terça-feira , 3 dezembro , 2024

Crítica | Um Homem Diferente: Sebastian Stan vive crise existencial em poderoso thriller da A24

Filme assistido durante o Festival de Sundance 2024

Seus olhos percorrem os ambientes como se vivesse em um constante estado de alerta, procurando algo em alguém, observando aqueles que atenta e indiscretamente o observam. Seu reflexo no espelho não nega suas características faciais, tão pouco as ameniza. Elas fazem parte dele, assim como pertencem à sua história. E por isso o desconforto paira no ar a todo momento. Edward tenta se desvencilhar da rara doença que lhe garantiu uma deformação facial, mas como ator ainda na peleja, é difícil ser aceito numa área onde a beleza sempre entra adiante do talento. E tudo que ele quer é ser diferente. Mais jovem, com traços mais suaves e, porque não…mais belo. E quando um procedimento experimental lhe oferece a oportunidade de “curar” sua aparência, ele verá ali a chance de sair das sombras de sua dita “feiura”, em direção a uma vida de oportunidades jamais apresentadas.



Ao adentrar em temas contraditórios para a própria indústria cinematográfica, como o abuso de pautas sociais a toque de caixa para uma mera sinalização de virtude, Aaron Schimberg convida a audiência para uma experiência metamórfica e metalinguística com Um Homem Diferente, através de personagens que orbitam em torno dessa tão “desconfortável” desfiguração facial. Na trama, à medida em que Edward aceita sua nova e bela face como Guy – a ponto de forjar sua morte -, mais ele internalizará seus traumas com suas antigas feições. Diante de uma nova realidade, ele será confrontado por seus próprios complexos, pelas pressões sociais e pela difícil arte da plenitude. E aqui, nem o mais agradável dos rostos lhe tira o peso da sua eterna insatisfação pessoal.

Em uma poderosa jornada catártica sobre identidade, amor próprio e apropriação de pautas na indústria do entretenimento, o cineasta entra em um profundo loop, onde se debruça sobre representatividade, autorização, estereótipos e tropos hollywoodianos. Abordando estética, preconceitos e capacitismo por uma ótica surrealista, ele faz de seu terceiro filme uma triunfante epopeia sobre caráter, personalidade e supressão de sentimentos, trazendo Adam Pearson em uma rodada dupla de papéis que se digladiam entre si, reiterando ainda mais a versatilidade do poderoso ator.

No mais novo suspense dramático da A24, somos constantemente colocados em uma intensa posição de desconforto, vendo Pearson passear pela tela como esse recluso homem que esconde seu rosto. E sua transformação facial, que acontece com o descolar de toda sua face ao melhor estilo de A Mosca – de David Cronenberg, é uma catarse por si só perante o público, que é diretamente confrontado a respeito da efemeridade e futilidade da beleza física. E ao longo de quase duas horas de filme, tais enfrentamentos continuam a se transformam, desafiando nossa compreensão sobre amor próprio, auto aceitação e insatisfação.

À medida em que Edward, que agora atende como Guy, vê que os seus sonhos mais profundos se tornaram realidade na vida de outro homem com a mesma doença, ele passa a viver em um constante desconforto com sua própria beleza. Jamais reconhecendo genuinamente que tomara a decisão errada, ele caminha com o fardo do arrependimento. Sempre tenso e inconformado, ele se agarra às migalhas da vida que poderia ter tido – se tivesse se aceitado. Essa jornada catártica e tão desconfortável ainda nos presenteia com a belíssima performance de Sebastian Stan, que interpreta a versão “bela” do protagonista.

Reproduzindo os trejeitos tão habilmente criados por Pearson, Stan se apresenta em tela como o inadvertido reflexo de um homem que, por desejar tanto ser outra pessoa, esqueceu-se da riqueza e singularidade de toda sua história. E livre de falsas sinalizações de virtude, “meas culpas” ou justificações para se esquivar de qualquer cancelamento, Schimberg se atém à incrível e impactante história da eterna insensatez humana diante de tudo. Sempre insatisfeitos e inquietos, enxergamos as circunstâncias pelo filtro de perfeição que vemos no outro. Em Um Homem Diferente, tais películas se desmembram diante dos nossos olhos, através de um breve e caricato toque cômico que reflete sobre as sequelas de uma existência regada por negação e falta de aceitação.

Nos incomodando a todo momento com personagens excelentes e profundamente envolventes, o mais novo longa da A24 é um convite metalinguístico para refletirmos sobre a condição humana na era das comparações e das doenças psicoemocionais. Um brilhante experimento surrealista que nos hipnotiza para dentro da peculiar trajetória de seu protagonista, Um Homem Diferente é um sombrio conto visceral sobre identidade, que não tem medo de trazer à tela conversas desconfortáveis sobre a nossa pequenez em fazer do belo a força motriz que rege a sociedade.

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Ao adentrar em temas contraditórios para a própria indústria cinematográfica, como o abuso de pautas sociais a toque de caixa para uma mera sinalização de virtude, Aaron Schimberg convida a audiência para uma experiência metamórfica e metalinguística com Um Homem Diferente, através de personagens que orbitam em torno dessa tão “desconfortável” desfiguração facial. Na trama, à medida em que Edward aceita sua nova e bela face como Guy – a ponto de forjar sua morte -, mais ele internalizará seus traumas com suas antigas feições. Diante de uma nova realidade, ele será confrontado por seus próprios complexos, pelas pressões sociais e pela difícil arte da plenitude. E aqui, nem o mais agradável dos rostos lhe tira o peso da sua eterna insatisfação pessoal.

Em uma poderosa jornada catártica sobre identidade, amor próprio e apropriação de pautas na indústria do entretenimento, o cineasta entra em um profundo loop, onde se debruça sobre representatividade, autorização, estereótipos e tropos hollywoodianos. Abordando estética, preconceitos e capacitismo por uma ótica surrealista, ele faz de seu terceiro filme uma triunfante epopeia sobre caráter, personalidade e supressão de sentimentos, trazendo Adam Pearson em uma rodada dupla de papéis que se digladiam entre si, reiterando ainda mais a versatilidade do poderoso ator.

No mais novo suspense dramático da A24, somos constantemente colocados em uma intensa posição de desconforto, vendo Pearson passear pela tela como esse recluso homem que esconde seu rosto. E sua transformação facial, que acontece com o descolar de toda sua face ao melhor estilo de A Mosca – de David Cronenberg, é uma catarse por si só perante o público, que é diretamente confrontado a respeito da efemeridade e futilidade da beleza física. E ao longo de quase duas horas de filme, tais enfrentamentos continuam a se transformam, desafiando nossa compreensão sobre amor próprio, auto aceitação e insatisfação.

À medida em que Edward, que agora atende como Guy, vê que os seus sonhos mais profundos se tornaram realidade na vida de outro homem com a mesma doença, ele passa a viver em um constante desconforto com sua própria beleza. Jamais reconhecendo genuinamente que tomara a decisão errada, ele caminha com o fardo do arrependimento. Sempre tenso e inconformado, ele se agarra às migalhas da vida que poderia ter tido – se tivesse se aceitado. Essa jornada catártica e tão desconfortável ainda nos presenteia com a belíssima performance de Sebastian Stan, que interpreta a versão “bela” do protagonista.

Reproduzindo os trejeitos tão habilmente criados por Pearson, Stan se apresenta em tela como o inadvertido reflexo de um homem que, por desejar tanto ser outra pessoa, esqueceu-se da riqueza e singularidade de toda sua história. E livre de falsas sinalizações de virtude, “meas culpas” ou justificações para se esquivar de qualquer cancelamento, Schimberg se atém à incrível e impactante história da eterna insensatez humana diante de tudo. Sempre insatisfeitos e inquietos, enxergamos as circunstâncias pelo filtro de perfeição que vemos no outro. Em Um Homem Diferente, tais películas se desmembram diante dos nossos olhos, através de um breve e caricato toque cômico que reflete sobre as sequelas de uma existência regada por negação e falta de aceitação.

Nos incomodando a todo momento com personagens excelentes e profundamente envolventes, o mais novo longa da A24 é um convite metalinguístico para refletirmos sobre a condição humana na era das comparações e das doenças psicoemocionais. Um brilhante experimento surrealista que nos hipnotiza para dentro da peculiar trajetória de seu protagonista, Um Homem Diferente é um sombrio conto visceral sobre identidade, que não tem medo de trazer à tela conversas desconfortáveis sobre a nossa pequenez em fazer do belo a força motriz que rege a sociedade.

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