As Desvantagens de Ser Invisível
Baseado no conto “Frontal com Fanta”, da coletânea “Tarja Preta”, Boa Sorte é a estreia na direção de longas da cineasta Carolina Jabor (filha de Arnaldo Jabor). Adaptado por Pedro Furtado (filho do autor do conto, Jorge Furtado) para o cinema, a trama apresenta o jovem protagonista João (João Pedro Zappa). O rapaz é trancafiado em uma espécie de clínica psiquiátrica por ser considerado “muito diferente” pelos pais (papeis de Felipe Camargo e Gisele Fróes).
Viciado em remédios, daí o título original do conto, João passava seus dias “invisível” aos olhos de todos. No novo lar, descobre a amizade e o amor na forma de Judite (Deborah Secco), uma doente terminal. O chamariz de Boa Sorte é a estrela Global, cujo intensivão metódico no papel incluiu a perda de onze quilos e parte da sanidade, ocasionada por uma grande depressão, como revelou na coletiva carioca do filme. Secco já está bem, e o resultado nas telas é glorificante.
Com grande desenvoltura, Secco abraça a protagonista e realmente a faz uma personagem única, de forma crua e realística. A entrega é grande e o que recebemos também. A atriz, que é a produtora do filme, mescla doçura, sensualidade, dor e diversão nos elementos que compõem Judite. Seu starpower aliado a uma interpretação de grande qualidade têm tudo para impulsionar a obra junto ao grande público (mesmo que esta tenha precisado ser adiada em uma semana do planejamento original, para não colidir com o rolo compressor chamado Jogos Vorazes).
Além dos louros para Secco, o texto de Furtado também merece elogios. O jovem, também ator, sabe muito bem o que soa ou não real na hora de criar diálogos e situações. Dessa forma, entrega interações honestas, mas igualmente tempera a produção com momentos líricos e surreais, como quando o trio sai dançando pelos corredores num plano sequência inspirado. Por citar a técnica, outra que deve ser mencionada e louvada é a cineasta Jabor.
Com influências abrangendo desde a nouvelle vague francesa até o cinema independente norte-americano (do qual se diz muito fã), Carolina Jabor entrega um ótimo primeiro trabalho, demonstrando um domínio de veterana. Seus planos para a produção se concretizaram, e a diretora nos oferece uma poesia suja e bela. A fotografia de Barbara Alvarez é baseada no artista americano Ryan McGinley e a trilha sonora que dá o tom, varia de Jorge Mautner até Peaches.