Em meio a ondas constantes de cancelamentos, é impressionante como ‘Emily em Paris’ encontrou uma inesperada longevidade na Netflix. Afinal, em meio a polêmicas estereotípicas e uma fraca recepção pela crítica e por parte dos assinantes, a série estrelada por Lily Collins parece ter conquistado, pelo bem ou pelo mal, o coração do público – e, recentemente, a quinta temporada chegou ao catálogo da gigante do streaming, surpreendendo pela qualidade narrativa e pelos inesperados arcos dramáticos que envolvem seus personagens principais.
É inegável dizer que a série se tornou um conforto guilty pleasure, acompanhando as hilárias empreitadas da ambiciosa Emily Cooper (Collins), que se mudou para Paris a mando de sua antiga chefe e, tropeçando para se adaptar a uma cultura muito diferente da estadunidense, se encontrou na Cidade-Luz e se apaixonou por cada avenida e cada viela. Apaixonando-se, decepcionando-se e encontrando uma expressiva carreira como influencer e gerente de marcas, Emily começou a trilha o próprio caminho até chegar a Roma em um impactante season finale que preparou terreno para uma nova aventura da nossa querida heroína.

Agora na capital italiana, Emily é responsável pela nova filial da Agência Grateau, que pertence à rígida e determinada Sylvie (Philippine Leroy-Beaulieu). Afastando-se dos problemas e de um recente relacionamento falido com Gabriel (Lucas Bravo), ela encontra uma nova trajetória com Marcello (Eugenio Franschini), que possui um império de luxo em potencial com a marca da família e que se alia a Emily em uma investida romântica cheia de altos e baixos e que ajuda os dois a crescer em âmbitos que jamais imaginariam – e em um cenário idílico e imaculado que começa a conquistar o coração da protagonista dia após dia. Isto é, até Sylvie, ao lado de Julien (Samuel Arnold) e Luc (Bruno Gouery), resolver ir até Roma para resolver certos problemas que começam a se amontoar em uma bola de neve incontrolável.
Ainda que cometa os mesmos erros amadores das temporadas passadas, a quinta iteração se inicia e se conclui com um grato e surpreso amadurecimento que coloca o showrunner e criador Darren Star tomando riscos pela primeira vez desde sua estreia em 2020 – apoiando-se na conhecida comédia pastelão que acompanha Emily, Sylvie e os outros, mas abrindo espaço para um bem-vindo coming-of-age que os pincela com cores vibrantes e bem-vindas. Talvez a trama de maior desenvolvimento seja a da própria Emily, que cresce com os erros cometidos em um passado não muito distante e experimenta um novo tipo de amor que abre seus olhos para um futuro radiante e para escolhas que determinarão o tipo de pessoa que ela realmente é.

Uma outra personagem que ganha protagonismo nítido é Sylvie, que se tornou uma fan favorite desde que apareceu pela primeira vez nas telinhas. Encarnada pela sempre irretocável Leroy-Beaulieu, é incrível observar que mesmo a resoluta dona da Agência Grateau é passível de cometer erros que lhe custam muito, mas que lhe arremessam em um crescendo de amadurecimento que a permite abrir as portas que desejar – e fechar quantas quiser também, como vemos em seu cíclico e complicado relacionamento com Laurent (Arnaud Binard). Ashley Park também tem seu momento de brilhar como a atraente e artística Mindy, colocando sua amizade com Emily em xeque quando sentimentos inesperados afloram entre ela e Alfie (Lucien Laviscount).
Como já mencionado, os novos episódios não são livres de escorregarem em deslizes conhecidos e que fazem parte da estrutura simbiótica da série – ora, me arrisco inclusive a dizer que esses equívocos são parte de um efêmero charme emanado pela produção. Seja com piadas constrangedoras ou com reviravoltas previsíveis, os excessos pecam ao tornar certos capítulos um pouco arrastados; porém, é inegável dizer que, pela primeira vez, o time de roteiristas e diretores encontra pequenas brechas para inovarem dentro da sólida e imutável arquitetura da atração, nos fazendo devorá-los de uma só vez.

A quinta temporada de ‘Emily em Paris’ representa uma melhora significativa na qualidade artística da série da Netflix, encontrando originalidade dentro de um cosmos que, até pouco tempo atrás, não tinha como se tornar mais clichê. Encontrando aspectos diferentes para serem explorados, Star mostra o motivo do título ter caído nas graças dos assinantes e nos prepara para um novo ciclo que, com sorte, será ainda melhor.


