quarta-feira , 20 novembro , 2024

Crítica | A Flor do Buriti – História e Luta do Povo Krahô Ganha Filme Que Mistura Ficção, Documentário e Fantástico

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Quem são os povos indígenas brasileiros? Quais são suas histórias, suas origens, seus costumes? Quais são as mais de 300 línguas diferentes dos mais de 270 povos originários que neste território habitam em resistência? Embora estejamos em 2024, fato é que este Brasil ainda é muito desconhecido pela maioria dos brasileiros. Felizmente, o cinema tem sido um grande aliado na projeção das vozes desses povos e ferramenta fundamental para levar as histórias originárias para dentro da casa das pessoas. Um bom exemplo é o longa ‘A Flor do Buriti’, que após ser exibido em mais de 100 festivais ao redor do mundo e de ganhar o prêmio de elenco coletivo na mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes ano passado, chega a partir dessa semana ao circuito exibidor nacional.

a flor do buriti 05



Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um violento massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, durante a Ditadura Militar, o Estado Brasileiro incita muitos dos sobreviventes a integrarem uma unidade militar. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô seguem caminhando sobre sua terra sangrada, reinventando diariamente as infinitas formas de resistência e buscando aliar-se com outros povos em prol da luta coletiva indígena a nível nacional.

O principal elemento que o espectador deve prestar a atenção é que a narrativa em um filme indígena (ou mesmo indigenista) não acompanha os padrões lineares comumente vistos em produções ocidentais de grande abrangência. Isto dito, em ‘A Flor do Buriti’ o espectador pode observar três movimentos narrativos. O primeiro deles, construído de maneira quase lúdica, parte de uma história conhecida pelo povo Krahô, sobre quando um boi enfurecido começou a rondar uma aldeia e como crianças desse povo tentaram proteger a aldeia da constante tentativa e invasão por parte de fazendeiros e grileiros da região; a segunda parte faz certa transição entre o lúdico, a ficção e o real, trazendo um olhar sobre as múltiplas campanhas feitas na região Norte do país para recrutar pessoas indígenas (em sua maioria, homens) para compor unidades militares que visavam controlar e abrir estradas por entre o Amazonas; por fim, a narrativa se aproxima do hoje, dentro de um contexto ainda de pandemia, em que as lutas a nível nacional (como o Acampamento Terra Livre, em abril, e a Marcha das Mulheres Indígenas, em setembro) ganharam maior espaço na mídia.

a flor do buriti 06

Para contar essa trajetória do povo Krahô os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza (que realizaram ‘Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos’) ouviram Patpro, Hyjnõ e Ihjãc, que escreveram o roteiro, e juntos encontraram a forma de contar um panorama de múltiplas lutas de quatro aldeias Krahô, mesclando a narrativa tradicional ocidental com a não-linearidade das narrativas indígenas num projeto autoral híbrido, coletivo e pujante.

Os próprios Patpro, Hyjnõ e Ihjãc participam do filme, mas não como atores, e sim como participantes da própria narrativa, conjuntamente com outros adultos e crianças das quatro aldeias. Patpro, aliás, com sua naturalidade e intensidade, demonstra toda a força da mulher indígena em superar as dificuldades para somar à luta, mesmo a contragosto de muitos de sua aldeia.

Belamente fotografado e com cores muito vibrantes, ‘A Flor do Buriti’ é convite à imersão na realidade indígena, com recorte particular no povo Krahô e sua conexão com a natureza.

a flor do buriti 04

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Janda Montenegrohttp://cinepop.com.br
Escritora, autora de 6 livros, roteirista, assistente de direção. Doutora em Literatura Brasileira Indígena UFRJ.

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a flor do buriti 05

Em 1940, duas crianças do povo indígena Krahô encontram na escuridão da floresta um boi perigosamente perto da sua aldeia. Era o prenúncio de um violento massacre, perpetrado pelos fazendeiros da região. Em 1969, durante a Ditadura Militar, o Estado Brasileiro incita muitos dos sobreviventes a integrarem uma unidade militar. Hoje, diante de velhas e novas ameaças, os Krahô seguem caminhando sobre sua terra sangrada, reinventando diariamente as infinitas formas de resistência e buscando aliar-se com outros povos em prol da luta coletiva indígena a nível nacional.

O principal elemento que o espectador deve prestar a atenção é que a narrativa em um filme indígena (ou mesmo indigenista) não acompanha os padrões lineares comumente vistos em produções ocidentais de grande abrangência. Isto dito, em ‘A Flor do Buriti’ o espectador pode observar três movimentos narrativos. O primeiro deles, construído de maneira quase lúdica, parte de uma história conhecida pelo povo Krahô, sobre quando um boi enfurecido começou a rondar uma aldeia e como crianças desse povo tentaram proteger a aldeia da constante tentativa e invasão por parte de fazendeiros e grileiros da região; a segunda parte faz certa transição entre o lúdico, a ficção e o real, trazendo um olhar sobre as múltiplas campanhas feitas na região Norte do país para recrutar pessoas indígenas (em sua maioria, homens) para compor unidades militares que visavam controlar e abrir estradas por entre o Amazonas; por fim, a narrativa se aproxima do hoje, dentro de um contexto ainda de pandemia, em que as lutas a nível nacional (como o Acampamento Terra Livre, em abril, e a Marcha das Mulheres Indígenas, em setembro) ganharam maior espaço na mídia.

a flor do buriti 06

Para contar essa trajetória do povo Krahô os diretores Renée Nader Messora e João Salaviza (que realizaram ‘Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos’) ouviram Patpro, Hyjnõ e Ihjãc, que escreveram o roteiro, e juntos encontraram a forma de contar um panorama de múltiplas lutas de quatro aldeias Krahô, mesclando a narrativa tradicional ocidental com a não-linearidade das narrativas indígenas num projeto autoral híbrido, coletivo e pujante.

Os próprios Patpro, Hyjnõ e Ihjãc participam do filme, mas não como atores, e sim como participantes da própria narrativa, conjuntamente com outros adultos e crianças das quatro aldeias. Patpro, aliás, com sua naturalidade e intensidade, demonstra toda a força da mulher indígena em superar as dificuldades para somar à luta, mesmo a contragosto de muitos de sua aldeia.

Belamente fotografado e com cores muito vibrantes, ‘A Flor do Buriti’ é convite à imersão na realidade indígena, com recorte particular no povo Krahô e sua conexão com a natureza.

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