sexta-feira, março 29, 2024

Crítica 3 | A Chegada

UM PALÍNDROMO VISUAL

 

A abertura é uma sequência que vai do nascimento à morte da filha da Dra. Louise Banks (Amy Adams), em um estilo que parece uma versão do desenho UP dirigida por Terrence Malick, o diretor do soberbo A Árvore da Vida. Na cena seguinte, Louise está na universidade quando os poucos alunos pedem que ela ligue a TV. A câmera prefere focar nos rostos dos alunos e de Louise do que no noticiário sobre as naves espaciais. Um filme de ficção científica que começa deste jeito quebra qualquer expectativa. A dimensão humana tomará o lugar das grandes destruições. Com A Chegada (Arrival), Denis Villeneuve se filia à escola que usa a ficção científica para falar de assuntos humanos.

Por seus talentos como linguista, Louise é convocada pelo exército para tentar se comunicar com os alienígenas. A parte central da narrativa vai transcorrer nas diversas etapas desse processo. Mas, os percalços pelos quais passam a equipe são apenas a superfície da história. Todo o filme é visto pela perspectiva de Louise. Quando ela veste a roupa de proteção, o som fica abafado; quando ela está no helicóptero, só entendemos o que o físico e parceiro de missão Ian Donnelly (Jeremy Renner) fala quando Louise coloca o fone. Todos os elementos do filme trabalham para uma narrativa em primeira pessoa – assim como no conto de Ted Chiang, que deu origem ao filme.

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Villeneuve trabalha uma dupla perspectiva, tanto no grande evento da chegada das naves alienígenas quanto as dificuldades da protagonista. Essas duas linhas irão se encontrar  no final. Até lá, Villeneuve vai colocando seu apuro estético assombroso e sua capacidade de estabelecer uma ação quase minimalista à serviço do suspense e da tensão. Em A Chegada, ele não produz uma sequência de ação tão minimalista quanto a do engarrafamento em Sicário. Em A Chegada, a tensão deriva mais da busca de Louise por entender a linguagem dos ETs e da postura dos militares, do que da ação em si.

Não, o diretor não opta pelo clássico confronto entre um nobre herói que precisa convencer seus superiores burros do quanto eles são estúpidos. Pelo contrário! Há uma busca incessante por compreensão: de Louise com o ETs; dela com os militares; dos diversos países buscando solucionar a crise. Quando vemos as dificuldades de Louise para estabelecer um diálogo simples com os alienígenas, a metáfora fica evidente.

Estruturalmente, A Chegada é circular, com muitas rimas visuais. As sessões de comunicação com os ETs e as cenas de Hannah (Abigail Pniowsky), filha de Louise, dialogam entre si, até o aspecto oval das naves reforça essa circularidade. Essa circularidade cria belas rimas visuais, especialmente as envolvendo mãe e filha. Assim como o nome Hannah, o filme formar um palíndromo visual, permitindo emocionantes leituras circulares.

 

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Com viés pacifista, o filme questiona a intolerância, a falta de comunicação e até a dificuldade de lidarmos com o nosso eu. Por uma feliz combinação de cenografia, fotografia e som/trilha sonoro, o clima no interior da nave evoca um casulo, no qual Louise se refugia para alcançar a sua humanidade. Essencial para o funcionamento do filme é a atuação de Amy Adams, que entrega mais uma interpretação estupenda em uma carreira que deixa este crítico de joelhos! Oscar, não vai errar ano que vem!

Mas, é a outra camada de narrativa, que se revela ao final, que emocionou este crítico e faz desta obra uma das mais interessantes do ano e já me faz abrir espaço na mesma prateleira de 2001 – Uma Odisseia no Espaço e Solaris (o do Tarkóvski) – com as devidas proporções, claro! Não se preocupem, não vou contar o final, apenas colocar algumas reflexões que virem à mente – se preferir não prosseguir no texto, já agradeço pela sua leitura.

Não deixe de assistir:

A Chegada não tem a profundidade metafísica de 2001 ou Solaris; ele é menor nesse sentido, oferecendo uma questão mais “mundana”, e mais próxima do homem comum. Quase sendo didático, o filme traduz um dos seus dilemas com uma pergunta feita pela protagonista. Ela pode parecer sem sentido fora do universo da ficção científica. Contudo, se a gente se perguntar o porquê seguimos em frente mesmo quando sabemos que as coisas vão dar errada, tudo porque temos fé de que será diferente, ou porque algo valerá a pena e irá compensar os erros, a pergunta de Louise começa a fazer sentido.

O que estamos dispostos a sacrificar em nome dos que amamos? O quanto estamos dispostos a suportar, sem vergar diante da dor? E, principalmente, por que seguimos em frente mesmo sabendo que a morte está nos esperando – e que nenhuma fé ainda dissipou totalmente a dúvida do que vem depois?!

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Talvez o leitor diga que são questões complexas para o homem comum, ou que o filme está longe de ser cinema pipoca. Bom, certamente, não estamos diante dos ETs de Transformers, mas provavelmente, muitas pessoas já se questionaram sobre as dificuldades de ter um filho e, mesmo assim, seguiram em frente. E nisto o filme acerta: o quanto estamos dispostos a aceitar da vida? A aceitação de Louise pode parecer resignação. Se for, é uma resignação costurada pelo amor, uma compreensão de que a há uma beleza no seguir. Afinal, esta nossa corrido em direção ao abraço da morte não significa que desistimos da vida.

E, aí, o que achou do filme? Adorou ou acho exagero da crítica? Também tá torcendo pela Amy Adams no Oscar? Vamos, comente, compartilhe e curta nossas redes sociais:

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