domingo , 22 dezembro , 2024

Crítica | A Cor que Caiu do Espaço – Lovecraft e Nicolas Cage em purpúreo e horripilante sci-fi

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Lançado no TIFF 2019 e logo distribuído via streaming, A Cor que Caiu do Espaço (Color Out of Space) é um deslumbre visual com toques de mistério. As cores lilás, rosa e roxa ofuscam a nossa visão e alimentam o desencadeamento de dubiedades num ambiente campestre rodeado de alpacas. Em contrapartida, a mise-en-scène é abrutalhada nos momentos mais incisivos da narrativa, o que transforma horror em galhofa. 

Ao acompanhar as últimas incursões cinematográficas de Nicolas Cage (Mandy: Sede de Vingança), já esperado um momento em que o ator nos fará rir não importa se o gênero é ação, suspense ou terror. Nesta adaptação do conto de HP Lovecraft, Richard Stanley, responsável pelo sci-fi Hardware: O Destruidor do Futuro (1990), apresenta a adequação de Nathan Gardner (Cage), sua esposa Theresa (Joely Richardson) e seus três filhos à vida rural após abandonar a cidade para criar alpacas. 



Os motivos para mudança vão sendo apresentados aos poucos, quando de repente um meteoro cai no quintal da residência numa escandalosa luminosidade roxa, a qual suga a atenção de toda a família. A partir desse acontecimento, o comportamento dos filhos adolescentes (Brendan Meyer e Madeleine Arthur) começa a ser afetado e o caçula (Julian Hilliard) entra em estado de choque. 

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Sem explicações, o corpo celeste desaparece, mas deixa desconhecidas substâncias espalhadas pelas plantas, animais e os humanos presentes naquela fazenda. Em pouco tempo, a internet, o telefone e todos os aparelhos eletrônicos começam a falhar e as luzes roxas apresentam-se como um enigma sobrenatural. Apesar do ocorrido, a família continua na casa e começa a lidar com esquizofrenias, perda dos sentidos e lapsos temporais.

Ao redor desta atmosfera de mistério, estão a polícia, a prefeitura e o pesquisador Ward (Elliot Knight). O último avisa aos moradores da região para não consumir a água vinda das nascentes ao redor, ou seja, também do único poço da fazenda dos Gardner. No pano de fundo do suspense, existe uma questão governamental sobre a construção de usinas na região, o que entrelaça a questão sobrenatural ao descaso do governo com a salubridade local.

Em um mistura de Poltergeist (1982) e A Coisa (1982), Richard Stanley reserva os 30 minutos finais de sua obra para nos levar em uma jornada de perturbação visual e mental. Os efeitos especiais merecem destaque pela competência em criar criaturas nojentas e situações sórdidas. Antes da força alienígena tomar conta do enredo, Nicolas Cage nos prestigia com discursos sobre ordenhar alpacas e outras delirantes declarações ao seu modo bonachão. 

É perceptível o esforço cinematográfico para criar uma atmosfera de desespero por conta de uma inexplicável aberração vinda de luzes roxas. Sensação apresentada igualmente em obras como Aniquilação (2018) e Guerra dos Mundos (2005), nas quais os personagens temem o desconhecido e não sabem como lidar para defender-se dessa força estranha e avassaladora. 

Ao transverter um pai resoluto a renunciar tudo para cuidar da sua família em um lunático causador da ruína de todos ao seu redor, Richard Stanley apresenta o horror da manipulação desconhecida sobre os homens. A Luz que Caiu do Espaço provoca arrepios, no entanto, as sequências descompassadas nos distancia do temor pelos personagens e, como sequela, esfria nossa relação com a obra.

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Letícia Alassë
Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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Ao acompanhar as últimas incursões cinematográficas de Nicolas Cage (Mandy: Sede de Vingança), já esperado um momento em que o ator nos fará rir não importa se o gênero é ação, suspense ou terror. Nesta adaptação do conto de HP Lovecraft, Richard Stanley, responsável pelo sci-fi Hardware: O Destruidor do Futuro (1990), apresenta a adequação de Nathan Gardner (Cage), sua esposa Theresa (Joely Richardson) e seus três filhos à vida rural após abandonar a cidade para criar alpacas. 

Os motivos para mudança vão sendo apresentados aos poucos, quando de repente um meteoro cai no quintal da residência numa escandalosa luminosidade roxa, a qual suga a atenção de toda a família. A partir desse acontecimento, o comportamento dos filhos adolescentes (Brendan Meyer e Madeleine Arthur) começa a ser afetado e o caçula (Julian Hilliard) entra em estado de choque. 

Sem explicações, o corpo celeste desaparece, mas deixa desconhecidas substâncias espalhadas pelas plantas, animais e os humanos presentes naquela fazenda. Em pouco tempo, a internet, o telefone e todos os aparelhos eletrônicos começam a falhar e as luzes roxas apresentam-se como um enigma sobrenatural. Apesar do ocorrido, a família continua na casa e começa a lidar com esquizofrenias, perda dos sentidos e lapsos temporais.

Ao redor desta atmosfera de mistério, estão a polícia, a prefeitura e o pesquisador Ward (Elliot Knight). O último avisa aos moradores da região para não consumir a água vinda das nascentes ao redor, ou seja, também do único poço da fazenda dos Gardner. No pano de fundo do suspense, existe uma questão governamental sobre a construção de usinas na região, o que entrelaça a questão sobrenatural ao descaso do governo com a salubridade local.

Em um mistura de Poltergeist (1982) e A Coisa (1982), Richard Stanley reserva os 30 minutos finais de sua obra para nos levar em uma jornada de perturbação visual e mental. Os efeitos especiais merecem destaque pela competência em criar criaturas nojentas e situações sórdidas. Antes da força alienígena tomar conta do enredo, Nicolas Cage nos prestigia com discursos sobre ordenhar alpacas e outras delirantes declarações ao seu modo bonachão. 

É perceptível o esforço cinematográfico para criar uma atmosfera de desespero por conta de uma inexplicável aberração vinda de luzes roxas. Sensação apresentada igualmente em obras como Aniquilação (2018) e Guerra dos Mundos (2005), nas quais os personagens temem o desconhecido e não sabem como lidar para defender-se dessa força estranha e avassaladora. 

Ao transverter um pai resoluto a renunciar tudo para cuidar da sua família em um lunático causador da ruína de todos ao seu redor, Richard Stanley apresenta o horror da manipulação desconhecida sobre os homens. A Luz que Caiu do Espaço provoca arrepios, no entanto, as sequências descompassadas nos distancia do temor pelos personagens e, como sequela, esfria nossa relação com a obra.

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Crítica de Cinema desde 2012, jornalista e pesquisadora sobre comunicação, cultura e psicanálise. Mestre em Cultura e Comunicação pela Universidade Paris VIII, na França e membro da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine). Nascida no Rio de Janeiro e apaixonada por explorar o mundo tanto geograficamente quanto diante da tela.

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