Em 2018, a franquia ‘Invocação do Mal’ ganhava mais um capítulo em seu expansivo universo com o promissor ‘A Freira’ – que contaria a história de Valak, o demônio que aterrorizou a família de Enfield em ‘Invocação do Mal 2’ e que posou como uma das maiores ameaças enfrentadas pelos Warren. Todavia, o poderoso marketing por trás do longa-metragem posou como um tiro que saiu pela culatra, prometendo entregar a entrada mais aterrorizante da saga e, eventualmente, consagrando-se como uma narrativa frustrante e cansativa que não explorou nem metade do potencial que tinha. Agora, em 2023, somos convidados a revisitar o arco de Valak com o antecipado ‘A Freira 2’, que chegou hoje, 07 de setembro, aos cinemas nacionais.
A trama, ambientada quatro anos depois da anterior, nos apresenta mais uma vez à Irmã Irene (Taissa Farmiga). Depois de ter enfrentado o demônio em um monastério romeno e quase ter perdido a vida, ela agora se isola em um convento, tentando seguir em frente – mas ainda assombrada pela perigosa figura e por seu iminente retorno. Dito e feito, Irene é convocada pelo clero do Vaticano para investigar uma série de estranhas mortes envolvendo membros da Igreja e que, ao que tudo indica, apontam para o escape de Valak de sua prisão eterna após ter possuído o jovem Maurice, também apelidado de Frenchie (Jonas Bloquet). Assim, acompanhada da rebelde Irmã Debra (Storm Reid), Irene cruza a Europa até um internato para meninas francês para impedir que o demônio continue a espalhar o caos – e para que seja mandado de volta para o Inferno de uma vez por todas.
O filme é comandado por Michael Chaves, que já nos ofereceu um gostinho dentro do “InvocaVerso” com ‘A Maldição da Chorona’ e ‘Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio’. Aqui, o diretor se mostra muito mais confiante com o material que tem em mãos e demonstra ter um apreço pela história de forma apaixonante, mesmo que nem todas as investidas funcionem. A princípio, a cena de abertura nos aponta para um mistério de terror que deve ser resolvido por Irene antes que seja tarde demais, mas, conforme o enredo se desenrola, percebemos que algo se esconde por trás das rígidas paredes do internato. Afinal, Valak quer fazer o possível para encontrar uma relíquia sagrada conhecida como Os Olhos de Santa Lúcia, cujos poderes inimagináveis poderiam transformar o demônio em um dos seres mais mortais de todos os tempos.
Chaves sabe como conduzir a história e, através de duas horas, delineia duas tramas distintas que confluem para um ponto em comum, afastando-se de um ritmo degringolado ou de uma montagem exaurível. Todavia, enquanto a estética funciona e nos arranca vários sustos (alguns prezando pela originalidade, como a sequência envolvendo as revistas da banca de jornal ou as rachaduras na parede), o roteiro, assinado a três mãos, não consegue fugir das obviedades de um filme de terror e, por vezes, nos afastam de uma beleza auspiciosa. Em outras palavras, as fórmulas do gênero voltam a tomar forma e se mostram fortes de mais para serem ofuscadas com a chegada do terceiro ato.
Isso não quer dizer o longa seja ruim – pelo contrário, ele se mostra muito melhor que primeiro capítulo. A mitologia por trás de Valak e por trás das visões de Irene são explicadas de forma a limparem as pontas soltas do título predecessor e sem serem jogadas ao acaso; nesse tocante, é notável a força performática de Farmiga, que se afasta da construção comprimida da Irene que conhecíamos para uma mulher que, apesar de ter uma bagagem considerável no oculto, continua a temer uma entidade sedenta por vingança. Não é surpresa que a atriz seja o principal foco da obra e roube a cena em diversos momentos, ainda mais em seu embate final contra Valak. Bonnie Aarons, por sua vez, reprisa seu papel como o demônio e diverte-se ao reencarnar uma das antagonistas mais assustadoras da memória recente.
O restante do elenco também se lança a atuações sólidas, apesar de ficarem em segundo plano. Reid trabalha com o que lhe é dado, também carregando uma backstory desnecessária e que não influencia o andamento da narrativa; Katelyn Rose Downey emerge como Sophie, uma das jovens estudantes do internato que é assombrada por Valak e que tem como principal confidente tanto Maurice quanto a mãe, Kate (Anna Popplewell). E Bloquet, por sua vez, transmuta-se cena após cena, nos auxiliando a acompanhar esse intrincado microcosmos. Todavia, o elemento de maior bonança é, ironicamente, a visceral violência que Chaves imprime no filme, deixando bem claro que ninguém está a salvo e que todos podem morrer a qualquer momento.
‘A Freira 2’ restabelece nosso interesse pelo universo ‘Invocação do Mal’ e representa uma melhora considerável em relação ao capítulo anterior, mesmo carregado de lugares-comuns e de resoluções ocasionais. Isso não significa que não possamos nos divertir com essa sobrenatural e arrepiante aventura – finalizando um capítulo adorado da franquia à medida que caminhamos para um futuro que tem muito a nos contar.