quinta-feira , 21 novembro , 2024

Crítica | 31 – Rob Zombie e sua cópia barata e desagradável de ‘Jogos Mortais’

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O Mais terrível Halloween

Quando o humorista brasileiro Rafinha Bastos fez piada sexual de mau gosto envolvendo uma cantora grávida e seu filho ainda em sua barriga, foi demitido do programa no qual trabalhava e se tornou uma figura “maldita” – com ênfase nas aspas. Já nos EUA, este é o tipo de humor negro do qual o músico transformado em diretor Rob Zombie se apropria e confecciona seus filmes. É claro que temos que levar em conta os públicos-alvo. O de Rafinha era um programa direcionado a todo tipo de público numa TV aberta, já o público de Zombie se restringe justamente a pessoas com o apetite pelo grotesco e pelo bizarro – mais fácil de não se incomodarem com a declaração de um psicopata pra lá de insano, vestido de palhaço, que profere tais absurdos enquanto tortura suas vítimas.

Estamos falando de 31, novo “trabalho” do autoral Rob Zombie, ex-frontman da banda de heavy metal White Zombie, que não por menos foi lançado direto em vídeo no Brasil (assim como todos na filmografia do diretor) e pode ser encontrado no acervo do Telecine. Zombie, no entanto, é um cinéfilo de carteirinha, e deixa sua paixão transparecer inclusive na escolha do nome de sua ex-banda, referência a um clássico de Bela Lugosi (o eterno Drácula) de 1932, intitulado Zumbi – A Legião dos Mortos (White Zombie no original). No currículo do diretor se encontram o filme de estreia A Casa dos 1.000 Corpos (2003) e sua sequência elogiada Rejeitados pelo Diabo (2005) – ambos não menos loucos e sádicos; sua investida na refilmagem do clássico de John Carpenter com Halloween: O Início (2007) e sua continuação (2009); e seu filme de bruxa barra-pesada As Senhoras de Salem (2012) – o ponto alto em seu acervo.



Zombie nunca foi um cineasta sutil, mas esperava-se que seu cinema evoluísse e não apenas se repetisse, regredindo. Mas isso é exatamente o que temos no incoerente 31, que exibe um Zombie cada vez mais focado na forma, esquecendo totalmente do conteúdo. Na trama, passada na década de 1970 (o que parece ser o grande mote para Zombie desenterrar esta ideia), um grupo mambembe de artistas de circo viaja pelas estradas em sua van, planejando novas apresentações. Os personagens principais por si só já são bem estranhos, como gosta de enfatizar o diretor e roteirista. É só dar uma olhada no que faz a personagem de Sheri Moon Zombie, mulher do cineasta e estrela de todos os seus filmes, quando param num posto de gasolina e se deparam com um atendente idoso e pervertido.

Muitos acham que para uma obra se configurar no subgênero torture porn é preciso exibir torturas realizadas através armadilhas (vide Jogos Mortais) ou locais próprios para isso (vide O Albergue). Na realidade, o subgênero se estende ao prazer do sofrimento, a cenas gráficas que envolvem mutilações, perfurações com objetos cortantes, pancadas, ferimentos e todo detalhe explícito na hora de matar uma pessoa. Tais filmes vendem esta proposta como entretenimento, e muitos os compram. Veja bem, não sou contra a violência em filmes, afinal é preciso saber diferenciar ficção e realidade. O que acontece é que nestes casos a coisa sempre fica muito mais interessante quando a violência vem servida de propósito e consequência. Até mesmo em Jogos Mortais tais fatores entram em cena.

Zombie em 31 cria personagens ordinários e desprezíveis, para os quais não damos a mínima. Então quando ele nos pede para que nos importemos com eles, se fiquem vivos ou morram, simplesmente não conseguimos. Por outro lado, tampouco somos sádicos o suficiente para nos divertirmos com suas cruéis e detalhadas mortes, ou quando eles precisam matar seus algozes também. Fora isso, o roteiro sem pé nem cabeça se desenrola de forma pífia, logo no início jogando os personagens dentro de um absurdo tremendo, difícil de acompanhar, e nós junto deles. Quando capturados por um grupo de homens, são deixados num local enorme, que presumo ser uma fábrica abandonada, na qual três idosos, um homem (Malcolm McDowell) e duas mulheres, vestidos de nobres da corte francesa (!?) comandam a caçada abominável. Nada faz sentido ou se conecta com a vida real. Tudo é tão artificial, soando fortemente como truques propositalmente extravagantes, que não se ligam minimamente com ninguém. Fica muito difícil de engolir, não importando sua disposição para um enorme salto de fé.

O filme mistura ainda O Sobrevivente (1987), filme com Arnold Schwarzenegger, baseado num texto de Stephen King, que fala sobre um jogo mortal no futuro, todo televisionado, no qual experientes caçadores de homens, cada qual com sua peculiaridade, o que inclui armas diferentes, tem a missão de matar os protagonistas. Aqui, o mesmo ocorre, e um novo maníaco entra em cena de tempos em tempos com a mesma finalidade. Tudo com a temática do circo de fundo, ou seja, em sua maioria palhaços. Por que? Bem, sei lá. Porque palhaços são assustadores e estão na moda. O termo 31 é o nome do jogo, que também não tem explicação. Uma mais plausível seria a data na qual o filme se passa, 31 de outubro, o halloween. Zombie gosta de focar no grotesco, no bizarro, dá close nas partes do corpo protuberantes de seus intérpretes, como dentes e gengivas grandes, para confeccionar o que perturba, o que incomoda. Mas sem contexto não dá.

Não existe o mínimo de diversão aqui, ou qualquer valor de entretenimento. Pior é quando o cineasta se desembesta a querer dar algum sentido a tudo, espremendo filosofia rasa de boteco, como se tudo tivesse algum significado existencial. É para revirar os olhos. No final, ainda tenta empurrar uma referência ao clássico Massacre da Serra Elétrica (1974), como se estivesse mandando o recado de que deseja esta obra como seu próximo objeto de afeto. Se os produtores tiverem a cabeça no lugar, a deixarão bem longe de Zombie.

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Estamos falando de 31, novo “trabalho” do autoral Rob Zombie, ex-frontman da banda de heavy metal White Zombie, que não por menos foi lançado direto em vídeo no Brasil (assim como todos na filmografia do diretor) e pode ser encontrado no acervo do Telecine. Zombie, no entanto, é um cinéfilo de carteirinha, e deixa sua paixão transparecer inclusive na escolha do nome de sua ex-banda, referência a um clássico de Bela Lugosi (o eterno Drácula) de 1932, intitulado Zumbi – A Legião dos Mortos (White Zombie no original). No currículo do diretor se encontram o filme de estreia A Casa dos 1.000 Corpos (2003) e sua sequência elogiada Rejeitados pelo Diabo (2005) – ambos não menos loucos e sádicos; sua investida na refilmagem do clássico de John Carpenter com Halloween: O Início (2007) e sua continuação (2009); e seu filme de bruxa barra-pesada As Senhoras de Salem (2012) – o ponto alto em seu acervo.

Zombie nunca foi um cineasta sutil, mas esperava-se que seu cinema evoluísse e não apenas se repetisse, regredindo. Mas isso é exatamente o que temos no incoerente 31, que exibe um Zombie cada vez mais focado na forma, esquecendo totalmente do conteúdo. Na trama, passada na década de 1970 (o que parece ser o grande mote para Zombie desenterrar esta ideia), um grupo mambembe de artistas de circo viaja pelas estradas em sua van, planejando novas apresentações. Os personagens principais por si só já são bem estranhos, como gosta de enfatizar o diretor e roteirista. É só dar uma olhada no que faz a personagem de Sheri Moon Zombie, mulher do cineasta e estrela de todos os seus filmes, quando param num posto de gasolina e se deparam com um atendente idoso e pervertido.

Muitos acham que para uma obra se configurar no subgênero torture porn é preciso exibir torturas realizadas através armadilhas (vide Jogos Mortais) ou locais próprios para isso (vide O Albergue). Na realidade, o subgênero se estende ao prazer do sofrimento, a cenas gráficas que envolvem mutilações, perfurações com objetos cortantes, pancadas, ferimentos e todo detalhe explícito na hora de matar uma pessoa. Tais filmes vendem esta proposta como entretenimento, e muitos os compram. Veja bem, não sou contra a violência em filmes, afinal é preciso saber diferenciar ficção e realidade. O que acontece é que nestes casos a coisa sempre fica muito mais interessante quando a violência vem servida de propósito e consequência. Até mesmo em Jogos Mortais tais fatores entram em cena.

Zombie em 31 cria personagens ordinários e desprezíveis, para os quais não damos a mínima. Então quando ele nos pede para que nos importemos com eles, se fiquem vivos ou morram, simplesmente não conseguimos. Por outro lado, tampouco somos sádicos o suficiente para nos divertirmos com suas cruéis e detalhadas mortes, ou quando eles precisam matar seus algozes também. Fora isso, o roteiro sem pé nem cabeça se desenrola de forma pífia, logo no início jogando os personagens dentro de um absurdo tremendo, difícil de acompanhar, e nós junto deles. Quando capturados por um grupo de homens, são deixados num local enorme, que presumo ser uma fábrica abandonada, na qual três idosos, um homem (Malcolm McDowell) e duas mulheres, vestidos de nobres da corte francesa (!?) comandam a caçada abominável. Nada faz sentido ou se conecta com a vida real. Tudo é tão artificial, soando fortemente como truques propositalmente extravagantes, que não se ligam minimamente com ninguém. Fica muito difícil de engolir, não importando sua disposição para um enorme salto de fé.

O filme mistura ainda O Sobrevivente (1987), filme com Arnold Schwarzenegger, baseado num texto de Stephen King, que fala sobre um jogo mortal no futuro, todo televisionado, no qual experientes caçadores de homens, cada qual com sua peculiaridade, o que inclui armas diferentes, tem a missão de matar os protagonistas. Aqui, o mesmo ocorre, e um novo maníaco entra em cena de tempos em tempos com a mesma finalidade. Tudo com a temática do circo de fundo, ou seja, em sua maioria palhaços. Por que? Bem, sei lá. Porque palhaços são assustadores e estão na moda. O termo 31 é o nome do jogo, que também não tem explicação. Uma mais plausível seria a data na qual o filme se passa, 31 de outubro, o halloween. Zombie gosta de focar no grotesco, no bizarro, dá close nas partes do corpo protuberantes de seus intérpretes, como dentes e gengivas grandes, para confeccionar o que perturba, o que incomoda. Mas sem contexto não dá.

Não existe o mínimo de diversão aqui, ou qualquer valor de entretenimento. Pior é quando o cineasta se desembesta a querer dar algum sentido a tudo, espremendo filosofia rasa de boteco, como se tudo tivesse algum significado existencial. É para revirar os olhos. No final, ainda tenta empurrar uma referência ao clássico Massacre da Serra Elétrica (1974), como se estivesse mandando o recado de que deseja esta obra como seu próximo objeto de afeto. Se os produtores tiverem a cabeça no lugar, a deixarão bem longe de Zombie.

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