quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | 22 de Julho – Filme obrigatório da Netflix sobre atentado terrorista real

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Os primeiros 20 minutos de 22 de Julho (22 July) são intensos. Mais do que isso, é um passo a passo de uma tragédia, esmiuçada como um caldeirão quente pronto para entrar em ebulição. É impossível ser indiferente diante da representação do diretor e roteirista Paul Greengrass (Jason Bourne) para o atentado ocorrido na Noruega em 2011.

Com Voo United 93 (2006) e Capitão Phillips (2013) no currículo, ambos baseados em ataques terroristas reais, Greengrass mais uma vez usa a sua perspicácia sobre o limite da humanidade em circunstâncias extremas e do perigo embrionário em nossa atual sociedade, manipulada pelo discurso de ódio, preconceitos e uma onda neonazista.



Acompanhamos a chegada de crianças e adolescentes em um acampamento de verão direcionado a futuros líderes políticos do país na ilha de Utøya, duas hora da capital Oslo. Lá, eles discutem os movimentos nacionais em relação à inclusão, o bem estar e a globalização, por exemplo. Jovens cheios de esperança e confiantes em seu papel na construção de uma nação unida.

Em outra ponta está Anders Behring Breivik (Anders Danielsen Lie), um simpatizante da extrema direita. Após escrever um manifesto de soberania contra o comunismo, ele parte para colocar o seu plano sanguinário em prática. Vestido como policial, Breivik coloca uma van com explosivos no estacionamento do prédio do primeiro-ministro norueguês, causando a morte de oito pessoas e o pânico no país.

A partir deste ponto, Paul Greengrass cria uma inquietude de acelerar o coração e torna-se inconcebível desgrudar os olhos da tela. Enquanto a notícia do atentado alastra-se pelo por toda Noruega, Breivik dirige-se para a ilha de Utøya. Assustada por conta do ataque à capital, a equipe do acampamento acredita na presença de um policial para proteger o perímetro e, assim, o terrorista consegue acesso à ilha.

Deste modo, começa a sequência mais aterrorizante de 22 de Julho. Aos gritos de “morte aos comunistas”,  Breivik  abre fogo contra todas as crianças e adolescentes do local sem pestanejar e sem piedade. Por conta de um telefonema apressado de um dos jovens aos seus pais na capital, o governo toma ciência do fato e envia uma tropa para cessar o extermínio de inocentes: 69 no total.

Com a redenção de Breivik, o filme apresenta a sua segunda etapa, na qual a adrenalina da violência diminui e entra em cena o entendimento sobre o discurso. Neste segundo ato, a história divide-se em três pontos de vista. O do ceifador de vidas, ao revelar os seus motivos; o do sobrevivente Viljar Hanssen (Jonas Strand Gravli), vítima de cinco tiros e substancialmente debilitado; e o do advogado Geir Lippestad (Jon Øigarden), convocado para defender o assassino perante a justiça.

Apesar de falado totalmente em inglês, todos os atores são de origem nórdica, o que configura verossimilhança à reprodução da história real, ao destacar os hábitos e a forma de encarar o mundo dos próprios noruegueses. Sobretudo, como o recente incidente impactou seus cidadãos.

Por vezes, o método de justiça pode soar brando para pessoas de outras nacionalidades, mas tanto o primeiro ministro Jens Stoltenberg (Ola G. Furuseth), como os policiais e todos os membros da justiça são calmos e pacientes na resolução do caso. Ou seja, o discurso de ódio contrário é coibido e tratado como um ato isolado.

A discussão entre a alegação xenofóbica de Breivik sobre a destruição do país pela entrada de imigrantes, principalmente os não-brancos e de diferentes crenças religiosas, são postas em contrapartida com o sofrimento da família Hassen e da muçulmana Lara Rachid (Seda Witt). Enquanto a mãe de Viljar (Maria Bock) concorre para prefeita de outra cidade, o filho mais novo (Isak Bakli Aglen) se culpa por não ter ajudado o irmão no fatídico dia e o pai (Thorbjørn Harr) quer esquecer todos os acontecimentos.

A cada palavra de intolerância e ódio da boca do atirador, o esforço de Viljar para voltar a viver resplandece em cena. No meio da batalha judicial, o advogado Lippestad recebe ameaças, é obrigado a tirar a filha da escola e o exercer da profissão torna-se um risco para a segurança da sua família. Sua cena final, entretanto, é exemplar e um alento ao espectador.

Com parcimônia, o roteiro de Greengrass – baseado no livro Um de Nós, de Åsne Seierstad – fecha-se no terceiro ato: o julgamento. Momento em que as vítimas confrontam o seu algoz em busca de redenção. Aqui, o ator Anders Danielsen Lie (Oslo, 31 de Agosto) entrega a frieza e escárnio do seu personagem como legítimos, assim como o novato Jonas Strand Gravli consegue nos deixar desassossegados em seus minutos anteriores ao entrar no tribunal.

De forma democrática, 22 de Julho dá voz ao terrorismo e as suas justificativas, sendo a produção bastante criticada pelo destaque ao extremismo. O filme, no entanto, também impõe o seu tom mais melodramático, com depoimentos irreais, mas emotivos. O saldo é positivo, o filme entrega um discurso libertador de luta e perseverança, apesar de nos alertar que o perigo está entre nós e apenas um indivíduo é capaz de nos derrubar em busca de perpetuar o genocídio como arma de defesa dos seus próprios medos.

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Com Voo United 93 (2006) e Capitão Phillips (2013) no currículo, ambos baseados em ataques terroristas reais, Greengrass mais uma vez usa a sua perspicácia sobre o limite da humanidade em circunstâncias extremas e do perigo embrionário em nossa atual sociedade, manipulada pelo discurso de ódio, preconceitos e uma onda neonazista.

Acompanhamos a chegada de crianças e adolescentes em um acampamento de verão direcionado a futuros líderes políticos do país na ilha de Utøya, duas hora da capital Oslo. Lá, eles discutem os movimentos nacionais em relação à inclusão, o bem estar e a globalização, por exemplo. Jovens cheios de esperança e confiantes em seu papel na construção de uma nação unida.

Em outra ponta está Anders Behring Breivik (Anders Danielsen Lie), um simpatizante da extrema direita. Após escrever um manifesto de soberania contra o comunismo, ele parte para colocar o seu plano sanguinário em prática. Vestido como policial, Breivik coloca uma van com explosivos no estacionamento do prédio do primeiro-ministro norueguês, causando a morte de oito pessoas e o pânico no país.

A partir deste ponto, Paul Greengrass cria uma inquietude de acelerar o coração e torna-se inconcebível desgrudar os olhos da tela. Enquanto a notícia do atentado alastra-se pelo por toda Noruega, Breivik dirige-se para a ilha de Utøya. Assustada por conta do ataque à capital, a equipe do acampamento acredita na presença de um policial para proteger o perímetro e, assim, o terrorista consegue acesso à ilha.

Deste modo, começa a sequência mais aterrorizante de 22 de Julho. Aos gritos de “morte aos comunistas”,  Breivik  abre fogo contra todas as crianças e adolescentes do local sem pestanejar e sem piedade. Por conta de um telefonema apressado de um dos jovens aos seus pais na capital, o governo toma ciência do fato e envia uma tropa para cessar o extermínio de inocentes: 69 no total.

Com a redenção de Breivik, o filme apresenta a sua segunda etapa, na qual a adrenalina da violência diminui e entra em cena o entendimento sobre o discurso. Neste segundo ato, a história divide-se em três pontos de vista. O do ceifador de vidas, ao revelar os seus motivos; o do sobrevivente Viljar Hanssen (Jonas Strand Gravli), vítima de cinco tiros e substancialmente debilitado; e o do advogado Geir Lippestad (Jon Øigarden), convocado para defender o assassino perante a justiça.

Apesar de falado totalmente em inglês, todos os atores são de origem nórdica, o que configura verossimilhança à reprodução da história real, ao destacar os hábitos e a forma de encarar o mundo dos próprios noruegueses. Sobretudo, como o recente incidente impactou seus cidadãos.

Por vezes, o método de justiça pode soar brando para pessoas de outras nacionalidades, mas tanto o primeiro ministro Jens Stoltenberg (Ola G. Furuseth), como os policiais e todos os membros da justiça são calmos e pacientes na resolução do caso. Ou seja, o discurso de ódio contrário é coibido e tratado como um ato isolado.

A discussão entre a alegação xenofóbica de Breivik sobre a destruição do país pela entrada de imigrantes, principalmente os não-brancos e de diferentes crenças religiosas, são postas em contrapartida com o sofrimento da família Hassen e da muçulmana Lara Rachid (Seda Witt). Enquanto a mãe de Viljar (Maria Bock) concorre para prefeita de outra cidade, o filho mais novo (Isak Bakli Aglen) se culpa por não ter ajudado o irmão no fatídico dia e o pai (Thorbjørn Harr) quer esquecer todos os acontecimentos.

A cada palavra de intolerância e ódio da boca do atirador, o esforço de Viljar para voltar a viver resplandece em cena. No meio da batalha judicial, o advogado Lippestad recebe ameaças, é obrigado a tirar a filha da escola e o exercer da profissão torna-se um risco para a segurança da sua família. Sua cena final, entretanto, é exemplar e um alento ao espectador.

Com parcimônia, o roteiro de Greengrass – baseado no livro Um de Nós, de Åsne Seierstad – fecha-se no terceiro ato: o julgamento. Momento em que as vítimas confrontam o seu algoz em busca de redenção. Aqui, o ator Anders Danielsen Lie (Oslo, 31 de Agosto) entrega a frieza e escárnio do seu personagem como legítimos, assim como o novato Jonas Strand Gravli consegue nos deixar desassossegados em seus minutos anteriores ao entrar no tribunal.

De forma democrática, 22 de Julho dá voz ao terrorismo e as suas justificativas, sendo a produção bastante criticada pelo destaque ao extremismo. O filme, no entanto, também impõe o seu tom mais melodramático, com depoimentos irreais, mas emotivos. O saldo é positivo, o filme entrega um discurso libertador de luta e perseverança, apesar de nos alertar que o perigo está entre nós e apenas um indivíduo é capaz de nos derrubar em busca de perpetuar o genocídio como arma de defesa dos seus próprios medos.

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