Ubuntu. Esse termo, que tem ficado cada vez mais em voga nos últimos anos, é uma palavra que provém da filosofia Banto, e significa “eu sou porque nós somos”. Em outras palavras, a coisa toda só acontece se for coletivamente, pois, individualmente é mais difícil e ninguém vence. Talvez esse modo de pensar, de viver seja algo mais recente para muitas pessoas nos centros urbanos, fechadas em seus mundinhos, mas, quando “tudo que nóis tem é nóis”, como diria o rapper Emicida, ou o povo se ajuda, ou ninguém consegue. Essa é a válvula propulsora do emocionante filme ‘A Festa de Léo’, que chega a partir dessa semana nos cinemas brasileiros.
Rita (Cintia Rosa, que vem aí no inédito ‘Querido Mundo’) é uma mulher trabalhadora que no dia de hoje só quer uma coisa: conseguir realizar a festa de aniversário para seu filho, Léo (Arthur Ferreira). Para isso, já deixou reservado e pago o salão do Sergio (Babu Santana, de ‘Tim Maia’) e está no corre de organizar as lembrancinhas e todos os detalhes do evento. Mas, enquanto está subindo e descendo o morro do Vidigal envolta nos preparativos, descobre que Dudu (Jonathan Haagensen, de ‘Cidade de Deus’), pai de Léo, pegara toda a grana da festa. Para piorar, Rita fica sabendo que Dudu está devendo uma grana pesada para o chefe do morro, que mandou dar cabo na vida dele caso a dívida não seja paga. Por causa disso, Rita passará o dia inteiro tentando levantar a quantia necessária para salvar a vida do pai de seu filho.
Depois de levar prêmios no Festival do Rio e no FestIn, em Lisboa, ‘A Festa de Léo’ finalmente chega ao circuito exibidor acima de tudo como uma grande festa, uma grande coroação do projeto Nós do Morro, núcleo de cinema que forma atores e profissionais da indústria na comunidade do Vidigal. Por si só, isso já é uma grande vitória.
Só que ‘A Festa de Léo’ é bom, independentemente dos fatores. É um filme sensível, feito com o olhar de dentro, das milhares de pessoas que moram nas periferias dos centros urbanos e que todo dia é dia de luta, quase nunca um dia de glória – pois, quando se tenta ter um dia de glória, algo (um Dudu) ocorre para mudar o cenário. Quando olhamos o argumento do longa, podemos pensar que o mote facilmente poderia ser um curta – a história de uma mulher que queria dar uma festa pro filho, mas há um desvio na sua rotina por causa das escolhas do marido –, mas, como o próprio longa comprova, quando esse mote de um curta acontece no cotidiano periférico, inúmeros elementos concorrem e ocorrem na vida dos personagens, dando pano para cada dia do cotidiano se transformar num filme, tamanho o desafio de se chegar ao fim e colocar a cabeça tranquila no travesseiro.
Escrito e dirigido por Luciana Bezerra e Gustavo Melo, ‘A Festa de Léo’ faz um recorte que ao mesmo tempo é um panorama de uma realidade comum a muitas pessoas e a muitos territórios, urbanos ou não. Talvez uma história muito mais universal do que as ditas histórias universais, e que é potentemente estrelada pela ótima Cintia Rosa. ‘A Festa de Léo’ é ubuntu nos cinemas.