Polêmico para alguns, tolo para outros
Após o anúncio do que se tratava a nova produção da dupla Evan Goldberg e Seth Rogen, onde dois jornalistas armaram um plano para assassinar o presidente/ditador da Coreia do Norte, muitos, inclusive o próprio Kim Jong-un, não estava de acordo com o lançamento do filme. E, mesmo diante de toda crítica, a Sony Pictures resolveu comprar a briga e disse que, sim, distribuiria o longa mundialmente. No entanto, semanas depois, um grupo terrorista de hackers norte-coreanos ameaçou e chegou a invadir dados preciosos da empresa, causando assim o cancelamento imediato da estreia.
Em contrapartida, profissionais de marketing e produtores indagaram se esse tipo de censura era algo realmente necessário, já que isto poderia causar um precedente ainda maior – ora, jamais poderiam realizar novamente esse estilo de humor em qualquer outro país. Isso causou uma euforia imensa não só por parte dos produtores, mas também pelo público que estava louco querendo saber o que diabos havia de tão pesado no material.
Pouco tempo depois, perto do Natal, a Sony resolveu disponibilizar o filme (no caso, vendê-lo) online em streaming/download, logo este vazou e o boca-a-boca se espalhou. Resultado, hoje ele é o lançamento digital mais lucrativo da história de Hollywood. E mais: a companhia voltou atrás e o longa acabou sendo distribuído em vários país, chegando com mais notoriedade e tendo uma repercussão deveras calorosa.
Mas, enfim, o tal A Entrevista é tudo isso que falam? Será tão agressivo e satírico, politicamente crítico e digno de todo esse bafafá? Para alguns, como as vítimas, sim, para outros, talvez, para a maioria, certamente não. Analisando de forma rasteira, o filme é novamente um apanhado de piadas de Seth Rogen e Cia, recheado de assuntos da cultura pop – quase um pastelão de O Senhor dos Anéis – e detentor de algumas doses de humor negro, algo que o ator, roteirista e diretor canadense geralmente faz, a diferença é que dessa vez mexeram num vespeiro – ou com um povo que gosta de criar caso.
Ao lado do intrépido James Franco – com quem já fez parceria em vários outros títulos como É o Fim (2013), O Besouro Verde (2011), Segurando as Pontas (2008) e Ligeiramente Grávidos (2007) -, Rogen segue o seu habitual caráter, com piadas surrealmente descoladas ou deslocadas, que beiram o ridículo. É daquele tipo de humor ame ou deteste. Parte do público acha as gags do sujeito tão absurdas que se divertem com o jeitão nerd-canastra; a outra parte considera as tiradas absolutamente tolas e enfadonhas, até de mau gosto. Particularmente gosto do comediante, principalmente em seus trabalhos com o cineasta Judd Apatow. Logo, se não vai com a cara dele, aconselho passar longe daqui.
Como produto, é algo que até vale a pena ser conferido, já que, além de toda polêmica, o filme possui momentos interessantes, como uma visão mais séria que traz versões de ambas as partes da realidade social contemporânea; a hipocrisia e falácia dos dois lados em determinadas situações; as inúmeras referencias à obras de várias mídia e andamentos um tanto cômicos envolvendo o zoado Kim Jong-un. O maior problema de A Entrevista é o seu tamanho. Com quase duas horas de duração e enormes barrigas no segundo e terceiro ato, o longa acaba ficando aborrecido e deixando o público impaciente. Mas, enfim, desapontando ou não as expectativas, Seth Rogen deu o que falar com este peculiar trabalho.