Depois de seis episódios de pura antecipação narrativa, ‘O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder’ finalmente nos apresentou à tão aguardada batalha que, de forma indubitável, recairia sobre Eregion. E, após inúmeros capítulos apostando nas incursões dramáticas de cada um dos protagonistas e coadjuvantes, é certo dizer que a série se voltou com glória considerável para um capítulo recheado de ação e que, inclusive, presta homenagem à trilogia original comandada por Peter Jackson – seja nas tramas que prenuncia, seja na condução dos arcos principais. Apesar de alguns deslizes rítmicos aqui e ali, é certo dizer que “Doomed to Die”, como ficou intitulada essa mais nova iteração, é a melhor entrada da série até agora.
É certo dizer que os episódios anteriores apresentaram uma quantidade considerável de enredos a serem acompanhados, mas, como analisado nas outras críticas, sem mergulhar de cabeça em um exagero criativo e apressado. Agora, chegou a hora das tramas convergirem para um mesmo ponto – e, guiadas pelas habilidosas mãos de Charlotte Brändström na direção e do trio formado por J.D. Payne, Patrick McKay e Justin Doble no roteiro, percebemos que a série atinge seu ápice após enfrentar uma represália inexplicável por parte dos fãs mais inveterados das histórias de J.R.R. Tolkien. Como a cereja do bolo, temos o trabalho esplendoroso de um elenco estelar que se entrega ainda mais de corpo e alma aos personagens que interpreta.
Nos últimos minutos do sexto capítulo, Adar (Sam Hazeldine) e seu exército de Orcs marchava rumo a Eregion, prestes a destruir a cidade para, assim colocar um fim ao reinado de Sauron (Charlie Vickers) – não importando quem estivesse em seu caminho. Sem quaisquer avisos, os Elfos se preparam com rapidez para enfrentar, da maneira que conseguirem, o poderoso exército inimigo (que inclusive drenou o rio cercando o reino para facilitar o combate e terem maior vantagem). Porém, Sauron não está preocupado em enfrentar Adar, voltando sua atenção para o que sempre desejou: a forja dos Anéis. Aproveitando a fraca mentalidade de Celebrimbor (Charles Edwards), ele o tormenta em terminar o que começou, criando ilusões sobre Eregion que o impeçam de ver a verdade – até que o ferreiro perceba na armadilha que caiu.
Conforme as forças de Adar crescem em número e em força para atacar a fortaleza do reino, Elrond (Robert Aramayo) aparece no campo de batalha com os Elfos de Lindon para ajudar seus companheiros, crente de que Durin (Owain Arthur) aparecerá com os Anões para, enfim, terem uma chance de vencer. O que ele não esperava era que, em Khazad-dûm, as coisas estivessem prestes a ruir de uma vez por todas: o rei, embebedado pelo poder de um dos Anéis que lhe foi dado, tornou-se oblívio a qualquer tipo de ajuda a outros além dele próprio, atacando seus súditos, incluindo os mineradores, para coletar mais poder – colocando em risco a integridade dos habitantes por estar prestes a acordar uma maléfica e mortal criatura que poderia varrê-los da face da Terra-média em um piscar de olhos.
Em contraposição, Galadriel (Morfydd Clark) escapa de sua prisão sob Adar, utilizando um túnel secreto para adentrar Eregion e ajudar um alienado Celebrimbor a recuperar a confiança dos guerreiros locais – e tendo a missão de fugir com os nove Anéis forjados para os homens enquanto o ferreiro, mundo de uma vendeta pessoal contra Sauron, resolve enfrentá-lo em uma tentativa final de impedir que ele alcance seus objetivos. E, à medida que Galadriel foge de Eregion, Elrond percebe que as forças de Durin não aparecerão para ajudá-los a ganhar a batalha – rendendo-se, inconscientemente, ao levante agourento das forças das Trevas.
Ainda que a trama envolvendo o Estranho (Daniel Weyman), Nori (Markella Kavenagh) e Poppy (Megan Richards) tenha sido deixada em segundo plano, assim como o enredo sobre Númenor, o público percebe que a escolha foi certeira para dar tempo de sobra para explorar a guerra de Eregion. Brändström singra com meticuloso cuidado por cada uma das sequências arquitetadas, aproveitando a impecável fotografia e o clímax narrativo para nos envolver do começo ao fim em um dos episódios mais épicos do ano. Ela, inclusive, permite que Arondir (Ismael Cruz Córdova) e Gil-galad (Ben Walker) tenham seu momento de glória, lutando lado a lado para um bem comum e dando-lhes o protagonismo que merecem para uma conclusão quase perfeita.
Contando com efeitos especiais de ponta e com homenagens a diversas produções de fantasia que se tornaram ícones da sétima arte e até mesmo da televisão, o penúltimo episódio da 2ª temporada de ‘Os Anéis de Poder’ é um deleite para os olhos e desvia de potenciais problemas de forma aplaudível – nos preparando para um grand finale digno de um sólido ciclo.