sábado, abril 27, 2024

Crítica | 4º episódio da 2ª temporada de ‘Loki’ é a melhor coisa já feita com o Deus da Trapaça

[ANTES DE COMEÇAR A MATÉRIA, FIQUE CIENTE QUE ELA ESTÁ RECHEADA DE SPOILERS] 

Se você ainda não assistiu o quarto episódio da segunda temporada de Loki, evite esta matéria, pois ela contém spoilers

Diante de toda a enrolação que foi a primeira temporada, ver como um time de roteiristas empenhado em aproveitar cada segundo de tela faz a diferença. A essa altura da série, na temporada anterior, já havia uns dois episódios que pouco avançavam ou desenvolviam a trama. Isso reflete muito na interpretação da temporada como um filme cortado em seis partes. Ficava a sensação de que Michael Waldron não sabia o que estava fazendo (e convenhamos que dados seus outros trabalhos na Marvel, ele provavelmente não sabia mesmo) com o seriado e nem como aproveitar essa oportunidade para desenvolver os personagens e a própria história.

Neste quarto capítulo, a segunda temporada de Loki chegou ao auge das séries do MCU até o momento. Não só por seu ato final avassalador, mas por realmente mostrar uma evolução orgânica e madura de seu protagonista, trazendo alguns dos melhores diálogos de todo o Universo Cinematográfico Marvel. Dando prosseguimento ao gancho do terceiro episódio, a história deste começa revelando o tal segredo que a Senhorita Minutos (Tara Strong) escondia sobre Aquele Que Permanece (Jonathan Majors) a Ravonna Renslayer (Gugu Mbatha-Raw). Como grande mistério até mesmo da temporada anterior, Ravonna foi uma leal comandante das tropas do déspota e teve sua memória apagada após ajudá-lo no que precisava. Obviamente, isso despertou a fúria de uma personagem que está perdida desde que sua realidade foi destruída novamente. É uma das vilãs que tem motivo para isso. Afinal, ela só viveu mentiras e abdicou de sua humanidade por uma mentira da qual ela sequer teve escolha de acreditar ou não. Toda vez que descobriu alguma coisa, foi “resetada” e voltou a sua função. E dessa vez, sendo influenciada pela inteligência artificial psicótica, ela tinha tudo para criar um caos maior. Quer dizer, ainda pode criar, né? Já sabemos que antes de morrer de verdade, as pessoas “podadas” vão para o Vazio. E é provável que voltemos a ver essa dimensão entre as dimensões em breve.

Outro destaque é a Senhorita Minutos. Além de uma referência simples, mas brilhante a Jurassic Park, no momento em que ela tentava tomar o controle da AVT, ela realmente dá seus últimos passos como uma verdadeira inteligência artificial psicopata. Todas as suas aparições no episódio envolvem algum tipo de manipulação sobre outros personagens, mostrando que o livre-arbítrio dado a ela por Aquele Que Permanece a transformou em uma criatura egoísta e focada apenas em criar possibilidades para que ela conseguisse o que queria para si e para seu amado, não se importando com as incontáveis vidas que poderiam ser (e foram) perdidas no caminho.

Ela manipula Ravonna, manipula – literalmente – os sistemas da AVT, colapsando o Tear Temporal, e seu último gesto “em vida” é olhar para um confuso Victor Timely (Jonathan Majors) e dizer que ele nunca será Aquele Que Permanece. Isso foi uma mistura de deboche com desafio, que certamente poderia ter moldado uma mente mais fraca a seguir o rumo desejado por ela. E cá entre nós, o fim dado a ele foi heroico, mas nada garante que ele tenha realmente morrido em sacrifício. Isso sem contar um dos momentos mais tensos de toda a produção até aqui, que foi ela sorrindo e se divertindo ao ver os Homens-Minutos e a Dox sendo triturados na sua frente.

Essa cena, inclusive, foi muito bem executada ao usar do poder da sugestão para criar um cenário devastador sem precisar mostrar o que estava acontecendo. Dessa forma, eles souberam construir o suspense por meio da sonorização de ossos quebrando e sangue escorrendo, auxiliado pelo olhar sinistro da “reloginha assanhada”, não interferindo na classificação indicativa da série e causando o mesmo efeito de choque no público.

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E a condução do episódio soube usar magistralmente o senso de urgência. Houve alguns momentos de leveza que foram imediatamente cortados pela Sylvie (Sophia Di Martino), que fez aquele papel de “mãe mandona”, trazendo os personagens de volta para a realidade em momentos de breve desconexão, como no momento em que Ouroboros (Ke Huy Quan) e Timely enfim se encontraram, criando um leve paradoxo e levando a um pedido mútuo de autógrafos, ou no ainda mais absurdo momento, em que tudo poderia acabar repentinamente e Mobius (Owen Wilson) sugere que eles esperem comendo uma torta. O esculacho dado pela Sylvie é tão intenso que certamente até outras variantes dele sentiram o esporro em suas realidades. E o melhor de tudo é que isso leva diretamente para o momento mais espetacular de toda a franquia Loki no Disney+.

Mas antes de falar sobre esse momento em especial, preciso abrir um parênteses aqui para comentar uma referência muito boa desse momento do encontro de OB com Victor. Quando eles estão conversando e o simpático nerdzinho explica que todo seu conhecimento registrado no Manual da AVT veio das ideias geniais de Victor Timely, o próprio cientista diz que suas ideias vieram dos ensinamentos de Ouroboros, criando um baita de um paradoxo. Em uma frase simples, OB diz que é uma situação muito complexa, como uma cobra mordendo seu próprio rabo. Isso pode ter passado despercebido, mas remete ao próprio Ouroboros da mitologia nórdica. Nela, a entidade Ouroboros é representada como uma serpente gigantesca, que circunda a Terra e… Morde o próprio rabo.

Dito isso, o esculacho que a Sylvie dá em Mobius deixa o coitado do agente estático. Já é a segunda vez na série que jogam na cara dele que ele jamais teve a curiosidade de ir atrás de sua vida de verdade em sua linha do tempo. E como já visto anteriormente, é uma questão muito particular para ele – e a série sabe disso. Na verdade, detalhes da produção indicam que ele irá para ela antes do fim da temporada, visto que o “card” do ator Owen Wilson nos créditos finais traz um papel escrito “Awake” (desperte ou acorde) e há um frame no trailer da série que traz o Loki em frente a uma loja de motos aquáticas chamada “Piranha”. E como todos sabemos, Mobius tem um fascínio fora do comum por Jet-skis.

De qualquer forma, Loki percebe o descontrole da Sylvie e vai atrás dela, que ironicamente acabou parando na lanchonete, onde eles comeriam torta. Em um momento espetacular, o Deus da Trapaça abre o jogo e diz que ela precisa acreditar mais no que eles estão fazendo, porque apesar dos horrores que a AVT já fez, eles estão lutando pela sobrevivência do máximo de ramificações possíveis e que se ela só seguir com essa história de matar quem aparecer pela frente, se seguir dominada pelo ódio, tudo que vai conseguir é uma inevitável destruição. Vale lembrar que esse Loki não é o mesmo que foi morto pelo Thanos (Josh Brolin) em Vingadores: Guerra Infinita (2018). Ele saiu diretamente de 2012, então não viveu a morte da mãe, as traições feitas ao irmão, a destruição de Asgard e nem mesmo as lições de companheirismo e perdão que teve com seu irmão Thor (Chris Hemsworth) em seus últimos dias. E ainda que soubesse seu destino, ele compreendeu e aprendeu sobre a vida e as perdas na marra. Ele compreendeu que não é mais um vilão, ao mesmo tempo que não consegue se enquadrar como herói, porque suas ações influenciam diretamente na morte de trilhões. Como o próprio diz para Sylvie, concluindo o diálogo mais impactante da franquia, “nós somos Deuses”. E como um Deus, ele está disposto a tudo para garantir o destino das vidas desconhecidas que estão nas mãos deles. Não para adorá-los, conforme alguns deuses do MCU usariam como justificativa, mas porque todos merecem uma chance. Ele é O anti-herói.

Em meio ao caos gerado pelo colapso da Senhorita Minutos, que é resetada pelo OB, liberado o uso de magia na AVT, Loki e Sylvie tentam chegar à sala do Tear Temporal, atingindo o futuro que foi mostrado no comecinho da série, quando Loki ainda ficava viajando no tempo sem controle. Na época, não havia ficado claro como ele teria sido podado no momento exato para retornar ao então presente, mas aqui é mostrado que foi o próprio Loki quem o fez, criando mais um paradoxo forte.

E então chega a hora do gancho que deixou todos atônitos. OB, Casey e Victor Timely trabalharam juntos para solucionar o colapso do Tear Temporal, achando uma solução que alargaria os anéis temporais da máquina, mas teria que ser instalado no aparelho emissor urgentemente, porque o Tear colapsaria em alguns momentos. O problema é que a radiação temporal do caminho era fortíssima, o que certamente arrancaria a pele e envelheceria quem passasse por lá. Loki assume a responsabilidade, mas Timely diz que ele deve ir, porque ninguém conhece a máquina mais do que ele. E caso haja algum problema, ele poderia resolver. Só que ele é destruído pela radiação no exato momento em que pisa na pista, dando início a uma incursão de realidades, cujos efeitos ainda são desconhecidos no MCU.

A condução dessa reta final do episódio é espetacular. Você sente o desespero tomando conta de cada personagem em tela. Para isso, a direção abusa dos planos americanos, o que destaca as expressões dos atores diante do provável apocalipse. Então, quando as realidades colapsam, o episódio termina com um close de Loki (Tom Hiddleston), com lágrimas nos olhos, encarando o fim certo, iniciando sua jornada rumo ao mistério.

Os novos episódios de Loki estreiam toda quinta no Disney+.

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Pedro Sobreirohttp://cinepop.com.br/
Jornalista apaixonado por entretenimento, com passagens por sites, revistas e emissoras como repórter, crítico e produtor.

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