O jogo promete entregar um mundo bastante vivo, como jamais visto em outros games
Foi em 2013 que a então relativamente desconhecida desenvolvedora de jogos polonesa, CD Projekt Red, soltou um teaser intrigante que mostrava um ambiente urbano futurista muito similar à Los Angeles de Blade Runner em meio ao que parecia ser um embate entre forças policiais e uma personagem fisicamente modificada, com lâminas metálicas saindo de ambos os braços. A logo em seguida dava início a toda uma espera que durou sete anos: Cyberpunk 2077.
Obviamente, a época em que esse material foi divulgado, pouco se sabia sobre a CD Projekt. A desenvolvedora já gozava de certo conhecimento, tendo lançado até aquela altura duas adaptações em jogos dos famosos livros da série The Witcher. O ano de 2015, porém, seria decisivo para o futuro da companhia com o lançamento do terceiro título da franquia, The Witcher 3: Caçada Selvagem. A aventura final do bruxo Geralt de Rívia para salvar sua protegida Ciri alçou a companhia a status de mestres na construção de roteiros imersivos e missões ricamente variadas.
A princípio o anúncio de que a empresa estava desenvolvendo um título relacionado a franquia Cyberpunk foi feito em uma conferência organizada por eles em maio de 2012. Nesse mesmo evento foi dito também que a empresa estaria dividindo seu pessoal em duas equipes: uma responsável por dar prosseguimento e finalizar a produção de The Witcher 3 e uma segunda que iniciaria os preparativos para o novo título futurista distópico.
Esse anúncio também foi essencial para revelar que o criador original daquele universo, Mike Pondsmith, estaria diretamente envolvido no desenvolvimento do jogo. Essa é uma situação bastante corriqueira quando se trata de filmes, principalmente, pois a presença do criador da obra serve, no mínimo, como um consultor criativo para a equipe responsável pelo projeto em questão.
Mas sobre o que é esse jogo? Em 1988 foi lançado o livro de RPG de mesa Cyberpunk 2020 cujo enredo se passa na cidade de Night City no então longínquo ano título onde o avanço tecnológico atingiu um patamar completamente inimaginável. As pessoas agora teriam a possibilidade de aprimorar seus corpos com próteses de combate, modificações corporais extremas (como mudança de sexo completa até na voz) e implantes no cérebro que permitem o acesso a localidade conhecida como a Net (uma espécie de internet ampliada por realidade virtual, parecida com o que se vê em Matrix).
O futuro, porém, não é tão brilhante quanto parece a princípio. Em Cyberpunk o cenário social que se tem é bastante desigual, gerado por décadas de crise econômica e desastres humanos\ambientais. Visto no nível do solo, cada rua, bairro e beco de Night City é comandado por uma gangue estética e ideologicamente diferente de outra que constantemente guerreiam por mais território.
Já no nível das coberturas dos grandes edifícios a luta pelo poder se dá entre megacorporações que governam o mundo a plena vista. Essas empresas (a tecnológica Arasaka ou a armamentista Militech, por exemplo) detêm o monopólio político, econômico e tecnológico tornando-as intocáveis por grande parte da sociedade. No entanto, quando o assunto é o relacionamento entre as megacorporações o sentimento de tensão é constante, o que normalmente leva à ocorrência de guerras entre elas.
Em 2016 Mike Pondsmith concedeu uma entrevista a Isaac L. Wheeler do site Neon Dystopia e ali ele explicou como surgiu a ideia de criar Cyberpunk 2020 ainda em 1987. “Ainda não estava estabelecido. A história de fundo é que minha história favorita de todos os tempos é Blade Runner. Quando fui assistir originalmente com minha namorada todos pensaram ‘ah sim, esse não é um filme muito bom’ mas eu vi potencial e disse ‘algum dia farei algo nessa linha’. Nessa época basicamente só havia D&D (Dungeons and Dragons) então não havia muito com o que trabalhar…”.
Tendo como base não só o clássico de Ridley Scott mas também o livro Hardwired de Walter Jon Willams, que aborda um cenário em que uma empresa controla os EUA e o protagonista é alguém que vive à margem da sociedade, Pondsmith elaborou um enredo no qual o ambiente hostil criou toda uma gama de classes que os jogadores deverão escolher e ao mesmo tempo os personagens dos participantes influenciarão, por meio de suas classes, esse mesmo ambiente.
Um exemplo é a classe Rockerboy, que são os influenciadores das massas, geralmente ligados ao cenário da música. São eles os responsáveis por denunciar os crimes das megacorporações e governos por meio de suas obras; dentre eles o mais importante é o músico Johnny Silverhand (que em Cyberpunk 2077 será interpretado por meio de captura de movimento e voz pelo ator Keanu Reeves) que possui um longo e conturbado histórico com a empresa Arasaka.
Os eventos ocorridos no jogo de mesa de 2020, portanto, terão grande impacto no ano de 2077 conforme já adiantado pela CD Projekt RED. O protagonista criado pelo jogador, que atenderá pelo nome de V independente do gênero, precisará roubar um chip que supostamente garante algum tipo de imortalidade. Esse ato não só o colocará em rota de colisão com as megacorporações e gangues como também trará de volta à vida (por meio de uma possível inteligência artificial) o famoso Rockerboy de Keanu Reeves.
Tecnicamente sabe-se, por meio de gameplays e demos liberadas a certas pessoas da imprensa e internet, que o jogo será em primeira pessoa (jogador vê o que o personagem vê apenas) e o início escolhido pelo jogador influenciará como os outros moradores de Night City lhe verão, desbloqueando ou não novas linhas de diálogo.
O modo como o jogador irá melhorar as habilidades também fará toda a diferença, pois ele poderá se especializar tanto em uso de armas leves\pesadas quanto invasão de sistema ou ataques furtivos e isso irá desbloquear novas formas de proceder em cada missão. Essa mecânica é algo muito oriunda de sessões de RPG em que normalmente o jogador depende, além de sorte nos dados, de optar por uma especialização para o personagem e com isso a sessão é constantemente adaptada.
Cyberpunk 2077 é um jogo que por muito tempo estava sendo aguardado inicialmente pelo simples uso da marca Cyberpunk. A proporção que a CD Projekt RED assumiu após 2015 conferiu um novo grau de expectativa sobre o projeto e, a cereja do bolo, foi e é sem dúvida o trabalho de marketing constante desenvolvido pela empresa para divulgar o lançamento. Após dois adiamentos (um em abril e outro em setembro) o jogo finalmente está pronto e a presença de um nome como Keanu Reeves apenas incita mais o interesse. Há o potencial inato de ocorrer uma revolução e a resposta será dada em 10 de dezembro.