quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | 2ª temporada de ‘Cidade Invisível’ retorna com novas aventuras e velhos problemas

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‘Cidade Invisível’ chegou ao catálogo da Netflix em 2021 e, em pouco tempo, tornou-se um sucesso gigantesco tanto no Brasil quanto no mercado internacional. A produção, criada por Carlos Saldanha, bebe muito de obras como ‘Once Upon a Time’ e recria a mitologia folclórica nacional através de uma narrativa ambientada nos dias de hoje e que envolve mistério, fantasia, drama e reviravoltas inesperadas que redescobrem as clássicas lendas do nosso país em um viés bastante ousado. Apesar dos claros problemas de ritmo e de roteiro, o principal ponto de engate emerge com um elenco de ponta que nos encanta desde os primeiros momentos e que nos guia através de curtos episódios que nos deixam ansiando por mais.

Dois anos depois da estreia do show, a gigante do streaming nos presenteia com um vindouro e antecipadíssimo segundo ciclo que migra o escopo principal para a região Norte do Brasil – afastando-se do conglomerado urbano do Rio de Janeiro e honrando a cultura dos povos originários que deram vida a esses contos. Agora, Saldanha, aliado a Raphael Draccon e Carolina Munhóz, tem mais espaço para explorar o cosmos apresentado no ciclo predecessor, sem precisar se valer das fórmulas introdutórias e podendo investir esforços em personagens que aprendemos a amar. No entanto, ainda que as boas intenções estejam ali, erros familiares voltam a acontecer e mancham o que poderia ser uma produção nacional impecável.



Depois dos trágicos eventos da primeira temporada, em que Eric (Marco Pigossi) se sacrificou para destruir o Corpo Seco e impedir que ele coletasse mais vítimas, sua filha, Luna (Manu Dieguez), e Inês (Alessandra Negrini), também conhecida como Cuca, se veem no meio da Floresta Amazônica para encontrá-lo. Depois de cruzarem caminho com forças desconhecidas, Luna pede ajuda para a mística entidade conhecida como Matinta Perera (Letícia Spiller) para que a ajude a resgatar o pai. Entretanto, Matinta pede algo em troca – que é cobrado pouco depois de Eric “voltar dos mortos” – e revela estar em conluio com uma rica família da cidade de Belém que supervisiona um garimpo ilegal de ouro e quer encontrar o místico santuário conhecido como Marangatu – liderada por uma poderosa mulher chamada Deborah (Zahy Guajajara).

As linhas narrativas são diversas e exploram personagens como Mula sem Cabeça, o Lobisomem, Maria Cananina e vários outros; todavia, é inegável perceber que o roteiro, por mais que lute contra a urgência de apressar a si mesmo, lança-se em conclusões apressadas que abrem diversos furos e que não deixam que o potencial seja explorado ao máximo. E, novamente, lidamos com cenas introdutórias extremamente afoitas e curtas que tentam emular produções similares e falham em mostrar sua necessidade. A verdade é que os breves cinco capítulos deveriam ter tempo maior de duração para deixar a temática falar por conta própria e garantir que cada um dos múltiplos arcos seja concluído com esmero e com respeito aos protagonistas e coadjuvantes.

De qualquer forma, o excelente trabalho do elenco consegue, em certa parte, ofuscar esses deslizes. Pigossi e Negrini voltam a roubar a cena com uma química exemplar, enquanto Spiller está irreconhecível como Matinta Perera, engolfada em uma caracterização de tirar o fôlego e usurpando os holofotes com frases proféticas e agourentas que arrepiam até os mais céticos. As adições de Guajajara, Tomás de França, Mestre Sebá, Simone Spodalore são muito bem-vindas, auxiliando a expandir esse universo instigante, enquanto Tatsu Carvalho posa como o principal antagonista com força odiosa. E, pouco antes do final, somos agraciados com uma breve sequência que nos deixa animados para a provável terceira temporada e as incursões que serão trazidas às telinhas.

‘Cidade Invisível’ voltará a fazer sucesso entre os fãs, isso é um fato. Mas não significa que poderia ser bem melhor do que o produto final – visto que, à medida que corrige deslizes do ciclo interior, mantém-se atrelado a uma estrutura que precisa mudar se quiser ter uma vida mais longeva.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Dois anos depois da estreia do show, a gigante do streaming nos presenteia com um vindouro e antecipadíssimo segundo ciclo que migra o escopo principal para a região Norte do Brasil – afastando-se do conglomerado urbano do Rio de Janeiro e honrando a cultura dos povos originários que deram vida a esses contos. Agora, Saldanha, aliado a Raphael Draccon e Carolina Munhóz, tem mais espaço para explorar o cosmos apresentado no ciclo predecessor, sem precisar se valer das fórmulas introdutórias e podendo investir esforços em personagens que aprendemos a amar. No entanto, ainda que as boas intenções estejam ali, erros familiares voltam a acontecer e mancham o que poderia ser uma produção nacional impecável.

Depois dos trágicos eventos da primeira temporada, em que Eric (Marco Pigossi) se sacrificou para destruir o Corpo Seco e impedir que ele coletasse mais vítimas, sua filha, Luna (Manu Dieguez), e Inês (Alessandra Negrini), também conhecida como Cuca, se veem no meio da Floresta Amazônica para encontrá-lo. Depois de cruzarem caminho com forças desconhecidas, Luna pede ajuda para a mística entidade conhecida como Matinta Perera (Letícia Spiller) para que a ajude a resgatar o pai. Entretanto, Matinta pede algo em troca – que é cobrado pouco depois de Eric “voltar dos mortos” – e revela estar em conluio com uma rica família da cidade de Belém que supervisiona um garimpo ilegal de ouro e quer encontrar o místico santuário conhecido como Marangatu – liderada por uma poderosa mulher chamada Deborah (Zahy Guajajara).

As linhas narrativas são diversas e exploram personagens como Mula sem Cabeça, o Lobisomem, Maria Cananina e vários outros; todavia, é inegável perceber que o roteiro, por mais que lute contra a urgência de apressar a si mesmo, lança-se em conclusões apressadas que abrem diversos furos e que não deixam que o potencial seja explorado ao máximo. E, novamente, lidamos com cenas introdutórias extremamente afoitas e curtas que tentam emular produções similares e falham em mostrar sua necessidade. A verdade é que os breves cinco capítulos deveriam ter tempo maior de duração para deixar a temática falar por conta própria e garantir que cada um dos múltiplos arcos seja concluído com esmero e com respeito aos protagonistas e coadjuvantes.

De qualquer forma, o excelente trabalho do elenco consegue, em certa parte, ofuscar esses deslizes. Pigossi e Negrini voltam a roubar a cena com uma química exemplar, enquanto Spiller está irreconhecível como Matinta Perera, engolfada em uma caracterização de tirar o fôlego e usurpando os holofotes com frases proféticas e agourentas que arrepiam até os mais céticos. As adições de Guajajara, Tomás de França, Mestre Sebá, Simone Spodalore são muito bem-vindas, auxiliando a expandir esse universo instigante, enquanto Tatsu Carvalho posa como o principal antagonista com força odiosa. E, pouco antes do final, somos agraciados com uma breve sequência que nos deixa animados para a provável terceira temporada e as incursões que serão trazidas às telinhas.

‘Cidade Invisível’ voltará a fazer sucesso entre os fãs, isso é um fato. Mas não significa que poderia ser bem melhor do que o produto final – visto que, à medida que corrige deslizes do ciclo interior, mantém-se atrelado a uma estrutura que precisa mudar se quiser ter uma vida mais longeva.

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