Em 2011, um jovenzinho de nome Fahim começou a se destacar em Bangladesh por saber jogar xadrez muito bem. Porém, forçados a abandonar o país, Fahim e seu pai deixam a família para trás e entram ilegalmente na França, em busca de um melhor treinamento de xadrez para o garoto. Baseado numa história real, ‘A Chance de Fahim’ nos faz refletir sobre pautas atualíssimas na Europa e no mundo.
O núcleo de Bangladesh do longa retrata o contraste entre a leveza dos cidadãos em oposição à extrema pobreza e às condições insalubres. As tomadas de cima retratam com suavidade o caos que é as ruelas que compõem os mercados locais. O filme de Pierre-François Martin-Laval não finge que só há beleza no mundo. Inclusive, já no arco final do longa, em Paris, o diretor mais uma vez pega a oportunidade para mostrar esse contraste inclusive na capital francesa, evidenciando essa outra França para além do que os turistas veem.
Dividido em muitas camadas, ‘A Chance de Fahim’ joga luz no choque cultural entre dois povos extremamente opostos em muitos aspectos, e destaca o abismo que é se inserir em uma sociedade ocidental, que só aceita a própria história como referencial. Mostrar esse embate no universo infantil, através de Fahim, é um dos méritos do roteiro, que é belamente falado em francês e em bengali. Ah, e como o menino tem que aprender a língua francesa no longa, o filme também é uma ótima opção para o espectador que está estudando a língua.
O renomado ator Gerard Depardieu interpreta o professor Sylvain Charpentier, um cara super mal-humorado, com o menor tato para crianças, e, portanto, acaba funcionando como alívio cômico nesse drama imigratório, e as cenas dele com o jovem Assad Ahmed, que faz o Fahim, e o pai dele, são profundamente emocionantes.
‘A Chance de Fahim’ é baseado numa história real, mas ecoa a história de milhares de cidadãos do mundo que diariamente buscam asilo nos países europeus por conta das mazelas em suas cidades natais – e a maioria deles não possui o talento extraordinário de ser um exímio jogador de xadrez. Com humor e drama na medida certa, ‘A Chance de Fahim’ ao mesmo tempo que emociona o espectador, faz a gente torcer pela vitória do menino nas complicadíssimas partidas de xadrez. E mostra que enquanto para o europeu ocidental um empate basta para a vitória, para o resto do mundo só a vitória importa, pois somente com ela é que se ganha o respeito.