terça-feira , 5 novembro , 2024

Crítica 3 | The Post – A Guerra Secreta – Spielberg Estiloso mas com roteiro frouxo

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Steven Spielberg tem em mãos uma grande história: a divulgação de documentos sigilosos que revelou as tentativas de diversos presidentes norte-americanos de esconderem o atoleiro que foi a guerra do Vietnã. O caso chegou a ser julgado pela Suprema Corte dos EUA, que reconheceu a liberdade dos jornais divulgar tais documentos. The Post – A Guerra Secreta (The Post), contudo, não consegue ser tão envolvente quanto os eventos históricos narrados.

O problema do roteiro está no estabelecimento da tensão entre as duas linhas narrativas propostas: de um lado, temos os bastidores da redação do The Washington Post na busca dos documentos, com foco no editor Ben Bradlee (Tom Hanks); de outro lado, assistimos a Kay Graham (Meryl Streep), proprietária do jornal, abrindo as ações da empresa na bolsa de valores. A tensão do filme está na dúvida entre publicar os documentos, respeitando a tradição do jornal, e as consequências negativas disso nos negócios.

Esse embate entre Bradlee e Graham, porém, não é explosivo. O filme retrata Graham como uma mulher que preza pelos valores da imprensa livre e que só está abrindo o capital do jornal para sanar os problemas financeiros do mesmo. Ou seja, a tensão não é plantada num clássico embate entre editor heroico e chefa que só pensa em dinheiro. O filme prefere focar no drama da Graham entre autorizar ou não a publicação de uma notícia importante, mas que pode prejudicar as finanças do jornal.

Com um primeiro ato extenso, essa tensão essencial demora a se estabelecer. E, quando ela é posta, ficamos com a impressão de que o freio de mão ainda está puxado. Sendo mais justo: as sequências envolvendo a redação do jornal conseguem passar a sensação de urgência que o caso pede; ritmo quebrado quando a câmera se volta para Key Graham.

Essa fraqueza do filme é causada por uma dificuldade  que volta e meia aparece em obras de Spielberg: personagens pouco ambíguos em situações que não exploram todo o potencial explosivo da situação. A relação perigosamente íntima da imprensa e da política é mostrada no filme, mas Spielberg quer manter seus personagens íntegros demais para expor a sujeira que a situação tem. Bradlee e Graham são nobres e não contaminados pela sujeita política necessária para que o filme ganhe aquele sabor ambiguamente gostoso dos thrillers políticos. Enfim, Spielberg prefere construir uma narrativa de nobreza do que um thriller envolvente.

Apesar do ritmo problemático, o filme é bastante apurado visualmente. Os ângulos da câmera, especialmente quando focalizam Meryl Streep, conseguem traduzir, ao mesmo tempo, o estado da alma da personagem e a difícil condição das mulheres na década de 1970. Aliás, outro ponto forte da película, a exposição da situação feminina e o retrato de uma mulher que busca superar tal condição. Sobre isso, emblemático é o contraste existente no momento que Graham autoriza a publicação dos documentos: a decisão é tomada em meio a uma festa em sua casa. A casa, a festa, espaços reservados às mulheres. O escritório, o jornal, a direção do jornal, espaço masculinos. Em uma mesma sequência, Graham transita da festa para o escritório, dando a palavra final sobre a publicação. De anfitriã à líder, o filme traduz o pioneirismo das mulheres daquela época. Ao final dessa sequência, a câmera se posiciona de uma forma que não subjulga Graham aos homens. Infelizmente, Spielberg não se contenta com os ótimos enquadramentos que traduzem a condição feminina da época e acaba incluindo diálogos expositivos sobre o estado de alma de seus personagens.

The Post possui muito acertos visuais, consegue tocar em vários assuntos relevantes (condição da mulher, liberdade de imprensa, manipulação política), mas possui um problema de ritmo que prejudica o envolvimento do espectador. Uma pena em se tratando de um tema tão relevante. Pena que Spielberg prefira buscar o lado patriótico edificante, ao invés do caminho da exposição das contradições.

E aí, o que achou de The Post? Também achou pouco envolvente, ou ficou na ponta da cadeira? Também acha que Meryl Streep não merecia ter sido indicada? Vamos, comente, compartilhe e não deixe de curtir nossas redes sociais:

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Steven Spielberg tem em mãos uma grande história: a divulgação de documentos sigilosos que revelou as tentativas de diversos presidentes norte-americanos de esconderem o atoleiro que foi a guerra do Vietnã. O caso chegou a ser julgado pela Suprema Corte dos EUA, que reconheceu a liberdade dos jornais divulgar tais documentos. The Post – A Guerra Secreta (The Post), contudo, não consegue ser tão envolvente quanto os eventos históricos narrados.

O problema do roteiro está no estabelecimento da tensão entre as duas linhas narrativas propostas: de um lado, temos os bastidores da redação do The Washington Post na busca dos documentos, com foco no editor Ben Bradlee (Tom Hanks); de outro lado, assistimos a Kay Graham (Meryl Streep), proprietária do jornal, abrindo as ações da empresa na bolsa de valores. A tensão do filme está na dúvida entre publicar os documentos, respeitando a tradição do jornal, e as consequências negativas disso nos negócios.

Esse embate entre Bradlee e Graham, porém, não é explosivo. O filme retrata Graham como uma mulher que preza pelos valores da imprensa livre e que só está abrindo o capital do jornal para sanar os problemas financeiros do mesmo. Ou seja, a tensão não é plantada num clássico embate entre editor heroico e chefa que só pensa em dinheiro. O filme prefere focar no drama da Graham entre autorizar ou não a publicação de uma notícia importante, mas que pode prejudicar as finanças do jornal.

Com um primeiro ato extenso, essa tensão essencial demora a se estabelecer. E, quando ela é posta, ficamos com a impressão de que o freio de mão ainda está puxado. Sendo mais justo: as sequências envolvendo a redação do jornal conseguem passar a sensação de urgência que o caso pede; ritmo quebrado quando a câmera se volta para Key Graham.

Essa fraqueza do filme é causada por uma dificuldade  que volta e meia aparece em obras de Spielberg: personagens pouco ambíguos em situações que não exploram todo o potencial explosivo da situação. A relação perigosamente íntima da imprensa e da política é mostrada no filme, mas Spielberg quer manter seus personagens íntegros demais para expor a sujeira que a situação tem. Bradlee e Graham são nobres e não contaminados pela sujeita política necessária para que o filme ganhe aquele sabor ambiguamente gostoso dos thrillers políticos. Enfim, Spielberg prefere construir uma narrativa de nobreza do que um thriller envolvente.

Apesar do ritmo problemático, o filme é bastante apurado visualmente. Os ângulos da câmera, especialmente quando focalizam Meryl Streep, conseguem traduzir, ao mesmo tempo, o estado da alma da personagem e a difícil condição das mulheres na década de 1970. Aliás, outro ponto forte da película, a exposição da situação feminina e o retrato de uma mulher que busca superar tal condição. Sobre isso, emblemático é o contraste existente no momento que Graham autoriza a publicação dos documentos: a decisão é tomada em meio a uma festa em sua casa. A casa, a festa, espaços reservados às mulheres. O escritório, o jornal, a direção do jornal, espaço masculinos. Em uma mesma sequência, Graham transita da festa para o escritório, dando a palavra final sobre a publicação. De anfitriã à líder, o filme traduz o pioneirismo das mulheres daquela época. Ao final dessa sequência, a câmera se posiciona de uma forma que não subjulga Graham aos homens. Infelizmente, Spielberg não se contenta com os ótimos enquadramentos que traduzem a condição feminina da época e acaba incluindo diálogos expositivos sobre o estado de alma de seus personagens.

The Post possui muito acertos visuais, consegue tocar em vários assuntos relevantes (condição da mulher, liberdade de imprensa, manipulação política), mas possui um problema de ritmo que prejudica o envolvimento do espectador. Uma pena em se tratando de um tema tão relevante. Pena que Spielberg prefira buscar o lado patriótico edificante, ao invés do caminho da exposição das contradições.

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