domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | 6ª temporada de ‘Black Mirror’ é uma das mais FRACAS e decepcionantes da antologia!

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Black Mirror estreou há mais de uma década e, em pouco tempo, tornou-se uma das maiores antologias da contemporaneidade – além de se consagrar como uma das responsáveis por revitalizar o formato na televisão e no streaming. E, doze anos depois, é notável como a pungente qualidade da produção decaiu consideravelmente, mergulhando em análises superficiais da realidade e esquecendo-se dos elementos pelos quais nos apaixonamos, como o niilismo social, o pessimismo tecnológico e até mesmo a submissão inconsciente. É só nos recordamos da frustrante temporada anterior e do episódio especial intitulado “Bandersnatch”, que falharam em entregar o que prometiam e já revelavam um cansaço tristonho para a produção.

Agora, estamos de volta com um promissor sexto ano que, além de contar com um elenco de peso, tinha tudo para se transformar em uma das melhores entradas de 2023 e do show em si. Infelizmente, o resultado não foi como o esperado, visto que o criador Charlie Booker, que também fica responsável pelos roteiros dos novos episódios, se engolfou em uma melancolia excessiva para construir reflexões óbvias demais – com algumas, inclusive, abandonando por completo a identidade que vimos nas iterações predecessoras. Com exceção de algumas escolhas certeiras, os cinco capítulos originais são óbvios demais para fornecer algo novo e apostam em malabarismos técnicos para mascarar cansativas fórmulas.



O ciclo começa de modo muito sólido: “A Joan É Péssima” constrói uma tragédia metalinguística multi-nivelada que, no papel, poderia dar muito errado – mas que compreende os próprios limites estruturais para delinear um enredo bem explicado e com uma reviravolta encantadora. Aqui, Annie Murphy interpreta Joan, gerente de uma grande empresa multinacional que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre que a plataforma Streamberry (uma piada envolvendo a própria Netflix) produziu uma série baseada em seu dia a dia – recontando, inclusive, segredos que compartilha com sua terapeuta e que guarda do conhecimento do noivo, Krish (Avi Nash). Na dramatização, Joan é encarnada por Salma Hayek Pinault (que também interpreta ela mesma no capítulo) e, tentando burlar o sistema em si, faz de tudo para retornar à normalidade.

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O episódio soa como um clássico tirado das temporadas iniciais de Black Mirror, apostando fichas na espetacularização da vida como entretenimento e nas críticas filosóficas a reality shows – ainda que Joan se veja em uma série de ficcionalizada. E, com sua vida exposta a todos que tenham acesso ao Streamberry, ela se transforma em uma pessoa pública que enfrenta os perigos das inteligências artificiais, do cerceamento do livre-arbítrio e até mesmo dos acordos insanos que, de fato, ninguém lê. E, como se não bastasse, Murphy e Hayek desfrutam de uma química apaixonante e de poderosas atuações que são fortes o suficiente para mascarar os pontuais deslizes.

Todavia, esse comprometimento com a simplicidade não permanece nos capítulos seguintes: “Loch Henry” volta-se para os surtos dos programas true crime que sempre estão no topo dos mais assistidos das plataformas virtuais, novamente mergulhando de cabeça nas incursões metadiegéticas e desperdiçando um potencial magnífico – ainda que o plot twist seja, em partes, gratificante para o espectador. “Beyond the Sea” migra para a vastidão do espaço, em que dois astronautas têm a oportunidade de pular da realidade inóspita do cosmos para a família que deixaram na Terra, encarnados em réplicas robóticas perfeitas. Aqui, Aaron Paul, Josh Hartnett e Kate Mara dão de tudo de si em uma chocante epopeia sci-fi que discorre sobre confiança, solidão, insanidade e vingança – e Paul, especificamente, reitera seu status como um dos grandes atores da atualidade, tendo grandes chances de ser indicado ao Emmy. O problema é que, desde os primeiros minutos, qualquer um que deseje unir as engrenagens pode prever o final.

Vale dizer que a direção de todos os capítulos é digna de atenção – e é notável o movimento promovido pelo time de realizadores em criar uma identidade única para cada um deles à medida que contribuem para a expansão de um dos universos mais icônicos da Netflix. Porém, conforme a equipe criativa investe em peso nesse quesito, o roteiro é deixado de lado: “Mazey Day”, que fala sobre privacidade, fama e a ação coercitiva dos paparazzi, é, sem sombra de dúvida, uma das piores iterações da memória recente – em que terror e fantasia são enfiados em um cansativo arco dramático que não diz nada com nada; “Demônio 79” é uma adição bem-vinda, mas, ao abrir portas para o sobrenatural, enjeita qualquer aspecto que ressoe com a série (mesmo com a ótima performance de Anjana Vasan).

Black Mirror retorna anos depois de sua última inflexão com uma leva de episódios medíocre, por assim dizer. Apesar dos pontos altos existirem, como já explicado nos parágrafos acima, o resultado é muito aquém do esperado e nos leva a pensar se já é hora de reformular a série – ou até mesmo encerrá-la.

https://youtu.be/nYUS1cOiaJQ

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Thiago Nollahttps://www.editoraviseu.com.br/a-pedra-negra-prod.html
Em contato com as artes em geral desde muito cedo, Thiago Nolla é jornalista, escritor e drag queen nas horas vagas. Trabalha com cultura pop desde 2015 e é uma enciclopédia ambulante sobre divas pop (principalmente sobre suas musas, Lady Gaga e Beyoncé). Ele também é apaixonado por vinho, literatura e jogar conversa fora.

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Agora, estamos de volta com um promissor sexto ano que, além de contar com um elenco de peso, tinha tudo para se transformar em uma das melhores entradas de 2023 e do show em si. Infelizmente, o resultado não foi como o esperado, visto que o criador Charlie Booker, que também fica responsável pelos roteiros dos novos episódios, se engolfou em uma melancolia excessiva para construir reflexões óbvias demais – com algumas, inclusive, abandonando por completo a identidade que vimos nas iterações predecessoras. Com exceção de algumas escolhas certeiras, os cinco capítulos originais são óbvios demais para fornecer algo novo e apostam em malabarismos técnicos para mascarar cansativas fórmulas.

O ciclo começa de modo muito sólido: “A Joan É Péssima” constrói uma tragédia metalinguística multi-nivelada que, no papel, poderia dar muito errado – mas que compreende os próprios limites estruturais para delinear um enredo bem explicado e com uma reviravolta encantadora. Aqui, Annie Murphy interpreta Joan, gerente de uma grande empresa multinacional que vê sua vida virar de cabeça para baixo quando descobre que a plataforma Streamberry (uma piada envolvendo a própria Netflix) produziu uma série baseada em seu dia a dia – recontando, inclusive, segredos que compartilha com sua terapeuta e que guarda do conhecimento do noivo, Krish (Avi Nash). Na dramatização, Joan é encarnada por Salma Hayek Pinault (que também interpreta ela mesma no capítulo) e, tentando burlar o sistema em si, faz de tudo para retornar à normalidade.

O episódio soa como um clássico tirado das temporadas iniciais de Black Mirror, apostando fichas na espetacularização da vida como entretenimento e nas críticas filosóficas a reality shows – ainda que Joan se veja em uma série de ficcionalizada. E, com sua vida exposta a todos que tenham acesso ao Streamberry, ela se transforma em uma pessoa pública que enfrenta os perigos das inteligências artificiais, do cerceamento do livre-arbítrio e até mesmo dos acordos insanos que, de fato, ninguém lê. E, como se não bastasse, Murphy e Hayek desfrutam de uma química apaixonante e de poderosas atuações que são fortes o suficiente para mascarar os pontuais deslizes.

Todavia, esse comprometimento com a simplicidade não permanece nos capítulos seguintes: “Loch Henry” volta-se para os surtos dos programas true crime que sempre estão no topo dos mais assistidos das plataformas virtuais, novamente mergulhando de cabeça nas incursões metadiegéticas e desperdiçando um potencial magnífico – ainda que o plot twist seja, em partes, gratificante para o espectador. “Beyond the Sea” migra para a vastidão do espaço, em que dois astronautas têm a oportunidade de pular da realidade inóspita do cosmos para a família que deixaram na Terra, encarnados em réplicas robóticas perfeitas. Aqui, Aaron Paul, Josh Hartnett e Kate Mara dão de tudo de si em uma chocante epopeia sci-fi que discorre sobre confiança, solidão, insanidade e vingança – e Paul, especificamente, reitera seu status como um dos grandes atores da atualidade, tendo grandes chances de ser indicado ao Emmy. O problema é que, desde os primeiros minutos, qualquer um que deseje unir as engrenagens pode prever o final.

Vale dizer que a direção de todos os capítulos é digna de atenção – e é notável o movimento promovido pelo time de realizadores em criar uma identidade única para cada um deles à medida que contribuem para a expansão de um dos universos mais icônicos da Netflix. Porém, conforme a equipe criativa investe em peso nesse quesito, o roteiro é deixado de lado: “Mazey Day”, que fala sobre privacidade, fama e a ação coercitiva dos paparazzi, é, sem sombra de dúvida, uma das piores iterações da memória recente – em que terror e fantasia são enfiados em um cansativo arco dramático que não diz nada com nada; “Demônio 79” é uma adição bem-vinda, mas, ao abrir portas para o sobrenatural, enjeita qualquer aspecto que ressoe com a série (mesmo com a ótima performance de Anjana Vasan).

Black Mirror retorna anos depois de sua última inflexão com uma leva de episódios medíocre, por assim dizer. Apesar dos pontos altos existirem, como já explicado nos parágrafos acima, o resultado é muito aquém do esperado e nos leva a pensar se já é hora de reformular a série – ou até mesmo encerrá-la.

https://youtu.be/nYUS1cOiaJQ

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