quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | 22 Milhas – Berg e Wahlberg criam o Rambo moderno, sem a graça e diversão

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Tiro, porrada e pseudoconteúdo

Embora muitos analisem Rambo II – A Missão (1985) puramente como propaganda americana da era Reagan, exacerbado em seu patriotismo e violência meramente voltados ao entretenimento, existe um subtexto, uma camada escondida em seu desfecho, que justamente subverte tal argumento. Rambo (Stallone) é traído por seu próprio país e deixado para trás, percebendo ter sido apenas uma ferramenta conduite de mentiras e ideais distorcidos. Ali, estava pura e claramente uma crítica ao governo norte-americano, em um filme confeccionado para ser seu estandarte.

Tal mensagem de autocrítica – numa era em que é mais imprescindível – não pode ser encontrada no maníaco 22 Milhas, nova colaboração entre o ator Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg. A dupla lança agora sua quarta produção, depois de O Grande Herói (2013), Horizonte Profundo (2016) e O Dia do Atentado (2016) – todos baseados em acontecimentos trágicos da história recente dos EUA. Diferente das produções anteriores, 22 Milhas é meramente uma ficção, que falha em ambos os âmbitos nos quais deseja ciceronear.



E por que citei Rambo II no início do texto, você pergunta? Simples. Assim como a produção estrelada por Sylvester Stallone na década de 1980, 22 Milhas apresenta o herói forte e indefectível na pele de Mark Wahlberg, cujo único propósito de existência é servir ao seu país usando suas habilidades: matar pessoas. Pode-se dizer que é a tentativa de resgatar um subgênero de tal era, o cinema brucutu. A grande diferença é que hoje existe uma preocupação maior com tudo que diz respeito ao politicamente incorreto e a forma como tais elementos são utilizados. Por exemplo, Invasão a Casa Branca (2013) soube fazer muito bem – brincar com os arquétipos do subgênero, acrescentando frescor. Sua continuação, por outro lado, falhou miseravelmente. E 22 Milhas está mais para Invasão a Londres.

Até então, as demais parcerias de Wahlberg e o diretor, quer você goste ou não, exibiam o mínimo de esmero realista, ao traduzir (ou tentar) tragédias de forma dinâmica, porém, reflexiva. Sim, ainda são cinema entretenimento, mas a aspiração não era ser apenas isso. Se conseguiu ou não, fica a cargao de quem assiste. Com 22 Milhas, elimina-se o fator de urgência da história real, sobrando: 1. O valor de entretenimento do cinema pipoca – o qual o filme carece. E 2. O conteúdo de seu discurso pseudopolítico, no qual o filme cambaleia por completo, terminando por recair no terreno do mau gosto.

Na trama, Wahlberg é o líder de uma equipe de elite do governo norte-americano. Ele é o melhor no que faz, em parte devido a um desvio de personalidade que o faz quase autista, puxando um elástico no punho quando está em vias de explodir de estresse. E esse é todo o desenvolvimento que esta máquina de matar irá receber no longa. Não existe espaço para vida pessoal e o sujeito repudia qualquer conceito de férias – não diferindo realmente de um robô, no melhor estilo Exterminador do Futuro. Na equipe, temos também Lauren Cohan (The Walking Dead) – a melhor coisa do longa – e Ronda Rousey, ex-lutadora transformada em atriz.

Como se não bastasse a indecisão entre ser um produto mais sério e um veículo meramente voltado à diversão (esta, aliás, completamente escassa aqui) e os inúmeros rombos no roteiro – especialmente nos que dizem respeito aos personagens e suas motivações -, a forma como Peter Berg escolhe filmar este thriller capenga é no mínimo estranha. Adquirindo uma súbita síndrome de Michael Bay, Berg sacode sua câmera de modo epilético nas cenas de ação, todas realizadas com uma montagem extremamente picotada – daquele tipo que causa dificuldade para entendermos o que se passa em tela. A forma narrativa prejudica, inclusive, o astro asiático Iko Uwais e sua performance nas artes marciais. Sim, num filme sobre terrorismo temos espaço para façanhas e piruetas marciais aqui e acolá. Eu sei, nada faz muito sentido.

22 Milhas é um dos maiores erros recentes na carreira de Wahlberg, e eles não são poucos. A violência gratuita não é caricatural, exagerada ou insana ao ponto de provocar risadas de nervoso, é simplesmente feia e suja, e de puro mau gosto. Ah sim, e para quem for esperando um filme com começo, meio e fim, mais um motivo para desaprovar o longa. A obra tem a tremenda cara de pau de se negar a uma conclusão, propositalmente deixando a trama sem desfecho a fim de nos empurrar goela abaixo uma famigerada continuação. A qual rezemos, não saia do papel…

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Tal mensagem de autocrítica – numa era em que é mais imprescindível – não pode ser encontrada no maníaco 22 Milhas, nova colaboração entre o ator Mark Wahlberg e o diretor Peter Berg. A dupla lança agora sua quarta produção, depois de O Grande Herói (2013), Horizonte Profundo (2016) e O Dia do Atentado (2016) – todos baseados em acontecimentos trágicos da história recente dos EUA. Diferente das produções anteriores, 22 Milhas é meramente uma ficção, que falha em ambos os âmbitos nos quais deseja ciceronear.

E por que citei Rambo II no início do texto, você pergunta? Simples. Assim como a produção estrelada por Sylvester Stallone na década de 1980, 22 Milhas apresenta o herói forte e indefectível na pele de Mark Wahlberg, cujo único propósito de existência é servir ao seu país usando suas habilidades: matar pessoas. Pode-se dizer que é a tentativa de resgatar um subgênero de tal era, o cinema brucutu. A grande diferença é que hoje existe uma preocupação maior com tudo que diz respeito ao politicamente incorreto e a forma como tais elementos são utilizados. Por exemplo, Invasão a Casa Branca (2013) soube fazer muito bem – brincar com os arquétipos do subgênero, acrescentando frescor. Sua continuação, por outro lado, falhou miseravelmente. E 22 Milhas está mais para Invasão a Londres.

Até então, as demais parcerias de Wahlberg e o diretor, quer você goste ou não, exibiam o mínimo de esmero realista, ao traduzir (ou tentar) tragédias de forma dinâmica, porém, reflexiva. Sim, ainda são cinema entretenimento, mas a aspiração não era ser apenas isso. Se conseguiu ou não, fica a cargao de quem assiste. Com 22 Milhas, elimina-se o fator de urgência da história real, sobrando: 1. O valor de entretenimento do cinema pipoca – o qual o filme carece. E 2. O conteúdo de seu discurso pseudopolítico, no qual o filme cambaleia por completo, terminando por recair no terreno do mau gosto.

Na trama, Wahlberg é o líder de uma equipe de elite do governo norte-americano. Ele é o melhor no que faz, em parte devido a um desvio de personalidade que o faz quase autista, puxando um elástico no punho quando está em vias de explodir de estresse. E esse é todo o desenvolvimento que esta máquina de matar irá receber no longa. Não existe espaço para vida pessoal e o sujeito repudia qualquer conceito de férias – não diferindo realmente de um robô, no melhor estilo Exterminador do Futuro. Na equipe, temos também Lauren Cohan (The Walking Dead) – a melhor coisa do longa – e Ronda Rousey, ex-lutadora transformada em atriz.

Como se não bastasse a indecisão entre ser um produto mais sério e um veículo meramente voltado à diversão (esta, aliás, completamente escassa aqui) e os inúmeros rombos no roteiro – especialmente nos que dizem respeito aos personagens e suas motivações -, a forma como Peter Berg escolhe filmar este thriller capenga é no mínimo estranha. Adquirindo uma súbita síndrome de Michael Bay, Berg sacode sua câmera de modo epilético nas cenas de ação, todas realizadas com uma montagem extremamente picotada – daquele tipo que causa dificuldade para entendermos o que se passa em tela. A forma narrativa prejudica, inclusive, o astro asiático Iko Uwais e sua performance nas artes marciais. Sim, num filme sobre terrorismo temos espaço para façanhas e piruetas marciais aqui e acolá. Eu sei, nada faz muito sentido.

22 Milhas é um dos maiores erros recentes na carreira de Wahlberg, e eles não são poucos. A violência gratuita não é caricatural, exagerada ou insana ao ponto de provocar risadas de nervoso, é simplesmente feia e suja, e de puro mau gosto. Ah sim, e para quem for esperando um filme com começo, meio e fim, mais um motivo para desaprovar o longa. A obra tem a tremenda cara de pau de se negar a uma conclusão, propositalmente deixando a trama sem desfecho a fim de nos empurrar goela abaixo uma famigerada continuação. A qual rezemos, não saia do papel…

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