Em um processo judicial obtido pela E! News, Richard Gadd, criador e protagonista do fenômeno ‘Bebê Rena‘, quebrou o silêncio sobre o processo que Fiona Harvey – que inspirou a stalker Martha no seriado –, abriu contra a produção e a Netflix.
O realizador destacou que a série do serviço de streaming não é focada em sua história com Harvey, mas sim em recontar seus traumas e experiências – explicando sua intenção em desenvolver uma história “emocionalmente verdadeira”.
“Minha luta com identidade sexual, experiências com abuso sexual, assédio e perseguição, me inspiraram a escrever e estrelar ‘Bebê Rena’. A série não é um documentário ou retrata uma tentativa de realismo, nem sequer é uma tentativa de recontar os eventos e emoções que eu senti quando eles aconteceram. É uma história de ficção, e não deve ser considerada eventos reais.”
Ele completa, “Eu intencionalmente criei personagens que não compartilham os mesmos nomes de pessoas da minha vida e escrevi cenas e diálogos de ficção. Todos os personagens da série têm traços de personalidade imaginados em eventos que eu selecionei especificamente para usá-los como instrumentos dramáticos.”
Vale lembrar que Harvey está processando a Netflix e busca uma compensação de US$ 170 milhões por “difamação e negligência”.
“Esta é uma ação da requerente Fiona Harvey contra os réus Netflix, Inc. e Netflix Worldwide Entertainment (coletivamente ‘Netflix’), por difamação, imposição intencional de sofrimento emocional, negligência, negligência grave e violações dos direitos de Harvey de publicidade, decorrente das mentiras brutais que os réus contaram sobre ela na série de televisão ‘Bebê Rena’,” afirma o processo.
“As mentiras que os réus contaram sobre Harvey para mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo alegam que ela é uma stalker duas vezes condenada e sentenciada a cinco anos de prisão, e que Harvey agrediu sexualmente o Richard Gadd. Os réus contaram essas mentiras porque era uma história melhor do que a verdade, e histórias melhores geravam dinheiro. Como resultado das mentiras, prevaricação e má conduta totalmente imprudente dos réus, a vida de Harvey foi arruinada. Simplesmente, eles destruíram sua reputação, seu caráter e sua vida,” completa a requerente em um processo de 34 páginas.
Em entrevista ao Piers Morgan, Harvey já havia detonado a série, acusando-a de ser “obscena” e uma obra de ficção “difamatória”.
Ela confirmou ser a pessoa que inspirou a Martha na série, stalker do Richard Gadd. Apesar de já ter sido identificada pelos internautas, essa foi a primeira vez que ela faz uma aparição público desde que o seriado foi lançado.
Apesar da série ser baseada em uma história real, Harvey alega que a série da Netflix não passa de ficção e planeja argumentar sobre o seu lado na justiça.
“Acredito que a série é obscena. É aterrorizante e misógina. Algumas das ameaças de morte que eu recebi foram realmente terríveis. As pessoas ficam me ligando. Toda a situação é absolutamente horrenda,” declarou Harvey.
Anteriormente, ela havia declarado que era a verdadeira vítima da história: “Eu sou a vítima aqui. Não Richard Gadd. Recebi várias ameaças de morte por causa da série, apesar de várias coisas que ele disse não serem verdade. Alguém me mandou uma mensagem que dizia: ‘se eu te encontrar, vou te matar’. Um homem na Carolina do Norte disse que ele e várias outras pessoas iriam me perseguir da mesma forma que fiz com Gadd”.
No caso real, Gadd relatou ao longo de alguns shows que foi perseguido por pelo menos quatro anos pela mulher que o apelidou como Bebê Rena.
Apesar do apelido que costuma causar risos na plateia, ele disse que foi assediado com 41.071 e-mails, 350 horas de mensagens de voz, 744 tweets, 46 mensagens no Facebook e 106 páginas de cartas.
Além disso, ela tentou chamar sua atenção com presentes, incluindo uma rena de pelúcia, pílulas para dormir, um chapéu de lã e roupas íntimas, como pijamas e cuecas boxer.
No entanto, a obsessão dos fãs em encontrar as pessoas reais por trás do caso está “passando dos limites”, como relatou o próprio Gadd em seu perfil do Instagram.
Através dos Stories, ele pediu que o público não inicie uma “caça às bruxas”, alertando sobre especulações sem fundamento, já que um de seus colegas de trabalho foi acusado falsamente de ser um dos perseguidores de Gadd.
“Olá a todos, pessoas que amo, com quem trabalhei e admiro (incluindo Sean Foley) estão injustamente sendo acusadas em especulações. Por favor, não especulem sobre quem poderia ser qualquer pessoa da vida real [retrada na série]. Esse não é o objetivo do nosso programa. Com muito amor, Richard x X.”
Em entrevista à Variety, ele já havia explicado o porquê de não ter revelado a identidade real dos personagens:
“Há certas restrições [quando se faz uma produção baseada em fatos]. Você não pode simplesmente copiar a vida e o nome das pessoas e divulgá-los na TV. Obviamente, também estávamos cientes de que alguns personagens são baseados em pessoas vulneráveis. Não queremos tornar a vida das pessoas mais difíceis. Então é preciso ocultar certas coisas para se proteger e proteger outras pessoas.”
O comediante também admitiu que precisou fazer algumas alterações para deixar a história mais atraente e dramática.
“Muito da perseguição que sofri foi uma narrativa chata. Às vezes, Por razões artísticas, é necessário dramatizar o conteúdo para deixá-lo mais atraente para o público. O que aconteceu comigo foram ações repetitivas, do tipo: ‘Ai, Deus, uma mensagem dessa pessoa de novo. E, claro, na televisão, especialmente em um suspense, você
precisa mover certas linhas do tempo, precisa mover certos pontos para o final dos episódios terem um resultado satisfatório. Além de uma história verdadeira, você precisa torná-la visualmente interessante. Ainda assim, é uma história verdadeira – vem de uma verdade emocional, e acho que é com isso que as pessoas mais se identificam.”
No entanto, Gadd reforça que o objetivo da série é repudiar comportamentos abusivos e a importunação e não glamourizar pessoas que fazem isso.
Ao fim da adaptação, Martha é presa depois de confessar perseguição e assédio, sendo condenada a nove meses de prisão, além de receber uma ordem de restrição.
Já no caso real, o destino da perseguidora é incerto, pois Gadd disse ao The Independent, que não fez questão da prisão dela, demonstrando empatia e encarando o caso como uma questão de doença mental.
“Não consigo enfatizar o suficiente o quanto ela é uma vítima em tudo isso. Perseguição e assédio são uma forma de doença mental. Teria sido errado colocá-la como um monstro, porque ela não está bem e o sistema falhou com ela.”
Com direção de Weronika Tofilska, a atração retrata o caso em sete episódios.