quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica 2 | Coringa: Delírio a Dois – Um Filme Que Faz Jus ao Seu Título

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Em 2019, foi unanimidade: o filme do “Coringa” era excelente. Desde suas primeiras exibições, nos festivais internacionais, até sua estreia, o burburinho comprovava a maestria do longa – tanto que foi indicado ao Oscar, e ganhou dois, de melhor trilha sonora e melhor ator. Mas, como tudo que faz sucesso no mundo capitalista, houve uma demanda (e até certa pressão) para derivações desse primeiro longa, e assim começaram as conversas para o que hoje se tornou “Coringa: Delírio a Dois”, a grande estreia nos cinemas mundiais nessa semana.

Coringa 2



Após matar cinco pessoas em Gotham City, Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) foi encarcerado na prisão de Arkham, um asilo para presos com distúrbios psicológicos. Medicado, Arthur passa os dias sem nenhuma diferença, recebendo visitas da sua advogada (Catherine Keener). Porém, um dia Arthur é levado a uma outra ala, onde casualmente conhece Lee (Lady Gaga), que chama sua atenção. À medida que os dois frequentam aulas de canto juntos na ala A, a paixão entre eles aumenta, mas a proximidade do julgamento final de Arthur desperta gatilhos que poderão acordar o Coringa adormecido dentro dele.

Existe um ditado que diz “um bom roteiro nas mãos de um diretor ruim se torna um bom filme, mas um roteiro ruim nas mãos de um diretor competente de torna um filme ruim”. E é verdade isso, porque cinquenta por cento de qualquer filme (qualquer filme!) tem a ver com a história. O resto é técnica, entrosamento, dedicação – tudo isso pode estar lindamente em sincronia, mas, com uma história que não agrada, o filme não vai pra frente. E (parte-me o coração dizer isso) esse é o caso de “Coringa: Delírio a Dois”.

Coringa 2

O roteiro de Scott Silver, Todd Phillips e Bob Kane pouco traz da atmosfera de Gotham City ao mundo do atual Arthur Fleck. O Batman, por exemplo, é sequer mencionado. A sensação é a de estarmos vendo um filme de drama processual cujo réu é um palhaço assassino. E se fosse isso estava tudo bem, mas tratava-se do Coringa, da DC… e tudo isso ficou em terceiro plano.

Terceiro, porque numa escala de prioridades, Lady Gaga veio antes nas preocupações da produção. Claro, ela é uma excelente cantora, mas, como Harley Quinn… ela simplesmente não entrou no personagem. Sua atuação fica algo entre o que já vimos em “Nasce uma Estrela” (logo quando ela surge no filme) e “Casa Gucci”, que é o que toma conta. As interações Fleck/Lee ocupam quase duas horas do roteiro, em sequências de repetições de ideias, de músicas, de falas que não levam a lugar algum na trama. Uma vez que a produção se demora muito mais nesse segundo ato (que é o tal delírio a dois), o filme acaba perdendo o espectador, que, confuso, torce inconscientemente para que o enredo volte aos eixos.

coringa delírio a dois

Novamente, é a técnica de “Coringa: Delírio a Dois” que se destaca, trazendo uma vez mais sua canção tema que, toda vez que toca, é um prenúncio de tragédia. A direção de fotografia, cenografia e a direção do próprio Todd Phillips são de tirar o fôlego, com incontáveis cenas belíssimas- muitas das quais nas sequências musicais, que remetem a clássicos do gênero dos anos 50.

Coringa: Delírio a Dois” é um filme tecnicamente perfeito, mas com uma história delirante. Mesmo que no fim tudo se resuma ao Coringa ser um estado de espírito e não uma pessoa (e linkar com o Coringa de Heath Ledger), a sensação é a de termos visto um filme cuja piada todo mundo desejou rir, mas ninguém entendeu. Ainda assim, é possível que o longa seja indicado em quesitos técnicos do Oscar.

coringa delirio a dois 2 (1)

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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Em 2019, foi unanimidade: o filme do “Coringa” era excelente. Desde suas primeiras exibições, nos festivais internacionais, até sua estreia, o burburinho comprovava a maestria do longa – tanto que foi indicado ao Oscar, e ganhou dois, de melhor trilha sonora e melhor ator. Mas, como tudo que faz sucesso no mundo capitalista, houve uma demanda (e até certa pressão) para derivações desse primeiro longa, e assim começaram as conversas para o que hoje se tornou “Coringa: Delírio a Dois”, a grande estreia nos cinemas mundiais nessa semana.

Coringa 2

Após matar cinco pessoas em Gotham City, Arthur Fleck (Joaquim Phoenix) foi encarcerado na prisão de Arkham, um asilo para presos com distúrbios psicológicos. Medicado, Arthur passa os dias sem nenhuma diferença, recebendo visitas da sua advogada (Catherine Keener). Porém, um dia Arthur é levado a uma outra ala, onde casualmente conhece Lee (Lady Gaga), que chama sua atenção. À medida que os dois frequentam aulas de canto juntos na ala A, a paixão entre eles aumenta, mas a proximidade do julgamento final de Arthur desperta gatilhos que poderão acordar o Coringa adormecido dentro dele.

Existe um ditado que diz “um bom roteiro nas mãos de um diretor ruim se torna um bom filme, mas um roteiro ruim nas mãos de um diretor competente de torna um filme ruim”. E é verdade isso, porque cinquenta por cento de qualquer filme (qualquer filme!) tem a ver com a história. O resto é técnica, entrosamento, dedicação – tudo isso pode estar lindamente em sincronia, mas, com uma história que não agrada, o filme não vai pra frente. E (parte-me o coração dizer isso) esse é o caso de “Coringa: Delírio a Dois”.

Coringa 2

O roteiro de Scott Silver, Todd Phillips e Bob Kane pouco traz da atmosfera de Gotham City ao mundo do atual Arthur Fleck. O Batman, por exemplo, é sequer mencionado. A sensação é a de estarmos vendo um filme de drama processual cujo réu é um palhaço assassino. E se fosse isso estava tudo bem, mas tratava-se do Coringa, da DC… e tudo isso ficou em terceiro plano.

Terceiro, porque numa escala de prioridades, Lady Gaga veio antes nas preocupações da produção. Claro, ela é uma excelente cantora, mas, como Harley Quinn… ela simplesmente não entrou no personagem. Sua atuação fica algo entre o que já vimos em “Nasce uma Estrela” (logo quando ela surge no filme) e “Casa Gucci”, que é o que toma conta. As interações Fleck/Lee ocupam quase duas horas do roteiro, em sequências de repetições de ideias, de músicas, de falas que não levam a lugar algum na trama. Uma vez que a produção se demora muito mais nesse segundo ato (que é o tal delírio a dois), o filme acaba perdendo o espectador, que, confuso, torce inconscientemente para que o enredo volte aos eixos.

coringa delírio a dois

Novamente, é a técnica de “Coringa: Delírio a Dois” que se destaca, trazendo uma vez mais sua canção tema que, toda vez que toca, é um prenúncio de tragédia. A direção de fotografia, cenografia e a direção do próprio Todd Phillips são de tirar o fôlego, com incontáveis cenas belíssimas- muitas das quais nas sequências musicais, que remetem a clássicos do gênero dos anos 50.

Coringa: Delírio a Dois” é um filme tecnicamente perfeito, mas com uma história delirante. Mesmo que no fim tudo se resuma ao Coringa ser um estado de espírito e não uma pessoa (e linkar com o Coringa de Heath Ledger), a sensação é a de termos visto um filme cuja piada todo mundo desejou rir, mas ninguém entendeu. Ainda assim, é possível que o longa seja indicado em quesitos técnicos do Oscar.

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