O diretor Fede Alvarez conseguiu: criou um espetáculo insano onde provoca o nervosismo, assusta sem jumpscares artificiais, envolve com uma trilha incidentalmente sombria e consegue deixar uma tensão absurda do início ao fim.
Dessa vez, longe do compromisso de comandar o remake de um clássico (é dele também o novo e irregular ‘Evil Dead‘), o cineasta escreve e dirige com uma segurança invejável, conseguindo imergir o espectador num verdadeiro show de agonia e aflição. O filme nos coloca exaustos em ambientes totalmente claustrofóbicos (ficamos “presos” naquela casa junto dos protagonistas), e nos deixa cada vez mais acuados pela psicopatia desmedida na figura doentia de um estranho homem.
Aliás, Stephen Lang merece aqui um parágrafo à parte… termos um vilão que provoca medo e compaixão ao mesmo tempo, uma grande ousadia que o roteiro de Fede Alvarez formula muito bem; ainda que essa dor do personagem o destaque com um resquício de humanidade, no desenrolar da trama, isso vai se tornando uma estranheza bizarra cada vez mais acentuada. Digamos que é justamente essa composição de Lang (soberbo em sua interpretação), que torna todos os momentos mais assustadores! E sem muitas firulas, o personagem transforma-se, objetivamente, num daqueles vilões que o espectador não esquecerá tão cedo.
E se já temos então um antagonista inesquecível, o roteiro também é esperto em colocar para o espectador três protagonistas que não são tão “mocinhos” assim. Acostumados em praticar furtos invadindo casas e apartamentos, os jovens terão que passar por essa espécie de “punição” pelas mãos violentas de um solitário e medonho homem.
A ironia é que se em algum momento torcemos para que esses precoces infratores recebam esse castigo, o diretor/roteirista joga com vários “plot twists” que fará com que o público, ao final, fique cada vez mais com pena deles. E isso é um trunfo dentro de uma história elaboradamente tão simples.
Com câmeras e movimentações que estruturam o cenário de forma tão orgânica desde ‘O Quarto do Pânico‘, exaltando ainda mais a claustrofobia intensa que ‘Green Room‘ também exibe em sua primeira hora, e nos brindando com um Lang ainda mais humanamente terrível que John Goodman em ‘Rua Cloverfield, 10‘, ‘O Homem nas Trevas‘ é certamente o suspense/terror mais comercialmente impactante do ano.
E com esse trabalho digno de fobias e nervos, o espectador ficará com uma certeza eterna… a de que Fede Alvarez é, sem sombra de dúvidas, um sádico altamente talentoso.
Crítica 1 | O Homem nas Trevas