O problema é que deviam ter sido melhor trabalhados. O filme tem sua cabeça no lugar certo, mas talvez a falta de experiência da diretora que também assina o roteiro tenha atrapalhado. Fora isso, o longa da Blumhouse teve apenas 5 meses desde seu anúncio (incluindo pré-produção, filmagens e pós) para ficar pronto. E tendo isso em mente é até admirável. Mas a obra termina se perdendo e saindo do trilho em seu desfecho, ao acrescentar na trama elementos sobrenaturais que, embora deva ser lido como analogia, são garantidos de afastar grande parte dos espectadores por surgir do nada no final do terceiro ato e desfazer um pouco do discurso fervoroso que exibia com orgulho, redimindo parte culpa de tais homens “controlados” a se comportar de tal forma.

Infelizmente, esta nova versão do clássico viveu para se tornar um dos filmes menos apreciados pelo grande público, figurando na lista (eleita pelos próprios) dos piores filmes de todos os tempos.

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