O encontro dos lendários Hayao Miyazaki e Isao Takahata, em 1974, rendeu no futuro o que muitos consideram ser o maior estúdio de animação de todos os tempos, o memorável Studio Ghibli – sim, nem mesmo a Disney foi capaz de produzir animações tão fortes e marcantes como a Ghibli.
Ao longo dos anos foram várias séries, documentários, curtas e 21 longas no total, a maioria deles dirigidos pelos próprios Miyazaki e Takahata. Obras que marcaram para sempre a história da sétima arte e apresentaram a cultura japonesa para o mundo.
Bom, elogiar a Ghibli chover no molhado, todos sabem o quão incríveis são esses filmes e o quanto acrescentaram na indústria de um modo geral, porém algo pouco comentado, pelo menos à primeira vista, é saber de onde vem tantas excelentes ideias e histórias inovadoras que são reproduzidas pela Ghibli.
Títulos como ‘Nausicaä do Vale do Vento’, por exemplo, é sabido que veio de um mangá do próprio Miyazaki, mas existem várias outras grandes animações do estúdio que foram literalmente baseadas em livros. Antes de Miyazaki entrar para Ghibli, ele já havia trabalhado em obras existente como o próprio ‘Lupin III – o Castelo de Cagliostro’; ou o próprio Takahata com ‘Goshu: O Violoncelista’.
Mas o foco aqui são os livros que inspiraram os filmes com o selo Ghibli. Pensando nisso, separamos dessa vez um espaço aqui no CinePOP para comentar a respeito de obras literárias que serviram como fonte de inspiração para a Ghibli. Algumas vão surpreender vocês. Lembrando, todos esses filmes estão disponíveis na Netflix. Então vamos à lista!
O Túmulo dos Vagalumes (1988)
Começando com uma das primeiras e mais tocantes animações da Ghibli, também uma das mais dolorosas que vi na vida, aquele filme capaz de derreter os corações mais gelados, O Túmulo dos Vagalumes de Isao Takahata, que foi baseado no conto semiautobiográfico Hotaru no Haka, de Akiyuki Nosaka, lançado em 1967. Que teve como referência as vivencias do autor Nosaka durante e depois dos bombardeios incendiários na cidade de Kobe em 1945. Obra que foi primeiramente publicada na revista literária Oru-Yomimono, da editora Bungei Shunju, e no ano seguinte, o livro foi lançado pela Shinchosha.
O Serviço de Entregas da Kiki (1989)
Um ano depois tivemos O Serviço de Entregas da Kiki, que é uma adaptação direta do primeiro livro de uma série literária escrita por Eiko Kadono, este chamado de Majo no Takkyubin. Kadono lançou ao todo oito livros da personagem Kiki, enquanto Miyazaki adaptou as primeiras aventuras da garotinha que encantou o mundo. Infelizmente esses livros não saíram por aqui, sendo possível encontrar cópias da edição japonesa disponíveis na biblioteca da Japan House e da Fundação Japão, ambas em São Paulo.
Memórias de Ontem (1991)
Seguimos então pra outro filme de Takahata, Memórias de Ontem (1991), que adapta o mangá Omoide Poro Poro, outra história autobiográfica agora da mangaká Hotaru Okamoto e desenhado por Yuko Tone. O mangá em si aborda a infância da autora, e no filme Takahata expande a trama até a fase adulta da personagem central.
Eu Posso Ouvir o Oceano (1993)
Agora um filme que não é da dupla Miyazaki e Takahata, chamado aqui de Eu Posso Ouvir o Oceano (1993), de Tomomi Mochizuki, este que foi baseado no livro Umi ga Kikoeru, de Saeko Himuro, publicado originalmente no Japão em 1990. A história narra a vida de um jovem do ensino médio que se apaixona por Rikako, a nova aluna transferida de Tóquio. Um romance que é simples, mas bastante eficiente.
Sussurros do Coração (1995)
Continuando falando de filmes feitos por outros criadores além dos medalhões, temos também a igualmente honesta animação Sussurros do Coração (1995), baseada no mangá Mimi wo sumaseba, de Aoi Hiiragi, publicado no Japão em 1989. A história fala de Tsukishima Shizuku, uma garota do sétimo ano do fundamental que adora ler e percebe que todos os livros que pega na biblioteca já foram lidos por alguém chamado Seiji Amasawa. Sem conhecer seu rosto, Shizuku tenta imaginar como seria essa pessoa. A continuação dessa história inclusive saiu em mangá no ano de lançamento do filme, chamada de Mimi wo sumaseba: Shiawasena Jikan.
O Reino dos Gatos (2002)
O Reino dos Gatos foi outra animação baseado na obra de Aoi Hiiragi, autora de Sussurros do Coração, essa chamada de chamada Neko no Danshaku, publicado pela Tokuma Shoten. Só que aqui há uma outra questão, já que a história que foi lançada em mangá naquele mesmo ano de 2002 foi encomendada pela própria Ghibli. Onde o filme saiu meses depois.
O Castelo Animado (2004)
Indo para um peso pesado do estúdio, temos O Castelo Animado, de Hayao Miyazaki, que foi baseado no livro de mesmo nome, publicado em 1986, escrito pela autora britânica Diana Wynne Jones, falecida em 2011. O Castelo Animado é formado por uma trilogia com os títulos O Castelo Animado (1986), O Castelo no Ar (1990) e A Casa dos Muitos Caminhos (2008). Todos foram bastante elogiados e receberam diversos prêmios.
Contos de Terramar (2006)
Tivemos também polemicas, como o caso de Contos de Terramar, o primeiro filme dirigido por Goro Miyazaki, baseado nos livros de fantasia da autora americana Ursula K. Le Guinn. O chamado Ciclo Terramar é uma série de livros que descreve Terramar, um vasto arquipélago cercado por um oceano desconhecido. Existem seis livros escritos entre 1968 e 2001, começando com O Feiticeiro de Terramar (1968) e continuando com As Tumbas de Atuan (1971), A Praia mais Longínqua (1972), Tehanu: O Nome da Estrela (1990) e Num Vento Diferente (2001).
O filme de Goro Miyazaki traz uma mistura do universo de Terramar da Ursula com o livro Shuna no Tabi, de Hayao Miyazaki. Esse filme causou um certo alvoroço quando a Ursula declarou que o livro não tinha nada a ver com a sua obra, ainda que tenha gostado do que viu.
Da Colina Kokuriko (2011)
Outro filme de Goro Miyazaki baseado em obra literária foi Da Colina Kokuriko, dessa vez do mangá Kokuriko-zaka kara, de Tetsuro Sayama e Chizuru Takahashi, história serializada pela editora Kodansha de 1979 a 1980 na revista de mangá shojo Nakayoshi e, posteriormente, impresso em 2 volumes encadernados.
O Conto da Princesa Kaguya (2013)
Vidas ao Vento, de 2013, que marcou em tese a despedida de Hayao Miyazaki da Ghibli, pelo menos na época, já que hoje ele já está produzindo novamente, é baseado em vários elementos de outras obras, mas nenhuma exatamente conta aquela história, porém O Conto da Princesa Kaguya também de 2013, foi de fato é o último longa do mestre Isao Takahata, entregue de forma brilhante num estilo artístico jamais visto numa animação. O filme é baseado no antigo conto Taketori Monogatari, do século X, que é muito famoso no folclore japonês e considerado a mais antiga narrativa em prosa japonesa existente. E dá pra dizer que tal importância foi bem representada.
As Memórias de Marnie (2014)
O último filme da Ghibli, antes da famigerada pausa, As Memórias de Marnie, o segundo de Hiromasa Yonebayashi para o estúdio, foi baseado no romance da autora britânica Joan G. Robinson, publicado pela primeira vez em 1967. E conta a história de Anna, uma garota que se muda temporariamente para Norfolk para tratar de uma doença. Lá, ela conhece uma menina misteriosa chamada Marnie, que vive em uma casa com vista para os pântanos. Uma trama envolvente e muito curiosa.