Antes do cinema se estabilizar como a segunda casa dos super-heróis, os vídeo games já eram povoados por eles
Com o recente lançamento de Marvel’s Avengers para PS4, Xbox One e PC ficou mais uma vez comprovado que o nicho de quadrinhos não só é um dos mais queridos dos games como também um dos mais lucrativos para as desenvolvedoras. O novo jogo, ao contrário de seus irmãos do gênero, promete ser uma experiência muito mais voltada para o multiplayer cooperativo de estilo action role-playing (que mistura elementos de jogos de ação com personalização de personagem, como em um RPG).
Desde a primeira consolidação do mercado de games como um empreendimento viável (isto é, antes da crise de 1983) essa plataforma tem servido como uma efetiva forma de divulgar lançamentos do meio cultural, do cinema principalmente. Porém, personagens de quadrinhos também são tradicionalmente figurinhas carimbadas nessa área, inicialmente tendo jogos voltados para promover seus filmes mas eventualmente com o foco deles direcionado para contar novas histórias sobre essas mitologias.
Segundo o Guiness Book o primeiro jogo eletrônico a ter um personagem oriundo de quadrinhos foi Superman para Atari 2600, lançado no ano de 1979. Considerado um dos primeiros jogos single-player (voltados para um único jogador ao invés de dois) a ser lançado para o Atari, ele em si apresentou outras inovações para a época: o primeiro uso da ferramenta de pausa, uso de múltiplas telas durante a jogatina, primeiro uso de uma marca registrada para um jogo e um enredo que, se não é dos mais complexos, é direto e identificável com o personagem título.
Com a chegada dos anos 90, o mercado de consoles domésticos viu o surgimento de novos produtos com capacidade gráfica mais ampla, que inundavam o mercado. Neste período a competição entre a Sega e a Nintendo estava em seu auge com ambas as empresas lançando consoles do nível do Sega Genesis e Super Nintendo. Por volta de 1992 foi lançado Batman Returns, game no estilo beat ‘em up (andar pelo cenário e bater em tudo que surge) com o objetivo de promover o filme de mesmo nome.
Apesar de não apresentar nenhuma grande novidade para a indústria, o produto foi muito elogiado por seu visual e trilha sonora. Nesse mesmo ano uma das equipes mais conhecidas da Marvel, os X-Men, ganharam um jogo também no estilo beat ‘em up que também não trouxe grandes novidades para o gênero mas foi elogiado pela simplicidade e diversão.
Com a chegada do ano de 1994 os mutantes da Marvel foram agraciados com um de seus títulos mais queridos dee todos os tempos: X-Men: Mutant Apocalypse; jogo estilo beat ‘em up desenvolvido pela Capcom e lançado para o Super Nintendo. Este foi mais um exemplar que soube se destacar pelo visual colorido dos cenários de fundo aliado ao design de personagens que remetiam a hit da época X-Men: animated series, além de ter um gameplay comparado à época ao de Street Fight.
Porém, nem só de elogios viveu o nicho de quadrinhos nos videogames. Aquele que é considerado um dos, ou até o pior jogo da história veio deste grupo. Foi em maio de 1999 que os jogadores de todo o mundo viram a chegada do “marcante” Superman: The New Superman Adventures, ou chamado apenas de Superman 64, lançado exclusivamente para o Nintendo 64.
Desenvolvido pela Titus Software o jogo possui inspiração visual nos traços de Bruce Timm para a série animada do Superman e nele o jogador controla o personagem título em um mapa aberto e 3D, com visão em terceira pessoa. No enredo Lex Luthor consegue prender os amigos do herói em uma versão virtual de Metrópoles, obrigando assim que o protagonista enfrente uma série de desafios nesse novo ambiente.
Durante toda o seu desenvolvimento o jogo sofreu interferências constantes tanto da Warner Bros. quanto da DC Comics, que não desejavam que seu personagem fosse usado em um jogo violento. Isso rendeu diversas modificações e aditamentos durante a produção, além de uma eventual pressa na hora de finalizar o produto. Muitas das notas baixas que o jogo recebeu foram em virtude de má otimização dos controles, gráficos abaixo do que o Nintendo 64 podia entregar, jogabilidade problemática e bugs constantes relacionados a cenário.
A chegada dos anos 2000 trouxe com ela tanto um início de grandes produções do gênero de quadrinhos no cinema (encabeçados por X-Men no ano 2000) quanto pela nova geração de consoles que se apresentava (Playstation 2 e Xbox). Motivados pelos novos filmes de personagens da Marvel que saíam, muitos jogos voltados tanto para divulgar esses lançamentos quanto para trabalhar de maneira geral a história dos personagens foram postos a venda.
Spider-Man de 2000 foi um exemplo; jogo esse inspirado na série animada de 1994 não seguia a risca o que a série havia estabelecido, mas sim se inspirando na contraparte dos quadrinhos. Com o intuito de promover o filme homônimo, em 2004 foi lançado Spider-Man 2 (para Playstation 2) que não seguia a risca a história da versão cinematográfica mas apenas o visual do traje usado por Tobey Maguire para contar uma história mais ampla.
Com a chegada do ano de 2008 veio a grande revolução do gênero, esta representada pelo lançamento de Batman: Arkham Asylum. Fortemente inspirado na visão séria de Christopher Nolan, a desenvolvedora Rocksteady juntou isso à estética gótica presente nas histórias do homem morcego para contar uma trama que consegue apresentar bem alguns dos seus vilões mais conhecidos sem deixar de lado a tradicional relação entre o vigilante e seu arqui-inimigo, o Coringa.
O roteiro assinado por Paul Dini, veterano de trabalhos com o Batman na televisão e quadrinhos, dedica o devido valor à mitologia do herói e sabe como apresentar perfeitamente cada elemento consagrado do mesmo. Além disso, entrega uma história que não apela para violência gráfica mas também instiga o jogador a ir até o fim. Tecnicamente ele também foi um divisor de águas, a começar pelo sistema de combate que trabalha com elementos de stealth (furtividade) e lutas envolvendo contra-ataques gerados de maneira simples.
As famosas engenhocas do cinto de utilidades também se mesclam perfeitamente ao que o jogo propõe, servindo para formar combos ofensivos poderosos. A série contou com mais duas continuações e uma prequel desenvolvida por outro estúdio, tornando ela uma das séries mais aclamadas da indústria. Mais recentemente, em 2018, o jogo Marvel Spider-Man para playstation 4 contou com o uso de mecânicas de combate parecidas com as da série Arkham, além de um enredo também muito bem trabalhado, e foi igualmente bem recebido por público e crítica.