Poucas séries na atualidade despertavam tanta curiosidade do público quanto The Boys. Lançada em uma época em que o Prime Video ainda estava buscando seu espaço no mercado brasileiro, a série virou peça-chave para o sucesso da Amazon no Brasil e no mundo. Com uma ironia deliciosa, um desprezo pela vida humana assustador e um caminhão de críticas à sociedade global, a produção, inspirada nos quadrinhos de Garth Ennis, foi conquistando o público de fãs de HQs e conseguiu furar a bolha, se tornando a produção de maior sucesso do streaming.
Por conta disso, a quarta temporada era muito aguardada pelos fãs, já que a terceira temporada havia sofrido com a irregularidade dos episódios, mas terminava com um grande gancho para o que viria a seguir: o Capitão Pátria surtando e matando quem se opusesse a ele com aprovação de parte do público.
Porém, a série não conseguiu aprender com os próprios erros e conseguiu fazer uma temporada ainda pior que a anterior. Se a terceira sofreu com a irregularidade das tramas, a quarta temporada foi a própria falta de constância. Dessa vez, a quantidade de episódios realmente bons não chegou nem perto dos vários episódios insuportavelmente ruins.
Com a trama da morte de Billy Bruto (Karl Urban), o núcleo do anti-herói foi drasticamente alterado. Ele perdeu aquela relação de ‘mentor’ do Hughie (Jack Quaid), que era uma das coisas mais legais da produção, e teve sua abordagem alterada para retratar sua relação com o personagem de Jeffrey Dean Morgan, que foi a trama mais manjada e óbvia das quatro temporadas da série até aqui. Ele ser a ‘voz do V’ no cérebro de Billy já estava clara desde o início e foi assumida com um flashback mais expositivo que clipe de novela ruim.
Outra frustração foi a Luz Estrela (Erin Moriarty) e a abordagem dada a ela. Pelo que foi prometido na temporada anterior, a personagem seria ponto central da história, mas acabou sendo engolida pela própria falta de carisma e sufocada por outras incontáveis subtramas que deixaram sua representatividade para as pessoas daquele universo como algo banal, sem importância. A ideia seria o início de uma guerra civil, mas sequer rolou uma briga de rua. E é uma pena como a equipe criativa parece ter se empenhado para destruir qualquer sobra de carisma que pudesse haver na personagem, que chega ao fim da temporada comparada à Mary Jane Watson da Kirsten Dunst. Pouquíssimo para quem deveria assumir protagonismo.
Por outro lado, quem tem um desenvolvimento legal, mas poderia ter mais tempo é a Kimiko (Karen Fukuhara). A personagem é muito boa, esconde segredos do passado e até tem um pouco dele mencionado em alguns momentos, só que para nisso. A série não permita que ela avance mais. O mesmo com o Francês (Tomer Capone), que ganha um desenvolvimento no início da temporada, mas logo é ignorado para que ele volte a assumir o papel de coadjuvante. A situação dele é tão complicada que o personagem fica descartado por alguns episódios, como se não soubessem mais o que fazer com ele.
No fim das contas, há alguns momentos bons que remetem àquilo que a série já foi um dia. O grande problema dessa temporada é que já havia uma crítica de que eles já não tinham mais o que fazer para segurar a trama. Agora, ficou mais do que explícito para todos, inclusive para os próprios produtores, que realmente não dá mais para estender a produção por uma dezena de temporadas. O desgaste é tão grande que até o mais apaixonado fã já começa a se questionar até quando eles vão ficar dando voltas e voltas para terminar no mesmo lugar.
É uma série que está implorando para acabar, mas tem dado retorno demais para que seja encerrada por agora. Erik Kripke já disse que a quinta será a última temporada, só que poderia ter terminado agora na quarta e ninguém teria reclamado. Há momentos forçados até mesmo para esse universo, mostrando uma covardia fora do normal do time criativo, como no momento em que os protagonistas estão com o Profundo (Chace Crawford) desmaiado no sofá da casa deles e decidem não matá-lo por pura preguiça.
Claro que houve alguns poucos momentos que funcionaram, como o episódio que reuniu as paródias do Batman e do Homem-Aranha em uma trama bizarríssima de sacanagem e preconceito, que remeteu aos dias de glória da série. O arco de redenção do Trem-Bala (Jessie Usher) também é interessante e deixou aquele gosto de ‘quero ver mais disso’, mas no geral foi uma série de decepções. É como se a série tivesse se perdido em meio a suas paródias e acabasse virando aquilo que jurou tirar sarro.
A própria estrutura dos episódios foi cansativa, já que ‘enchia linguiça’ o capítulo inteiro e fazia uma promessa de melhora nos dez minutos finais. O problema é que chegava a semana seguinte e a tal promessa não era cumprida. A esperança agora é que o time criativo entenda que a quinta é a última temporada e deixe de enrolar, desenvolvendo a trama de verdade e fazendo valer cada segundo de tela, porque sinceramente tá difícil de aturar essa série. Os episódios da quarta temporada foram verdadeiros testes de paciência.