Quando nada é o que parece ser. Depois dos elogiados Monsieur & Madame Adelman (2017) e Belle Époque (2019), o ator e cineasta francês Nicolas Bedos volta para trás das câmeras em mais um trabalho pulsante onde as descontroladas emoções de complexos personagens se misturam em conflitos ligados ao desejo, à inveja. Exibido no Festival de Cannes, A Farsa começa em um tribunal após um suposto crime ter sido cometido, por meio de depoimentos vamos conhecendo melhor os integrantes dessa história cheia de reviravoltas.
Na trama, conhecemos Adrien (Pierre Niney), um ex-bailarino, agora gigolô profissional que mora com a ex-atriz Martha (Isabelle Adjani). Certo dia ele encontra um novo sentido na sua limitada vida no amor por uma linda trambiqueira Margot (Marine Vacth). Juntos, o casal planeja os detalhes e execução de um golpe no corretor de imóveis e ex-alcoólatra Simon (François Cluzet) que assumiu o controle total da empresa da família. Mas muitas surpresas vão chegar nesse caminho que traçaram.
O ritmo pulsante e os longos diálogos vão buscando decifrar as personalidades que são expostos em situações de conflitos seja por uma carência no lado amoroso, seja numa inconsequência desenfreada. Os relacionamentos passam por um enorme raio-x, o desejo e a falsidade viram fatores artificiais, as vezes com as mesmas leituras de ambas as partes envolvidas. Elogiando ambições, realizando desejos, as subtramas se embaralham de forma equilibrada levando a narrativa para uma série de plot twists que acabam sendo o grande alicerce do roteiro escrito também por Bedos.
A grande reflexão que o filme consegue gira em torno do encontro cheio de dilemas entre o ócio e a manipulação, uma junção de sentimentos que explora as vaidades, as contra verdades, em cenas profundas onde precisamos deduzir se as mentiras estão em todos os lugares ou não. Para dar vida a tudo isso, um elenco primoroso é a cereja no bolo dessa fita francesa que passou voando pelo circuito exibidor brasileiro e hoje está estacionado no catálogo da prime vídeo.