UM GRANDE FILME MENOR
Imagine ir ao teatro assistir uma ópera grandiosa, cheia de grandes cenas e personagens cativantes. Porém, no lugar da orquestra, colocam um MP3 e uma caixa de som tocando a música. É mais ou menos essa a sensação de assistir Vingadores: Era de Ultron (Avengers: Age of Ultron): um filme grande, sequências de ação em vários pontos do planeta, personagens que amamos, mas, sem aquele o som e a fúria que tornam um filme grandioso.
Antes de acusarem o parágrafo anterior de ser “coisa de crítico”, deixo claro que Era de Ultron diverte, mas, comparado com outros filmes da Marvel, falta algo. Quando saiu o primeiro filme da equipe, disse que ele era como um episódio crossover, unindo personagens de séries diferentes que amamos; esses episódios, em geral, são interessantes, mas não mais que isso. Era de Ultron acomoda-se na fórmula que deu certo no primeiro filme, amarra uma ponta ou outra e tem alguns momentos interessantes. Parece que o diretor, Joss Whedon, sabendo que a legião de fãs da Marvel garantiria a bilheteria, acomodou-se em berço esplendido. E falo o diretor – e talvez também o roteirista – porque parece que a Marvel já notou que algo não saiu dentro dos altos padrões da casa e chamou os irmãos Russo – de Capitão América: Soldado Invernal – para dirigir os dois próximos filmes.
As sequências de ação são repetitivas e pouco criativas. Tal pasteurização pode anestesiar parte da plateia – ao menos, eu fiquei… O curioso é que o filme almeja a grandiosidade. A ação transcorre em vários países e vários tipos de ambientes, e a sequência do ato final é realmente surreal. Porém, fica faltando algo. Nem o fato de vermos os civis em perigo – escolha que normalmente dá humanidade e urgência para a ação – ajuda. As sequências de ação de Soldado Invernal, para ficarmos no mesmo exemplo, possuem muito mais adrenalina e uma verdadeira noção de perigo. Para completar, os dialogo cômicos são pouco inspirados, e tão preguiçosos quanto às cenas de ação.
Era de Ultron parecia ser um filme que traria um subtexto interessante, especialmente se pensarmos na ideia de um inteligência artificial que quer trazer a paz arrasando com a humanidade. Porém, se a primeira aparição Ultron (voz de James Spader) é espetacular, a personagem que começa insana, vai ficando menor. É curioso como à medida que o físico dele aumenta seu lado diminui. Com isso, não só o lado ameaçador do filme, como seu subtexto esvazia-se. Uma grande pena, porque toda a série X-Men já provou que filmes de equipe não precisam ser rasos e limitar-se a uma confraternização entre amigos.
Alguns dos melhores momentos do filme são, justamente, fora das cenas de ação, como a festa na Torre dos Vingadores (belo cenário!), a vida privada do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner), a relação amorosa entre a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e o Hulk (Mark Ruffalo) e o nascimento do Visão (Paul Bettany). A imagem do Visão promete deslumbrar os fãs. A atuação de Bettany, mesmo pequena, marca. Na sequência do seu nascimento, Whedon tem um instante inspirado, quando o seu primeiro close é no reflexo do rosto dele nas janelas da Torre dos Vingadores, dando-lhe uma humanidade instantânea. Também merecem destaque os irmãos Pietro (Aaron Taylor-Johson) e Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen).
Claro que Era de Ultron não é um filme ruim. O ingresso se paga, há várias pistas de como os próximos filmes serão e os fãs vão adorar. O triste é ver um filme que prometia tanto não entregar nem metade do prometido. E se pensarmos, mais uma vez, no nível que a Marvel estabeleceu nos últimos filmes (inclusive com excelentes subtextos) e que Era de Ultron encerrou a fase 2 da Marvel, realmente é decepcionante.