domingo , 29 dezembro , 2024

Crítica | 2ª temporada de ‘Cruel Summer’ não é tão original quanto a primeira, mas ainda assim é bem intrigante

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Há dois anos, o canal Freeform e o Prime Video lançavam o aclamado suspense dramático Cruel Summer – uma história extremamente angustiante e que bebia das melhores narrativas de mistério do circuito audiovisual e literário. Qual foi nossa surpresa quando uma segunda temporada foi anunciada, chegando ao catálogo da plataforma de streaming nesta última sexta-feira e apostando fichas em uma construção antológica (uma saída inteligente, considerando que a trama do ciclo de estreia se completou, ainda que tenha aberto portas para uma possível continuação). E, mesmo não tendo o brilho de originalidade da primeira iteração, somos engolfados em um intrigante thriller que nos guia em caminhos diversos apenas para entregar uma ótima reviravolta.

No novo ano, acompanhamos Isabella (Lexi Underwood), filha de diplomatas que viaja a uma idílica cidade interiorana chamada Chatham como intercambista, sendo escalada para morar na casa de Debbie (KaDee Strickland), uma mãe solteira que vive com as filhas Megan (Sadie Stanley) e Lily (Jenna Lamb). A princípio, Megan, a filha mais velha, não está animada para receber uma pessoa estranha em seu lar, esquivando-se das tentativas de Isabella em fazer uma boa impressão. Todavia, elas se tornam grandes amigas – até uma tragédia colocar o relacionamento das duas em perigo e prenunciar um vórtice de mentiras e de investigações que podem colocá-las na prisão para o resto da vida.



Seguindo os passos da iteração predecessora, o enredo é dividido em três linhas do tempo que, eventualmente, confluem para um mesmo ponto. A primeira é ambientada no outono de 1999; a segunda, no inverno de 1999; e, por fim, o verão dos anos 2000. O episódio piloto é impecável, apresentando os personagens principais e mostrando que, o que enxergávamos como uma amizade verdadeira, se transformou um círculo inquebrável de ódio e ressentimento envolvendo algo que não temos ideia do que seja. Mas somos levados a imaginar que Isabella e Megan foram responsáveis pelo assassinato de um jovem garoto que teve um caso com ambas, Luke (Griffin Gluck, recém-saído de seu ótimo trabalho em ‘Locke & Key’). O que, de fato, aconteceu?

O criador Bert V. Royal demonstra ter inúmeras histórias para contar e revela ter um apreço pelo universo que criou, reiterado em seu comprometimento na angústia promovida por cada uma das personas. E é claro que isso não seria possível sem atuações aplaudíveis do elenco: Gluck e Stanley estão soberbos nas telinhas, navegando com fluidez pelos personagens que encarnam, mas é Underwood, que já demonstrou sua versatilidade performática em séries como ‘Just Beyond’ e ‘Pequenos Incêndios por Toda Parte’. Ao interpretar Isabella, a atriz entra em simbiose com seus colegas e rouba o foco ao esconder segredos que transparecem pouco a pouco em uma mixórdia de sensações e twists de tirar o fôlego.

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As boas intenções estão por todos os lados e funcionam em uma parte considerável da trama. Entretanto, os dez longos episódios, por vezes, ficam repetitivos e caem em fórmulas do gênero que estamos cansados de ver em inúmeras obras. Tudo bem, a narrativa não se resume apenas em explorar o mistério, mas brincar com a ambiguidade entre a apatia e o desespero em um cotidiano que oculta inúmeras coisas em plena vista; não obstante essa preocupação, percebemos que, à medida que nos aproximamos do final, as incursões não têm para onde fugir além do óbvio (e mesmo as reviravoltas são previsíveis, dentro das possibilidades).

Os elementos artísticos são sólidos, mas partem de uma premissa idêntica ao ciclo anterior. A parte inicial é movida pela alegria e pelo otimismo, marcado por cores gritantes e tons de amarelo que migram da fotografia aos trajes dos personagens; já no inverno, Royal e seu time criativo recriam aspectos do suspense com um filtro azulado, abrindo portas para uma crescente melancolia que prenuncia a tragédia principal da temporada. Por fim, somos transbordados por um uso pungente do verde, indicando passividade e solidão: todos estão por conta própria e não podem confiar em ninguém ali de si próprios.

O novo compilado de episódios de Cruel Summer é satisfatório em sua completude, tropeçando aqui e ali. Ainda que não tenha sido necessária, retornar para esse complexo e intrigante cosmos é sempre uma pedida certeira – e vai nos deixar em choque com a resolução dos eventos por boas horas antes de seguirmos em frente.

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Há dois anos, o canal Freeform e o Prime Video lançavam o aclamado suspense dramático Cruel Summer – uma história extremamente angustiante e que bebia das melhores narrativas de mistério do circuito audiovisual e literário. Qual foi nossa surpresa quando uma segunda temporada foi anunciada, chegando ao catálogo da plataforma de streaming nesta última sexta-feira e apostando fichas em uma construção antológica (uma saída inteligente, considerando que a trama do ciclo de estreia se completou, ainda que tenha aberto portas para uma possível continuação). E, mesmo não tendo o brilho de originalidade da primeira iteração, somos engolfados em um intrigante thriller que nos guia em caminhos diversos apenas para entregar uma ótima reviravolta.

No novo ano, acompanhamos Isabella (Lexi Underwood), filha de diplomatas que viaja a uma idílica cidade interiorana chamada Chatham como intercambista, sendo escalada para morar na casa de Debbie (KaDee Strickland), uma mãe solteira que vive com as filhas Megan (Sadie Stanley) e Lily (Jenna Lamb). A princípio, Megan, a filha mais velha, não está animada para receber uma pessoa estranha em seu lar, esquivando-se das tentativas de Isabella em fazer uma boa impressão. Todavia, elas se tornam grandes amigas – até uma tragédia colocar o relacionamento das duas em perigo e prenunciar um vórtice de mentiras e de investigações que podem colocá-las na prisão para o resto da vida.

Seguindo os passos da iteração predecessora, o enredo é dividido em três linhas do tempo que, eventualmente, confluem para um mesmo ponto. A primeira é ambientada no outono de 1999; a segunda, no inverno de 1999; e, por fim, o verão dos anos 2000. O episódio piloto é impecável, apresentando os personagens principais e mostrando que, o que enxergávamos como uma amizade verdadeira, se transformou um círculo inquebrável de ódio e ressentimento envolvendo algo que não temos ideia do que seja. Mas somos levados a imaginar que Isabella e Megan foram responsáveis pelo assassinato de um jovem garoto que teve um caso com ambas, Luke (Griffin Gluck, recém-saído de seu ótimo trabalho em ‘Locke & Key’). O que, de fato, aconteceu?

O criador Bert V. Royal demonstra ter inúmeras histórias para contar e revela ter um apreço pelo universo que criou, reiterado em seu comprometimento na angústia promovida por cada uma das personas. E é claro que isso não seria possível sem atuações aplaudíveis do elenco: Gluck e Stanley estão soberbos nas telinhas, navegando com fluidez pelos personagens que encarnam, mas é Underwood, que já demonstrou sua versatilidade performática em séries como ‘Just Beyond’ e ‘Pequenos Incêndios por Toda Parte’. Ao interpretar Isabella, a atriz entra em simbiose com seus colegas e rouba o foco ao esconder segredos que transparecem pouco a pouco em uma mixórdia de sensações e twists de tirar o fôlego.

As boas intenções estão por todos os lados e funcionam em uma parte considerável da trama. Entretanto, os dez longos episódios, por vezes, ficam repetitivos e caem em fórmulas do gênero que estamos cansados de ver em inúmeras obras. Tudo bem, a narrativa não se resume apenas em explorar o mistério, mas brincar com a ambiguidade entre a apatia e o desespero em um cotidiano que oculta inúmeras coisas em plena vista; não obstante essa preocupação, percebemos que, à medida que nos aproximamos do final, as incursões não têm para onde fugir além do óbvio (e mesmo as reviravoltas são previsíveis, dentro das possibilidades).

Os elementos artísticos são sólidos, mas partem de uma premissa idêntica ao ciclo anterior. A parte inicial é movida pela alegria e pelo otimismo, marcado por cores gritantes e tons de amarelo que migram da fotografia aos trajes dos personagens; já no inverno, Royal e seu time criativo recriam aspectos do suspense com um filtro azulado, abrindo portas para uma crescente melancolia que prenuncia a tragédia principal da temporada. Por fim, somos transbordados por um uso pungente do verde, indicando passividade e solidão: todos estão por conta própria e não podem confiar em ninguém ali de si próprios.

O novo compilado de episódios de Cruel Summer é satisfatório em sua completude, tropeçando aqui e ali. Ainda que não tenha sido necessária, retornar para esse complexo e intrigante cosmos é sempre uma pedida certeira – e vai nos deixar em choque com a resolução dos eventos por boas horas antes de seguirmos em frente.

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